Uma reflexão sobre a neutralidade da rede

Por Carlos Góes

Ontem eu descobri um projeto muito legal: o Wikipedia Zero. Ele é uma parceria entre a Wikipédia e as operadoras de celular em países pobres que garante acesso à versão texto da Wikipédia sem custo algum para os consumidores. Num mundo em que a maioria das pessoas que tem acesso à internet o faz por celulares limitados, essa é uma ferramenta de inclusão importantíssima. Mas esse projeto acabaria e se tornaria ilegal se a “neutralidade de rede”* fosse imposta nesses países – pois as operadoras estariam impedidas de discriminar o conteúdo da Wikipédia em relação ao resto da net.

Nas últimas semanas conversei com muita gente que respeito e que sabe muito mais do que eu sobre esse assunto. Diversos dos argumentos deles fazem muito sentido – “no cenário atual, oligopolizado, é necessário”.

Mas como em todo política pública, há o que se vê e o que não se vê. Vocês estão dispostos a negar aos pobres acesso à informação para fazer valer sua plataforma? Quais outras formas de inovação (como o Wikipedia Zero) estaríamos impedindo ao criar uma regra imposta do topo? Não é melhor promover a competição ao invés de impor essa barreira à inovação e, como vemos, à inclusão social?

Só algumas perguntas frutos de bastante reflexão.

Originalmente publicado no site do Estudantes Pela Liberdade.

*Para entender mais sobre neutralidade da rede, veja também os textos do C4SS aqui,  aqui e aqui. (rodapé acrescentado pelo Editor)

Carlos Góes é analista econômico com interesses em econometria, economia do desenvolvimento, filosofia política e antropologia. Fez seu mestrado em Economia Internacional na Universidade Johns Hopkins e sua graduação em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília. É co-fundador da rede Estudantes Pela Liberdade no Brasil e da Aliança Pela Liberdade. Publicou em periódicos internacionais, na imprensa nacional e editou o livro “Repensando uma Cultura de Paz e Liberdade”. Mora em Washington, DC, onde se divide entre think tanks e organismos multilaterais. Apesar disso, ele garante que aprendeu muito mais pagando multas na biblioteca e tomando cerveja com seus amigos do que em sala de aula.