Por Pedro Menezes

 

Se eu encontrasse diariamente milhares de mulheres mais belas que a Evan Rachel Wood, eu jamais escreveria um texto citando Evan Rachel Wood como arquétipo de beleza.

Se todos os músicos populares fossem tão geniais quanto um Bob Dylan, você nem saberia o nome de Bob Dylan.

Se todos os computadores fossem tão funcionais e bem desenhados quanto um Macbook algumacoisa, a Apple faliria amanhã.

Se todo mundo conhecesse um barbudo que se diz filho de Deus, multiplica pães, anda sobre o mar e transforma água em vinho, ninguém construiria a civilização ocidental sob os ensinamentos desse sujeito.

Por favor, não percam tempo explicando que a beleza de uma mulher é subjetiva, que Bob Dylan é um fanho superestimado, que esses tais Macbooks nem são bons assim (eu nem sei, nunca tive um) ou que no vão do Masp existem uns dez barbudos que juram fazer tudo o que esse tal Jesus fazia. Mas atentem à regra que descrevo e reparem em como ela pode ser aplicada a praticamente tudo: Se uma coisa se torna mais abundante sem perder a sua qualidade, ela imediatamente passará a ser menos valorizada.

Não se aborreçam com a repetição, mas sigo: Se a produção de batatas aumenta, batatas serão menos valorizadas e, obviamente, ficarão mais baratas. Se o governo da Venezuela imprime dinheiro em escala industrial e tudo o mais permanece igual, o valor do dinheiro será menor quando comparado ao valor das batatas, do Macbook e dos discos de Bob Dylan. Imprima dinheiro e o resultado é simples: inflação de preços. Confesso ao leitor que sinto vergonha por ter gasto 260 palavras explicando essa obviedade. Há algumas décadas, o economista Milton Friedman escarafunchou esse fenômeno e ganhou um Nobel por isso – e por outras coisas mais. É algo tão simples que, em 260 palavras, até uma criança de dez anos consegue entender. E é uma pena que a presidência da Venezuela não seja ocupada por uma criança de dez anos.

Como não se fazem revoluções bolivarianas sem promessas megalomaníacas, a equipe econômica da Venezuela deu a ordem necessária para financiar tudo o que prometeu: “Imprimam dinheiro!”. Desesperado com a subida dos preços, o presidente deu a ordem: “Prendam os comerciantes! Se aumentaram os preços, é porque são gananciosos!”. Com o caos instaurado e prateleiras vazias, o Congresso decretou: “Todo poder ao presidente! Ele vai resolver o nosso problema!”. Eis uma solução brilhante. Agora, todos os preços da economia venezuelana dependem da sensatez de um homem que conversa com pássaros.

Assim, a inflação venezuelana chegou ao patamar de 50% ao ano. O que custava 2, agora custa 3 e a tendência é que os números piorem. E não é só pelos cem centavos. A parcela mais rica e bem educada da população tem acesso ao sistema bancário, pode proteger a sua renda e até lucrar alguns trocados com toda essa confusão. Aos mais pobres, supostamente defendidos pela república chavista, resta a esperança de que o seu parco salário dure até o fim do mês sem que sequer saibam qual será o preço do papel higiênico neste longo prazo de trinta dias. Aos pobres que querem deixar de ser pobres, sobram pouquíssimas alternativas. Afinal, quem vai empreender com pouco dinheiro no bolso e nenhuma certeza sobre o futuro?

Existem, na ciência econômica, algumas regras universais, imutáveis, tão válidas quanto a lei da gravidade. Não, eu não estou dizendo que a economia é uma ciência exata ou que a imparcialidade de um economista pode ser comparada a de um químico ou físico – afinal, todo economista é um agente econômico em suas horas vagas, mas nem todo químico é uma molécula de urânio. Mas digo, como também dizem alguns sujeitos muito mais inteligentes e estudiosos do que eu, que a análise econômica está submetida a princípios universais, que não dependem da minha ou da sua opinião, mas do modo como as coisas funcionam na realidade. Um desses princípios é o que expliquei não tão brevemente no início desse texto. Ele deriva de outro princípio, o da escassez, que basicamente reconhece o fato de nenhum bem ou serviço existir em quantidade infinita. Quando explicadas com clareza, essas regras se mostram óbvias a qualquer ouvinte e os debates sobre economia política  podem, enfim, passar da página 2.

Thomas Sowell, um desses sujeitos inteligentes e estudiosos que citei acima, costuma dizer que a primeira lei da economia é a escassez; e a primeira lei da política é esquecer da primeira lei da economia. Em meio a projetos políticos revolucionários, em discursos longos e pomposos, o presidente venezuelano ignora a realidade e o raciocínio lógico. Em nome de projetos políticos revolucionários, o povo venezuelano paga a conta. Por ora, a Venezuela precisa mesmo é de um moleque de dez anos no seu Ministério da Fazenda. De um que saia da quinta série, aprenda sobre o assunto por umas duas horas e assuma o cargo em seguida. Sem tempo para mudar o mundo, sem tempo para projetos de revolução bolivariana. Depois a gente discute essa coisa de trabalho infantil, mas vamos começar com o que é prioridade. Alguém aí tem uma sugestão melhor? Por mim, a gente coloca o infanto na frente de um pássaro e se depois de meia hora não sair conversa, o cargo é dele.

PS – E agora, se não nos resta nem o pneumotórax e nem um tango argentino, fiquemos com o samba dos Acadêmicos de Milton Friedman:

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=4cOTMKd8WQg[/youtube]

 

Pedro Menezes é editor deste site e um dos co-fundadores da rede Estudantes pela Liberdade no Brasil. Nascido na Bahia e radicado em São Paulo, ele diz que se interessa por teoria política, história, economia e cinema, mas gasta o tempo livre se entretendo com literatura de qualidade duvidosa e torcendo pro Vasco, o que lhe faz achar o bigode do Valdir muito mais legal que o do Nicolás. Ele havia engavetado este texto desde as prisões de lojistas em novembro, mas resolveu publica-lo depois das últimas estripulias bolivarianas.

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