por Laurent Buschini*

A educação privada de baixo custo é uma realidade há muito tempo oculta. Mas o modelo ainda está em franca expansão. O Global Education & Skills Forum, organizado em março na cidade de Dubai pelo GEMS, maior grupo de escolas privadas do mundo e que possui escola na Suíça, propôs uma reflexão sobre as diferentes facetas da educação. O fórum trouxe à luz uma realidade há muito oculta: a educação de baixo custo. Milhões de crianças frequentam a escola pagando mensalidades muito baratas.

Esse modelo já é bastante difundido e competitivo. Temos um bom exemplo na Índia, com Ekta Sodha, diretora do grupo Sodha Schools, que possui quatro escolas em Jamnagar, uma cidade de um milhão de habitantes ao norte de Mumbai. Seu pai fundou a primeira escola do grupo em 1986.

Os pais dos estudantes que frequentam essas escolas são garis, agricultores do campo, feirantes, pequenos camponeses ou pescadores. Para eles, mandar seus filhos para a escola representa um sacrifício enorme. Ekta Sodha sabe disso e admira seus esforços: “Quatro rúpias por mês, isso corresponde em média a um sexto de suas rendas.

Fazemos descontos se uma família matricula vários filhos. Temos 60% de meninos e 40% de meninas. Se os pais não têm meios de pagar para dois filhos, eles mandam a menina para a escola pública e deixam a escola privada para o menino. É ele quem cuidará dos pais quando estes forem idosos.”

Os pais não hesitam em enviar seus filhos a uma escola longe de suas casas, tão grande é a vontade de poder proporcioná-los educação, a exemplo de estudantes que chegam de uma aldeia de pescadores a 50km de Jamnagar. “Nós recebemos aproximadamente 400 estudantes de lá. Eles se levantam às 4 da manhã, pegam um ônibus que os custa muito caro e chegam aqui para o início da aula, às 7h30.”

Graças ao apoio de novos investidores do grupo inglês de James Tooley, um educador renomado que descobriu a educação de baixo custo há cerca de quinze anos, Ekta Sodha vai abrir ainda neste ano uma nova escola, a quinta dessa parceria, na vila de pescadores. “Ao invés de vir a nós, é a escola que vai até eles. Isso irá facilitar a vida de centenas de crianças.”

Há 300 escolas de baixo custo só em Jamnagar. Esse mercado é bastante competitivo. As escolas precisam lutar para se manter na frente. Ekta Sodha avalia: “Não se pode achar que, porque eles são pobres, os pais não acompanharão a educação de seus filhos. Eles são, pelo contrário, exigentes. Se uma escola não parece servir mais, eles vão espalhar a notícia. A informação circula muito rapidamente no seu meio, ainda que eles não tenham acesso às redes sociais. Deve-se atender a suas expectativas, caso contrário haverá uma forte represália.”

De fato, a educação de baixo custo obtém resultados dos quais a diretora do grupo Sodha deve se orgulhar. “A maioria dos nossos alunos opta por cursar ensino superior. Alguns se tornam médicos ou advogados.”

O modelo de negócios de toda escola de baixo custo se apoia no salário dos professores. Na Índia, eles recebem cinco vezes menos do que os de escolas públicas. Ekta Sodha se justifica: “Os professores que vêm até nós são recém-saídos da universidade. Eles não têm experiência. Aqui eles aprendem o ofício. Eles se comprometem a ficar por um ano ao menos.

Depois disso, alguns partem, outros ficam por comprometimento ou porque não acharam outra coisa. Eles não ficam jamais porque são professores ruins. Aqui, eu os revezo. Mas é preciso ter em mente que há milhares de postulantes para uma vaga numa escola pública.”

Se as escolas de baixo custo existem, é porque o sistema público não está à altura. “Com muita frequência não tem aula e os alunos aprendem muito mal. Os resultados obtidos são medíocres.”


Apesar de uma taxa de matrícula muito baixa, o grupo Sodha tem lucro. Ekta Sodha chega a ter um salário razoável, ela faz parte da classe média indiana.


* O texto de Laurent foi originalmente publicado no francês Contrepoints, sob o título ‘Écoles privées low cost : une chance pour des millions d’enfants’. A tradução é de Laura Lira.

 

Compartilhar