A inesperada vitória de Donald Trump tem causado agitação entre os intelectuais norte-americanos, com cada um tentando prever as consequências do resultado eleitoral obtido. Nesse cenário, visando contribuir para o debate, formadores de opinião devem focar nas razões que levaram Trump a se eleger. Alguns fama em revolta da classe-média americana, da saturação do politicamente correto, mas acreditamos que um grande ingrediente desse debate é a ascensão do populismo nos Estados Unidos.

É digno de nota que características populistas não são exclusivas dessa eleição presidencial – tampouco as são do pleito americano -,  embora elas tenham sido agressivamente manifestadas na campanha do republicano. Muito pelo contrário, uma série de distorções no papel do Estado ao longo de décadas pavimentou o caminho para o populismo norte-americano. Essa perversa metodologia, portanto, não começou com o presidente eleito, mas foi um resultado de mudanças constitucionais contínuas movidas pelo establishment político.

Após os programas intervencionistas de Franklin Roosevelt entre 1933 e 1937, conhecidos como New Deal, o papel do governo continuou aumentando sem grande oposição. A constituição norte-americana e os seus freios aos Três Poderes foi frequentemente distorcida ou meramente ignorada. Como resultado, por exemplo, o poder Executivo agora tem maior capacidade de intervir na vida de milhões de indivíduos.

Donald Trump emergiu desse ambiente favorável para o populismo. A sociedade estava justificavelmente insatisfeita com o resultado das políticas públicas – que frequentemente favorecem grupos de pressão e criam cronismo sistêmico, onde a burocracia e a lentidão dos processos imperam. A prática de subsídios, a de salvar grandes empresas e a isenção de impostos focalizada em grupos de interesses são exemplos desse ressentimento. Logo, os cidadãos vislumbraram a campanha de um radical e demagogo – Trump – como uma solução para o capitalismo de laços. Todavia, mudanças artificiais – realizadas de uma maneira rápida e impaciente – não são a resposta para um país mais próspero.   

O populismo é uma tendência nos países da América Latina. Suas origens vêm do século XIX, quando líderes locais se beneficiaram dos processos de independência dos seus países e impuseram regimes autoritários por meio do poder militar, político e econômico que possuíam. Eles são conhecidos como caudillos e tiveram um papel substancial  na formação das sociedades latino americanas e seus respectivos traços culturais.

Portanto, norte-americanos não precisam reinventar a roda para ver quais medidas são necessárias para evitar as mazelas do populismo e superar problemas crônicos. Ao invés disso, eles podem aprender com os seus vizinhos sul-americanos e verificarem as consequências de ideias populistas severas e como elas são difíceis de superar quando implementadas. Alguns, por exemplo, ainda estão sofrendo duramente com elas, como a Venezuela e o regime autoritário de Maduro, que está basicamente destruindo a economia nacional e atacando direitos individuais fundamentais.

Felizmente, outros países estão movendo em direções contrárias ao populismo. Isso significa que boas lições podem ser aprendidas com os vizinhos sulistas e os seus grandes esforços para superar o populismo. Por exemplo, o Brasil com o impeachment da presidente Dilma, cuja ruína foi sua irresponsabilidade fiscal e política elitista; a Argentina que recentemente deixou para trás a corrupta e conturbada administração dos Kirchners; e o bloco econômico liderado pelo Chile, a Aliança do Pacífico, que continua atingindo os seus objetivos em conjunto com uma dinâmica de mercado global.  

Tais exemplos recentes resultam de um crescente ceticismo das sociedades sul-americanas em relação aos chamados “heróis da nação”. Ao invés de sustentar líderes políticos com promessas messiânicas, indivíduos começaram a perceber que princípios constitucionais sólidos, instituições fortes e a economia de mercado são essenciais para o desenvolvimento de uma sociedade mais próspera e justa. Por outro lado, a população dos Estados Unidos elegeu um indivíduo com tendências e características retrógradas, com posições não apenas controversas, mas sem lastro em estudos e asserções isolacionistas, com enorme desprezo por liberdades civis.

Em relação a esse fator político, o primeiro passo para diminui-lo é a necessária ciência da sociedade de que populismo e os seus preceitos são diametralmente opostos às fundações da república norte-americana – um conjunto de elementos únicos que diferenciam os Estados Unidos do resto dos países ocidentais. Em geral, o caminho é simples: restabelecer a importância de preceitos como governo limitado, direitos individuais e livre mercado. Então será possível recriar um cenário de liberdade e prosperidade idealizado pelos “Founding Fathers” americanos.

Além disso, as experiências de outros países sob o jugo do populismo devem ser revisadas – no intuito de ver quais erros foram cometidos e os resultados do poder concentrado nas mãos de um só indivíduo. Como resultado, a sociedade estará ciente a quais atos políticos ela deve se opor para evitar infortúnios da arbitrariedade estatal.

Felizmente, a América do Sul está gradualmente se livrando do populismo e mostrando para o mundo como indivíduos livres, e não falsos “heróis da nação”, podem atingir uma realidade melhor para a sociedade. Cabe aos Estados Unidos tirarem isso como exemplo, enquanto há tempo. 

Compartilhar