Por Rafael Bechara*
*Nota do editor: Sábado passado (25/05), teve Marcha das Vadias em Belo Horizonte-MG, visando denunciar a cultura sexista por trás da repressão à sexualidade feminina e da violência contra a mulher (a foto que ilustra este texto é da Marcha). Um dos leitores do nosso blog, o Rafael Bechara, teve a ótima ideia de fazer cópias do texto “Seduzidas e Desonradas” (https://mercadopopular.org/
A experiência do ativismo como libertário chega a ser engraçada. O número de caretas e sorrisos é no mínimo curioso, existem pessoas que simplesmente ignoram o panfleto, existem pessoas que produzem uma ofensa e saem rápido de perto, existem pessoas que só faltam nos dar um beijo, existem pessoas que parabenizam a atitude e apontam o que poderia estar complementando o conteúdo do manifesto.
Atuar pelo libertarianismo deixa claro como a heterogeneidade política é vasta e como o mesmo é desconhecido para a maioria das pessoas que compõem as manifestações. Ter atuado na Marcha das Vadias ajudou bastante para que essas situações citadas surgissem. Deve-se lembrar ainda que o movimento feminista é bem amplo, consegue alcançar desde a cultura sexista impregnada em nossa sociedade moralista, até demonstrar a precarização da mulher dentro da classe trabalhadora.
Uma das grandes vantagens que envolvem o ativista é o amadurecimento argumentativo. Isto vai ocorrer pelas inúmeras vezes que o atuante é colocado em um paredão ideológico por pessoas de outras vertentes políticas. Quando se veste um posicionamento, a pessoa já precisa estar disposta às criticas.
Dentro de uma perspectiva libertária, os ataques tendem a vir de vários lados diferentes: os defensores do Estado e do coletivismo estão armados para o discurso, e é pensando nisso que se apresenta o porquê da necessidade do libertarianismo em se organizar e exibir seus ideais.
De fato, os movimentos sociais e os atos que estão ocorrendo nesses últimos tempos estão sendo banhados pelo coletivismo. A ação direta libertária é necessária para demonstrar os caminhos conturbados que se podem criar dentro destas condições.
O objetivo da ação direta libertária não é deslegitimar o já constituído, mas sim apresentar uma reforma estrutural, apontar todos os malefícios que caminham de mãos atadas aos ideais coletivistas.
Infelizmente, o individualismo vem sendo desfigurado pela sociedade faz tempos, sendo hoje colocado como conceito da elite e sinônimo de egoísmo, no pior sentido da palavra. É preciso combater essa perspectiva para readaptar o conceito: mostrar que se trata de liberdade do indivíduo em primeiro lugar, mostrar que dentro do individualismo existe organização social, mostrar que o coletivismo não é requisito mínimo para uma sociedade justa, apresentar um texto anti-governista e anti-estatista.
Também é bom dissociar o conceito capitalista do conceito de livre mercado, mostrando como este pode surgir dentro de uma sociedade mais igualitária como consequência da liberdade. A ação direta libertária é valiosa também para escancarar os preconceitos que o coletivismo cria, os quais têm permanecido invisível diante dos olhos de grande parte do movimento esquerdista.
Em suma, isso é importante para mostrar o porquê de estarmos juntos em uma luta, mas não alinhados com a vasta maioria.
A Marcha da Maconha, a greve dos professores, dos rodoviários, dos metroviários, os atos durante a copa, todos estão aí, é um ótimo momento para organização e atuação, é o momento para aparecer e potencializar uma reestruturação.
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Rafael Bechara é libertário de esquerda radicado em Minas Gerais.