Com a conturbada situação política vivida no Brasil e um provável impeachment, as atenções se voltam em soluções para o país, haja vista que o poder nunca fica vazio. A popularidade adquirida e a notável evolução de votações, conseqüência de sua postura combativa no quadro da oposição, tem feito Jair Bolsonaro ser alçado como presidenciável, o que demanda uma análise sobre ele e suas ideias.
Inicialmente, cabe a reflexão: Bolsonaro é propositivo e apresenta soluções para um país mais próspero ou apenas reativo ao Governo Petista? Por um lado, é difícil analisar Jair Bolsonaro porque não se sabe qual o seu plano (presumindo que ele exista). Não há um manifesto com posicionamentos declarados e abertamente fixos. O que sabemos é retirado de discursos e entrevistas concedidas pelo parlamentar, o que exigiu bastante pesquisa para o presente texto, saliento.
Assim, é possível afirmar que mesmo em declarações recentes, as falas do deputado fluminense tendem sempre a opiniões genéricas. Então não sabemos se ele manteve seus posicionamentos ou se mudou de ideia, por exemplo, tampouco a profundidade e execução daquilo que ele defende.
Se por um lado Jair Bolsonaro se diz defensor de uma sociedade de mercado, por outro na prática suas ações entram em conflito com o discurso. Por exemplo: historicamente é contra a privatização de estatais e se absteve de votar no ano passado no Projeto de Lei da Terceirização (PL 4330/04), temáticas pacificadas entre quem anseia por mais liberdade econômica. Em recente entrevista para a rádio Gaúcha entrou em contradições: apesar de tantas críticas ao petismo, defende barreiras alfandegárias, tal como Dilma já lançou mão em sua gestão. Trata-se, portanto, de uma mente ainda ideologicamente confusa.
No tocante às liberdades individuais, apesar de defender abertamente a revogação do estatuto do armamento como política pública de segurança, não há registros de defesa a descriminalização das drogas, por exemplo. Ademais, é abertamente contra a adoção de crianças por casais gays. Ambas pautas sólidas entre defensores da liberdade individual. Já abordamos a questão do fim da Guerra as Drogas várias vezes, e também sobre a adoção de crianças por casais gays.
Vale lembrar que no sétimo capítulo, intitulado de “Fascistas”, da obra Guia Politicamente Incorreto da História do Mundo (2013), do escritor Leandro Narloch, foi feita uma pesquisa sobre quais parlamentares mais concordavam com as idéias da ideologia italiana. As assertivas analisadas defendiam apego à coletividade em detrimento ao indivíduo, e Bolsonaro foi o segundo parlamentar que mais concordou com elas, ideias que muito influenciam nosso ordenamento jurídico intervencionista.
Em outro espectro, desconhecendo, ou ignorando os benefícios da livre imigração (que você pode conhecer melhor aqui, aqui, aqui, aqui e aqui), Bolsonaro se manifesta a favor de barreiras migratórias. Essa relativização de Direitos Humanos para alguns indivíduos aproxima Bolsonaro dos discursos marxistas, que por sua vez argumentam o caráter subjetivo dos Direitos Humanos, posição tão criticada por pensadores liberais.
Jair critica ainda a corrupção petista, mas sua argumentação não passa por uma veemente e fundamentada defesa da redução de poder de um Estado discricionário, contrariando estudos empíricos que demonstram que Estados menos interventores possuem menor percepção de corrupção, conforme o gráfico abaixo.
Se por um lado Dilma cairá por não saber dialogar com o legislativo, Bolsonaro também não demonstra muito mais sucesso: há mais de duas décadas como deputado, não foi influente nesse período, haja vista que nenhum projeto de lei de sua autoria já foi sancionado e passou a vigorar. Além disso, nas comissões que faz parte no congresso, não tem sido relator de Projetos de Lei, o que enfraquece o protagonismo a qual muitos querem alçá-lo, e que é necessário para um Chefe do Executivo.
A aclamação de muitos por Bolsonaro, portanto, não tem relação com seus posicionamentos econômicos, tampouco por uma eventual defesa às liberdades civis. Independentemente de suas ideias, Bolsonaro é uma voz de coragem num mar de oposição acovardada. Sua performance combativa, em um ambiente de desilusão e desmotivação, fruto de mais de uma década de lulo-petismo, cativa eleitores apolíticos. Isso tudo é fortalecido por um notável vácuo de lideranças, sendo essa a principal motivação do fenômeno “Bolsomito”.
É incômodo, vale dizer, a idolatria,o amor e reverência a políticos – o que abre brechas para populismos. O caráter messiânico atribuído a Bolsonaro, por parcela significativa de seus apoiadores, sedimenta que não há um plano, apenas a personificação de expectativas de dias melhores a determinado político.
Vale ponderar que a ida de Jair para o PSC, partido que nas eleições de 2014 tinha em seu programa a privatização da Petrobrás, colocando uma “vaca sagrada” em debate, pode representar mudanças de pensamentos e o estabelecimento de um manifesto claro de intenções e propostas por parte de Bolsonaro. Mas por enquanto, além do apego, por parcela do eleitorado, a sua figura pública como um “salvador”, não vemos um projeto estruturado (o que pode, vir-se a ter). Pensando em longo prazo, bem resumiu Luiz Felipe Pondé ao dizer que “figuras como Marco Feliciano e o Bolsonaro estão dentro de um estereótipo […] que atrapalham a percepção do que seria uma Direita Liberal no Brasil.”