Era difícil ser pessimista nos idos de 2009.
Logo após a crise que destroçava as economias mais ricas do mundo, as notícias não poderiam ser melhores para o Brasil. À época, André Singer – professor respeitado na academia brasileira e ex-ocupante de cargos de chefia na USP, no PT, no governo Lula e na Folha de São Paulo – escreveu um longo ensaio na revista piauí, prevendo um futuro glorioso para o governo Dilma.
Em “O Lulismo e seu futuro”, Singer compara o seu ex-chefe ao presidente americano Franklin Delano Roosevelt, atribuindo a Lula a responsabilidade por criar no Brasil uma “atmosfera imaginária” análoga à dos Estados Unidos no pós-guerra. Nossa rota era comparada à de quem se consolidou como grande potência econômica e cultural do mundo. O futuro era brasileiro.
Após alguns anos de redução drástica da miséria no Brasil, Singer acreditava que o lulismo poderia fazer com que o país decolasse em velocidade recorde rumo ao desenvolvimento.
A previsão tinha cronologia clara. Embora o governo Lula representasse um “projeto popular”, o período histórico do “lulismo” começara sob certo apego ao “receituário neoliberal”. A fase passageira que parecia acabar lentamente, conforme duas lideranças ganhavam espaço no centro de decisões do governo. A primeira era Guido Mantega, “[cuja] chegada ao centro das decisões econômicas [faria com que] o lado popular do projeto de Lula, que ficara em desvantagem na primeira fase, [ganhasse] mais peso”. A segunda era Dilma Rousseff, a sucessora, que traria – dentre outras propostas – “o reforço do papel do Estado na economia”.