Engana-se quem pensa que a ditadura militar não contou com forte aprovação do povo brasileiro. Em 1970, ocorreram eleições diretas para dois terços das cadeiras no Senado. A ARENA, partido da ditadura, só perdeu cadeiras em 2 estados. Um deles foi São Paulo.

Na prática, a ditadura não acabou em 1985, mas depois das eleições de 1974. Ali acabou o período mais repressor do regime e começou uma lenta abertura política, já que a ARENA perdeu em quase todos os estados do Brasil. Venceu apenas seis, todos no Nordeste – entre eles a minha Bahia, terra onde nasci, cujos eleitores infelizmente costumam votar no candidato do poder, não importa quem o ocupe no momento. A manifestação mais emblemática foi em São Paulo: no Senado, 75% dos votos foram para a oposição aos militares. Uma lavada.

Talvez a ditadura acabasse antes se o resultado da eleição de 1978 fosse diferente. Se você leu os dois parágrafos anteriores, aposto que consegue adivinhar o resultado: a maioria dos estados elegeu senadores da ARENA, com exceção de uma meia dúzia que incluía São Paulo (e a Paraíba, único do Nordeste a votar na oposição).

Hoje, dia 9 de julho, comemora-se o aniversário de um dos episódios mais importantes da história do Brasil: a insurgência de São Paulo contra Getúlio Vargas, um escroque da pior espécie que também comandou uma ditadura por aqui. Triste é saber que professores de história (e outros suspeitos habituais) insistem em não ensinar o que aconteceu em 9 de julho de 1932, ou em distorcer tudo com artifícios retóricos cretinos.

No colégio, aprendi que a insurgência paulista foi “irrelevante” (embora tenha sido maior conflito militar do Brasil no século XX) e “restrito às elites” (ignorando os centenas de milhares foram voluntários ou que alguns dos famosos MMDC passavam longe da nobreza). Por três meses, os paulistas tentaram se livrar de Vargas na base da força, mas não conseguiram. Tiveram que esperar duas décadas até que o próprio Vargas tomasse a melhor decisão de sua carreira política.

No início do século XX, São Paulo tornou-se a capital extra-oficial do Brasil. Desde então, entre os outros estados da federação, a fama dos paulistas não é das melhores. Não foram poucos os políticos autoritários que desprezaram publicamente o estado e acusaram os paulistas de serem egoístas e elitistas.

Na lista de acusadores, encontramos Getúlio Vargas e os militares, que outrora disseram representar a vanguarda que levaria o Brasil a um futuro glorioso. Enquanto isso, São Paulo seguiu sozinha na oposição, em contraste ao apoio maciço recebido em regiões como o Nordeste onde nasci.

A história do Brasil seria menos feia se outros brasileiros ouvissem mais o que os paulistas têm a dizer. Getúlio passou, os militares também, mas os políticos autoritários não sumiram, e o discurso antipaulista segue vivo na política brasileira. Por isso, precisamos conversar a sério sobre o que aconteceu no dia 9 de julho de 1932.

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