Por Laura Lira

[dropcaps]D[/dropcaps]arwinismo social é a teoria segundo a qual os fortes e abastados devem ascender em detrimento daqueles que foram apunhalados pelo destino, que prega “a sobrevivência dos mais aptos” e justifica as desigualdades sociais por uma ótica eugênica – para alguns, tese cruel e verdadeira. Certo? Errado.

Ao contrário do que se diz, a filosofia desenvolvida por Herbert Spencer é muito mais humanitária e sensata do que as diatribes travestidas de realidade intangível que o creditam. Autor da famosa frase que diz que se os indivíduos “são suficientemente completos para viver, eles vivem, e é bom que vivam. Se não são suficientemente completos para viver, eles morrem, e é melhor que morram”, não imaginaria que a continuação desre pensamento seria esquecida com tamanha facilidade: “É claro que a severidade desse processo foi mitigada pela simpatia espontânea dos homens uns pelos outros, e é adequado que ela fosse mitigada.”

Por falar na sensatez desse filósofo, é seu antônimo o que parece estar em voga entre grupos pretensamente justos que elogiam a punição do adolescente de 15 anos acusado de roubos amarrado, nu, a um poste e espancado por vários homens. Justiça e sua habitual plurissignificação.

O ponto é que todo esse festejo em torno da mais pura barbárie esconde o velho pensamento de que “bandido bom é bandido morto”, perpetuando a lógica esquizofrênica do darwinismo social às avessas. O ciclo revanchista apenas fomenta o crescimento da violência. Pesquisas que relacionam índices reincidência criminal às condições dos reformatórios são prova fiel disso: quando, normalmente, 70% dos presidiários voltam a praticar crimes depois de ganhar a liberdade, apenas 5% dos menores infratores o fazem em São José dos Pinhais. Não por acaso, a Secretaria da Criança e da Juventude do Governo do Paraná ganhou, em 2008, o Prêmio Sócio-Educando por ir na contramão do ambiente inóspito dos reformatórios brasileiros, disponibilizando um atendimento especial de psicólogos e assistentes sociais aos jovens e às famílias deles.

No dia 31 de janeiro, trinta homens foram o purgatório e o inferno de um órfão. O que a imagem do acontecimento sugere sem pudor é que não houve justiceiros nessa história, mas demônios decretando uma sentença que se julga divina. O conhecido Lúcifer com ares de Deus. No mundo desses que usurparam o termo “justiceiro”, bravura significa prender ao tronco moderno, pelo pescoço, um menino sob suspeita de cometer ilicitudes. Um dentre os milhares existentes com o mesmo perfil. A pergunta que lateja é se o problema todo se resume ao feitio ruim deste.

A semelhança desse ato com punições de regimes totalitários não é mera coincidência. Quando o justo abandona a análise crítica para ceder a irascibilidades de Leviatã, ele supera a involução de um réu anêmico, promovendo uma série de derrotas. E a maior delas é a que enterra sua própria legitimidade. “Quem com ferro fere, com ferro será ferido.”

Referências:

laura

Laura Lira é pernambucana, estudante de saneamento ambiental, vegana e nutre interesses por política, libertação  animal e literatura regionalista.

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