Por Cory Massimino, para o blog do Students for Liberty

Traduzido por Pedro Menezes

Em recente artigo para a Freeman, o eterno otimista e entusiasta de gravatas-borboletas, Jeffrey Tucker, fez a distinção entre o que ele chamou de “liberal humanista” e “liberal brutalista”. O primeiro adota uma linha progressista, ressaltando a tolerância, cooperação social e o florescimento da diversidade humana; o segundo tem uma visão mais crua e reducionista do liberalismo, com poucas preocupações de apelo coletivo. Julgo que o liberal humanista seja preferível não apenas por razões políticas e estratégicas, mas também porque ele é filosoficamente mais coerente do que o brutalista.

Tucker define o liberal humanista da seguinte forma: “Os fins dele são essencialmente benevolentes, e os meios pelos quais eles são alcançados valorizam sempre a paz social, a livre associação, as trocas voluntárias, o desenvolvimento orgânico das instituições e a beleza da vida em si.”

O liberal brutalista, por sua vez,“toma a teoria (liberal) em suas partes mais cruas (nota: Tucker se refere ao princípio de não agressão), aplicando-as em toda e qualquer situação. Ele testa suas ideias até o limite, retirando delas seu refinamento, sua graça, decência e complexidade. Ele pouco se importa com objetivos mais abrangentes como a civilidade, nem mesmo com a beleza dos seus resultados.”

A melhor forma de expandir as ideias da liberdade para o liberal humanista incluem o apelo a valores sociais comuns, como igualdade, tolerância e a preocupação com aqueles desproporcionalmente oprimidos por instituições vigentes, sejam elas estatais ou não-estatais. A abordagem brutalista difunde a liberdade em outra direção.

De acordo com Tucker, “O brutalista reafirma o direito de ser racista ou misógino, o direito de odiar judeus e estrangeiros, de ignorar padrões civis de interação social, o direito de ser rude, cruel e pouco civilizado.” Este tipo de abordagem está enraizado na ampla defesa liberal do direito individual de propriedade. Se indivíduos tem o desejo de serem babacas e rudes, ou de discriminar minorias em suas empresas, eles tem todo o direito de fazê-los. Mas isso não significa que estas atitudes sejam consideradas como corretas ou como expressões legítimas do liberalismo.

Se muitas das diferenças entre os dois tipos se relacionam com o tom de cada um e a linguagem utilizada por eles, a essência delas está em visões distintas sobre o que é o liberalismo. A visão humanista do liberalismo é conceitualmente diferente da brutalista.

A distinção de Tucker invoca ideias exploradas num artigo de Charles Johnson, onde ele discorre sobre o “liberalismo raso”, em oposição ao “liberalismo profundo” (livre tradução de “thick” and “thin”). Existem graus diversos de “profundidade”; em resumo, os “liberais profundos” (thick libertarians) valorizam causas e objetivos como o combate ao racismo e machismo; aceitação social de LGBTs, a organização sindical voluntária e o ambientalismo; preocupações com grandes e injustas diferenças de renda, além da opressão hierárquica em corporações. Da mesma forma, o “liberal raso” considera as ideias liberais apenas em seu núcleo central: o direito de propriedade e o princípio da não-agressão. Ele não compartilha de preocupações por problemas culturais, ou não considera que estes tenham algo a ver com o liberalismo.

Liberais brutalistas e rasos em geral enxergam tudo o que é voluntário como eticamente justificável. Para ele, o empresário que queira discriminar gays em sua empresa deve fazê-lo, pois impedi-lo de concretizar sua intenção homofóbica seria caracterizado como agressão. Mas a ausência de agressão não é a única preocupação dos “liberais profundos”. Ao recusar atendimento a alguém por conta de sua natureza, o empresário homofóbico está fazendo algo errado, ainda que voluntário. Os liberais profundos e humanistas reconhecem isto.

Isso nos leva a outras conclusões sobre quais posturas são socialmente aceitáveis e quais não são, indo além da discussão sobre proibições e permissões estatais. Em seu artigo, Johnson escreve: “Consideremos as justificativas conceituais da rejeição liberal ao autoritarismo, não apenas aquelas que são reforçadas pelo Estado, mas também as que se encontram expressas na cultura, nos negócios, nas famílias e na sociedade civil. Sistemas sociais baseados no status e na autoridade se caracterizam não apenas pelo poder coercivo do governo, mas também por um conjunto de ideias, práticas e instituições que auxiliam a deferência às autoridades tradicionalmente constituídas.”

O brutalista, ou liberal raso, ao se preocupar apenas com problemas sociais criados pelo Estado, distorce o liberalismo até transforma-lo numa espécie de proprietarianismo. O liberalismo se opõe à tirania, seja ela originada ou não no estado. Ele se volta à igualdade de autoridade, e não apenas entre o político e o cidadão comum, mas também entre o empregado e o empregador, o empresário e o cliente, marido e mulher, etc. Ele se preocupa com o respeito não apenas dos direitos de proprietários, mas de todos os membros da sociedade, sem se importar com o sexo, cor, religião ou preferência sexual.

Johnson segue explicando, “Se ninguém deve ser forçado pelo poder político a tratar seus semelhantes respeitosamente, , liberais certamente podem – e devem – criticar aqueles que não o fazem, e incentivar nossos iguais a não confiarem em instituições sociais autoritárias, pelas mesmas razões que nos fazem defender os princípios da liberdade.” Liberais devem empregar métodos não-violentos para combater o autoritarismo, seja ele estatal ou não-estatal.

Tucker e Johnson reconhecem a necessidade de ampliar o escopo do nosso movimento; por razões estratégicas e em nome da consistência. Isso não implica em dizer que liberais devem diminuir seu foco no poder estatal ou nas injustiças gritantes criadas por ele. O Estado ainda é a mais destrutiva das instituições e nós não podemos jamais abandonar nosso anti-estatismo marcante. Por outro lado, o liberalismo não é – e nem deve ser – limitado a isto. Nosso compromisso com a igualdade, com a tolerância e o anti-autoritarismo é que nos faz também combater injustiças não-estatais. É este compromisso que nos faz humanistas.

 

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