Quem disse que assistir a um filme no Netflix ou um episódio do BBB é menos importante do que procurar saber o que se passa no Congresso Nacional? Quando observamos a conjuntura atual, é difícil fugir à conclusão: não dar bola para a política é, na maior parte das vezes, uma atitude racional e perfeitamente justificável.

Por Monica Lucas e Matthew La Corte, com tradução de Pedro Menezes

 

Se você já passou algum tempo conversando sobre política, certamente já ouviu o clássico diálogo da mesa de bar sobre aquelas pessoas horríveis que não se informam sobre o assunto. Você sabe, falo daqueles que se importam mais com a última notícia sobre a vida dos Kardashians do que com os discursos do presidente. E a verdade é que os leitores deste blog provavelmente são considerados nerds da política, pessoas cheias de orgulho por suas opiniões. O interesse por atualidades facilita a crítica a nossos amigos e familiares que investem mais tempo em fofocas sobre celebridades, na nova série do Netflix e no jogo do último fim de semana, ao invés de acompanharem o empolgante debate do Congresso Nacional. Mas a ignorância política é completamente justificável, e até mesmo preferível.

É fácil fazer piadas com aqueles que não se interessam em compreender com profundidade assuntos como a política monetária do governo, a Guerra do Iraque ou a sustentabilidade do INSS. Mas gostaríamos de argumentar que há beleza nesta ignorância e que ela não deve ser vista com um ar de superioridade. A verdade é que a ignorância política deveria ser encorajada, se levássemos a sério uma simples análise de custo/benefício e a insignificância da opinião pública na tomada de decisão dos políticos.

Trabalhos introdutórios da chamada Escola de Escolha Pública demonstram que o custo de se manter informado sobre política é absurdamente alto, enquanto o impacto potencial do conhecimento adquirido é incrivelmente baixo. O cidadão médio tem dificuldades em apontar o seu congressista. Ele pode até conhecer uma causa ou ideia defendida por políticos de renome nacional, mas dificilmente seria capaz de analisar o seu histórico no congresso ou sua plataforma de atuação. Além disso, o cidadão médio muitas vezes desconhece fatos simples sobre as instituições políticas, como a duração de cada mandato e o conteúdo da constituição. Ele não faz isso por ser um idiota, mas simplesmente por saber que, mesmo que ele passe horas estudando sobre política, o poder decisório do seu voto continuaria sendo nulo.

Michael Huemer, professor de filosofia da Universidade do Colorado, discute num artigo chamado “Em defesa da passividade” a natural e profunda ignorância das pessoas sobre assuntos políticos. Um dos exemplos mais simples desta ignorância está na percepção do cidadão americano de que seu governo gasta mais de um quarto do orçamento federal com ajuda a países estrangeiros – o valor real é significativamente menor, cerca de um porcento do orçamento. A situação é ainda mais grave porque os eleitores são imunes aos impactos negativos da sua ignorância. Se o eleitor médio refletisse sobre a compra da sua casa com a mesma profundidade que ele reflete sobre o seu voto, ele provavelmente compraria uma casa caríssima e caindo aos pedaços. O eleitor médio é ignorante em diversos assuntos, mas as chances de sua ignorância política impactar a sua vida de forma significativa é bastante próxima do zero absoluto.

Huemer explica que até mesmo proclamados experts em política tem dificuldades com o assunto. Ele descreve o trabalho do psicólogo social Philip Tetlock, que coletou por quinze anos as previsões de centenas de especialistas, concluindo que mesmo os grandes experts, quando tentaram prever o desenrolar dos acontecimentos, tinham uma taxa de acerto apenas levemente melhor do que a aleatoriedade. Se os mais ardentes analistas políticos não são muito melhores do que um meteorologista nos seus palpites, o que podemos esperar de leigos?

Estudantes americanos aprendem que este é um país guiado por um governo “do povo, pelo povo e para o povo”. Se a opinião pública realmente guiasse a tomada de decisões políticas nos Estados Unidos, certamente faria sentido esperar que os cidadãos estudassem sobre política, políticos e atualidades. Mas uma simples comparação entre a opinião pública e as decisões políticas mostram uma grave descoordenação – o que o povo pensa não reflete o que os políticos fazem. Cientistas políticos mostram que, se a opinião pública fosse ouvida, a política comercial do governo seria consideravelmente mais protecionista, leis sobre aborto e imigração seriam ainda mais restritivas, grandes empresas enfrentariam maior regulação e os ricos pagariam mais impostos. Isso sugere que as políticas públicas são mais influenciadas pela vontade de quem está dentro da máquina do governo do que pelo cidadão médio.

Mas ainda piores do que o fato de os eleitores serem desinformados, são os preconceitos que os impedem de adquirir conhecimento e votar racionalmente. Bryan Caplan, autor do livro “O Mito do Eleitor Racional”, argumento que “os eleitores não são apenas ignorantes; eles são, em uma palavra, irracionais – e é essa irracionalidade que define em quem eles votam.”. Além disso, a maior parte dos eleitores apresenta o chamado “viés de confirmação”, que os leva a transformar toda e qualquer evidência em uma confirmação das opiniões anteriormente formadas.  Caplan identifica no eleitor médio não apenas a ignorância sobre fatos básicos da política, mas também um viés psicológico que impede qualquer chance de um voto baseado no bom senso.

A cada ciclo eleitoral, nós assistimos a campanhas de conscientização para incentivar as pessoas – especialmente jovens – para que participem do processo eleitoral. O problema é que estas campanhas não fazem nada para aumentar o conhecimento dos eleitores ou diminuir a influência dos seus preconceitos. Tudo o que elas fazem é aumentar a pressão social para que mais pessoas se engajem na política e saiam de casa num domingo em direção ao local de votação. Assim, o resultado não é um eleitorado mais informado, mas uma quantidade maior de votos irracionais. É preciso eliminar a noção de que todas as pessoas são obrigadas a se engajar politicamente, já que isto não faz com que a política melhore.

É inteiramente justificável, e até preferível, ser ignorante em política. Por isso, pare de acompanhar debates ao vivo e vá passar mais tempo com sua família e amigos; assista mais Netflix, ouça mais Miley Cyres, aprenda a receita daquele prato que você sempre quis fazer, leia mais livros, faça mais sexo ou aprenda um novo hobby. Há beleza na ignorância, já que ela nos faz dedicar mais tempo a atividades que podemos controlar. Há beleza naqueles que não prestam atenção ao venenoso mundo da política. Há beleza em ignorar a conversa arrastada e sem fim que caracteriza a política moderna.

Afinal, este é o objetivo de uma democracia – não precisar ter a política como foco, estar livre para buscar o que lhe faz feliz. Uma sociedade cujos membros investem mais tempo e energia na educação das crianças, no empreendedorismo e na busca de fins desejáveis para a vida pessoal está mais próxima de se desenvolver do que uma em que a população está obcecada com a ilusão de soluções fáceis, em debates eternos ou em projetos que entreguem mais e mais poder ao governo.

Às pessoas que estão lendo este texto e se interessam por política, fica uma boa dica: siga em frente e desista. Sua opinião não terá impacto real e é melhor gastar seu tempo buscando aquilo que lhe apaixona. Desista da política. Você vai nos agradecer depois.

Matthew LaCorte e Monica Lucas fazem parte do braço americano da rede Students for Liberty.

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