O Banco Central anunciou um aumento dos juros no país pela sexta vez seguida, mas este esforço não tem sido suficiente impedir que a inflação siga crescendo: o mês de abril fechou com uma variação anual dos preços de 8,16%, a mais alta desde 2005. Para piorar, as previsões dos economistas do mercado  indicam que a tendência não deve mudar e a inflação continuará subindo. Mas por que a inflação não está cedendo, se o governo tenta combatê-la com o aumento de juros?

Os problemas das altas da Selic são muitos: juros elevados aumentam o custo das dívidas (inclusive do Estado), fazendo com que o lucro de bancos cresça ao mesmo tempo que o consumo e o investimento são deprimidos, gerando desemprego. No entanto, mesmo com tais amarguras, a taxa de juros nominal não parece estar conseguindo combater a inflação, pelo menos recentemente, como mostra o Gráfico 1 abaixo. O que estaria por trás dessa resistência na inflação? Seriam os juros ineficazes para combatê-la? Estaríamos incorrendo em um custo desnecessário para algo que não tem efeito sobre o aumento de preços?

Fonte: IBGE e Banco Central

O Gráfico 1 mostra que, pelo menos nos últimos três anos do primeiro mandato do Governo Dilma, a inflação acumulada oscilou entre 5 e 7%, passando de 8% a partir de Março de 2015. Os juros, no entanto, tiveram trajetória decrescente a partir de 2012, mesmo com o aumento da inflação a partir de junho daquele ano. A Taxa Selic chegaria à sua mínima histórica, de 7,25%, entre o final de 2012 e o início de 2013, só começando a responder ao aumento da inflação a partir de Abril de 2013, quando a elevação acumudada de preços passou do teto da meta de 6,5%. Nossa inflação nunca voltou a ficar menor do que 5,5%, e. a partir de 2014. começou novamente a se acelerar cada vez mais. No entanto, coincidentemente próximo ao calendário eleitoral, o Banco Central decide manter a taxa Selic no patamar de 11%, deixando-a no mesmo lugar por cerca de seis meses. E, mais uma vez por coincidência, começa então a elevar continuamente sua taxa no dia 30 de Outubro (após as eleições), sem conseguir, porém, evitar a escalada inflacionária a partir de Janeiro de 2015.

O que se pôde perceber da trajetória dos juros e da inflação, mostrada no Gráfico 1, foi que o Banco Central começou a responder erraticamente à inflação a partir de 2012. Com isso, os agentes parecem ter progressivamente perdido a confiança no compremetimento da instituição em manter a variação dos preços dentro da meta, entre 2,5 e 6,5%. Com isso, acabaram por elevar suas expectativas inflaciononárias, causando o que se chama de inflação inercial, que ocorre quando os empresários, esperando inflação no futuro, aumentam seus preços para manter suas margens. Tal inércia reduz consideravelmente a sensiblidade da inflação aos juros, tendo o Banco Central que aumentá-los sensivelmente para recuperar a confiança dos agentes.

Será, no entanto, que é apenas uma suposta inércia inflacionária que impede a Taxa de Selic de controlar o aumento de preços? De fato não, e pode se ver isso claramente a partir de uma decomposição do aumento de preços, olhando para cada setor atentamente. O IBGE, por convenção, divide o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) em 9 grupos. Olhando para cada um deles, é possível ver que, em pelo menos sete há uma estabilidade ou mesmo uma queda da inflação nos últimos 12 meses! É o que mostram os Gráficos 2 e 3, separando entre os grupos com estabilidade e os grupos de queda:

Fonte: IBGE

Fonte: IBGE

Quais seriam os dois setores então a puxar tão fortemente a inflação cima a partir de 2015? Espera-se que poucos se surpreendam com o fato que o aumento de preços se deu mais fortemente mesmo entre as contas de Habitação e Transportes, como mostra o Gráfico 4. Surpreendenemente, apenas o grupo de Habitação, que inclui, é claro, a conta de luz, aumentou sozinho de 8,8% em dezembro de 2014 para 17% em abril de 2015, praticamente o dobro em quatro meses!

Fonte: IBGE

Quais preços estariam no grupo de Habitação e Transporte para uma escalada tão impressionante? Há poucas dúvidas de que tivemos um altíssimo aumento da conta de luz e do preço da gasolina, a influenciar drásticamente esses dois grupos. De fato, o subgrupo energia do grupo Habitação chegou a uma inflação de 44% em Marços! Já os subgrupos Transporte Público e Combustíveis para Veículos, ainda que em nível bem menor, alcançaram respectivamente aumentos de preço de 12,5% e 10,2% em Fevereiro, patamares extremamente altos. Nota-se, é claro, que todos esses são preços administrados, ou seja, controlados pelo Governo.

Nota-se também que, apesar das secas e do alto preço do Petróleo no primeiro semestre de 2014, não tivemos praticamente nenhuma alta inflacionária desses subgrupos no ano passado. No subgrupo de Energia, de Habitação, pelo contrário, tivemos deflação, apesar das imensas dificuldades pelas quais as empresas de energia passavam na época, como você pode ver aqui: http://oglobo.globo.com/economia/miriam/posts/2014/07/19/segundo-socorro-543156.asp

Tudo, no entanto, já passou, e cada vez menos avista-se o risco de racionamento energia, além de o preço do barril do petróleo ter se reduzido de quase 90 dólares para menos de 60, uma redução de 33% em poucos meses. Ainda assim, nossos preços administrados – e, portanto, controlados de alguma forma pelo Governo – estão puxando nossa inflação para cima. Não é muito difícil, portanto, concluir que a razão pela qual a escalada inflacionária de 2015 não estar sendo impedida pelo aumento dos juros do Banco Central é extremamente simples: as eleições de 2014.

 

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