Contra a infantilização do libertarianismo

Alguns indivíduos que criticam marxistas, keynesianos e liberais clássicos, atribuem a alcunha de ideólogos aqueles que não se preocupam com a verdade. Em parte, estão certos.  Existem pessoas que, de tão preocupadas apenas com ideologias, esquecem da busca pela verdade. Distanciam-se da realidade e começam a querer encaixar o mundo na sua própria ótica. O porém é: Esses indivíduos são conhecidos como “libertários de internet” e são tão ideólogos – utópicos – quanto aqueles a quem tecem críticas.

Esses “libertários de internet” são pessoas que alcunham a esfera política acima de outros princípios que a filosofia política do libertarianismo traz. Os “liberteens” – como gosto de chamar os“libertários da internet” são os que dizem: “- Não vale à pena perder tempo lendo outras coisas. Leia o blog do Instituto Mises Brasil, e você será formado em economia, ciências sociais, direito e filosofia.”…  Lêem – quando lêem – apenas os livros libertários. Fecham-se para qualquer outra ideia e qualquer outra perspectiva de um problema.

Não bastasse isso, muitos esquecem a antropologia, a axiologia e outros campos importantes porque, ao que parece, a verdade não importa. O que importa é se “fere ou não o PNA”. Esquecem das consequências que a liberdade traz. Esquecem da humanidade e se perdem em uma mente revolucionária multiplicada por menos 1.

Quando alguém esquece da busca pela verdade, começa a se deparar com debates como “Retardado tem direitos?”; “Venda de bebês é belo e moral?”; “Crianças não possuem direitos? ”…  São tamanhas as sandices e tantos os pensamentos infrutíferos que, não raro, chegam a ser pior que a “mentalidade revolucionária” da esquerda progressista.

Quando alguém se perde em meio a teorias e ideais, até a revolta armada surge como opção para que seja alcançado o fim tão almejado, a “liberdade”, o “ancapismo”…  e, assim, todo mundo, automaticamente, seria livre…  Esquecem das possibilidades do mundo real e da complexidade da sociedade, de como ela reagiria – e já reagiu – a um extermínio em massa ou a uma guerra – civil ou de proporções mundiais.

Parece que o liberteen ultrapassa o limite da realidade e envereda pelo mundo da fantasia – esquece as consequências das escolhas. A sociedade é complexa, e os liberteens se esquecem da cultura, da antropologia, da axiologia para focar apenas na “bíblia de Rothbard”.

Esquecem da capacidade do ser humano de ser perverso ou de ser altruísta. É preciso ter em mente que liberdade implica em responsabilidade. Acontece que muitos defendem uma anarquia que não corresponde com a liberdade ou com as ideias de livre mercado. Anarquia é a ausência de arqué, isto é, a ausência de regras. Esquecem do pequeno detalhe de que todos os escritores austríacos são à favor deleis privadas, de que o libertarianismo é contra regras impostas por um monopólio da força , não contra regras privadas ou leis privadas.

A ideia de “pegar as armas e matar todos os políticos porque eles são agressores e devem ser mortos”… Sim. São agressores. Mas esqueceram do senso de proporção, com o qual até mesmo Rothbard concordava.

Esquecem de todo o período histórico pelo qual alguns autores austríacos passaram – aqui, friso Hayek -,  e balbuciam que ele é “um socialista” e que “não deve ser lido”, “é perda de tempo”, etc. Esquecem do período em que vários dos grandes teóricos austríacos viveram… das guerras, das ideias contemporâneas da época que vivenciaram. Hayek foi um gênio. E, não, não sou minarquista, para os apressados.

Por fim, esquecem que outras correntes filosóficas e ideias diversas podem acrescentar ao meio austríaco. Fecham-se na redoma da ideologia e ignoram qualquer outra ideia que não contemple seus ideais à risca.

P.s: Eu fiz tudo isso, é hora de amadurecer.