Steve Randy Waldman, traduzido por Arthur Niculitcheff
A primeira coisa à reconhecer é que uma política de “estabilidade de preços” forçada, seja implementada em termos de níveis ou taxas, é uma forma de seguro social provido pelo governo, assim como seguro desemprego ou aposentadoria por invalides. Para todos esses programas, existem estados de mundo nos quais alguns indivíduos podem sofrer infortúnios. O governo age para neutralizar esse infortúnio, impondo custos em outros indivíduos à fim de financiar uma transferência de recursos. No seguro desemprego, empresários e trabalhadores empregados pagam contribuições, que financiam o seguro para trabalhadores que perdem seus empregos. Uma dinâmica semelhante vale para estabilizar preços.
Considere um choque negativo de oferta. Na falta de ação do governo, o efeito de uma redução na oferta de bens e serviços seria maiores preços. O único jeito de prevenir maiores preços é concomitantemente reduzir a demanda agregada. A redução pode ser implementada por aumento na taxa de juros ou outras operações monetárias, ou pode ser efetuada através de tributação. Em ambos os casos algumas pessoas pagaram um preço, que vai aparecer como a redução da demanda. Outras pessoas vão desfrutar de um beneficio devido a ausência de inflação nos preços.
Quem são essas pessoas? Nós podemos identificá-las? Claro. Pessoas que se beneficiam de preços não aumentantes são pessoas que detém ativos denominados em dólar (moeda local). Isso inclui mais obviamente credores – pessoas com dinheiro no banco, detentores de títulos, etc – mas também pessoas com empregos estáveis e pouco poder de barganha para obter aumentos. Esses grupos veriam seu poder de compra diminuir na inflação. Se o governo contem os preços reduzindo a demanda agregada, ele ajuda esses grupos deslocando os custos para outros. Se os preços são estabilizados através da política monetária, devedores pagam: tanto o aumento da taxa de juros e a redução da demanda agregada aumentam o fardo de pagar dividas. Se os preços são estabilizados através de aumento da tributação, então obviamente quem quer que recaia a incidência dos novos impostos paga. Nos dois casos, trabalhadores marginais pagam, sofrendo uma chance maior de ficarem desempregados, ou uma chance menor de acharem um emprego¹.
É bem obvio, então, que conter preços em face de um choque de oferta efetiva uma transferência de devedores, contribuintes, e trabalhadores marginais para credores e trabalhadores estáveis. Uma política de restrição de preços é uma forma de seguro para credores e trabalhadores estáveis, que são absolvidos do risco de que o poder de compra de seus ativos nominais irão sofrer uma queda imprevista. É financiada tendo como fiadores devedores, contribuintes e trabalhadores marginais, que são colocados em risco pela política².
Até agora, nós consideramos uma política assimétrica, contenção de preços. Mas suponha que o estado tenha como meta um nível de preços ou uma taxa de inflação simetricamente? Então os perdedores da contenção de preços potencia não se tornam os vencedores de uma sustentação potencial dos preços quando o estado age pra prevenir deflação? Com certeza! Em um regime simétrico de meta de preços, se por política monetária, devedores desfrutam o beneficio de um choque positivo de oferta em termos de uma taxa de juros mais baixa e uma maior demanda agregada da onde tirar sua renda. Se por política fiscal, os benefícios do choque afortunado é distribuído para quem quer que capture os cortes de impostos e para os beneficiários de transferências e gastos do governo. Quer seja monetária ou fiscal, a resposta antiinflacionária para um choque de oferta implica em maior demanda agregada que ajuda a manter os trabalhadores marginais empregados. Credores e trabalhadores estáveis mas estagnados perdem, conforme o aumento de poder de compra que eles poderiam de outro modo ter desfrutado é distribuído para outras partes.
Então um regime de metas de preço simétrico é “justo”? Com certeza não. Claro, ele envolve uma troca de riscos e benefícios, ao invés de só distribuir riscos para alguns e benefícios para outros. Mas par esse tipo de troca criar valor, benefícios tem que ser correspondentes às perdas. Indivíduos com aversão a risco buscam seguros que pagam em tempos ruins. Todos os grupos estão em maior risco quando a economia está fraca depois de um choque de oferta. Sob uma política de contenção de preços, credores e pessoas com emprego estável desfrutam de um pagamento de seguro. Sob uma política assimétrica, o seguro é grátis, a indenização é paga por outras pessoas. Sob uma política simétrica, credores e pessoas com emprego estável compram seu seguro contra maus tempos renunciando algum beneficio durante os bons tempos. Ainda é um bom negocio. Seus riscos gerais são reduzidos.
Mas o contrario é verdade para devedores, contribuintes, e trabalhadores marginais. Justo quando esses grupos precisão de um tempo, quando a economia está mau devido a um choque de oferta adverso, eles são atingidos com custos adicionais em nome da estabilidade de preços. Claro, quando as coisas tão boas em geral, eles ganham uma cereja no bolo deles. Seus altos são mais altos, mas seus baixos são mais baixos. Metas de preço simétricas transformam devedores, contribuintes, e tabeladores marginais em especuladores de alto beta no estado da economia, enquanto reduzem a exposição ao risco dos credores e trabalhadores estáveis. Elas representam um vasto subsídio, uma transferência paga em tomada de risco, dos devedores, contribuintes, e trabalhadores marginais para os credores e trabalhadores estáveis. Uma meta de preços simétrica é um melhor negocio que contenção de preço assimétrica para os devedores, contribuintes, e trabalhadores marginais – melhor ter algum beneficio que nenhum beneficio pelo fardo de garantir o poder de compra de outras pessoas! Mas uma meta simétrica de preços ainda é uma mão ruim. Devedores, contribuintes, e trabalhadores marginais são forçados a carregar os custos quanto eles são mais pesados e recebem pagamentos quanto eles tem o menor valor.
No mundo real, claro, nos normalmente vemos algo entre uma política de pura restrição de preços e um regime de metas de preço simétrico. E normalmente, estabilização de preços é implementada pela política monetária. Nos assiduamente provemos seguro aos credores e empregados estáveis, mas fortuitamente premiamos os devedores e empregados marginais quando eles menos precisam de ajuda. Estabilização de preço é um seguro social que provemos para os membros mais seguros da nossa sociedade, enquanto a conta é paga por diminuição do poder de compra e aumento de risco para os menos seguros. Alem disso, os benefícios da estabilização de preço vão desproporcionalmente para os maiores credores e para os detentores de empregos seguros de altos salários. Preservar o poder de compra de um baú de um bilhão de dólares é bem mais valioso do que preservar o valor de cinqüenta contos numa conta de banco. Estabilização de preços é uma forma incrivelmente regressiva de seguro social, um programa cuja abominação distributiva seria repugnante para a maioria das pessoas se não fosse convenientemente oculto. Mas as transferências engendradas pela estabilização de preço são invisíveis, obscurecidas pelo véu da moeda. Já que ela beneficia os mais influentes e fere os mais marginais em nossa sociedade, essa política abominável é politicamente intocável.
Certamente é verdade que existem grupos na nossa sociedade cujo poder de compra nos devemos assegurar coletivamente: aposentados em renda fixa, poupadores com moderadas economias. É muito bom que os pagamentos do Social Security são indexados, para que os aposentados desfrutem alguma produção do seu poder de compra. Mas a indexação é uma forma visível, e visivelmente custosa, de seguro social. Por que ela é visível, nos transparentemente racionamos sua provisão e alocamos seus custos. Eu não argumento que seguro de poder de compra é imoral. Pelo contrário, nós precisamos de seguro de poder de compra e o estado deveria inventar meios explícitos de prove-lo. O que é imoral é esconder o que é discutivelmente o maior programa de seguro social do governo atrás da frase tecnocrática “estabilidade de preços”. Isso é um artifício que força os membros mais precários da nossa sociedade a assegurarem o poder de compra dos mais seguros, sem qualquer limite ou mesmo qualquer contabilidade da escala da transferência.
Adendo:
No argumento acima, eu considerei somente o efeito de choques de oferta, não de choques à demanda agregada. Estabilização de preços, no contra factual em que é completamente simétrica, iria parecer menos horrível se considerássemos choques de demanda. Mas é tolo fazer isso. As ferramentas que usamos para estabilizar o nível e preços todas funcionam através da demanda agregada. Na medida que é possível estabilizar os preços, é possível estabilizar a demanda agregada diretamente. Eu não me oponho a estabilização macro em geral. Estabilização da demanda agregada é uma ótima idéia, apesar d’eu ter preferências com respeito aos meios que podem divergir das dos monetárias de mercado que mais notadamente advogam a política. Mas dado que a manipulação da demanda agregada é o nosso instrumento, é mais simples estabilizar essa variável do que estabilizar os preços. Causar a demanda agregada um desvio de uma trajetória de crescimento planejada para estabilizar preços é o que é imoral. O nível de preços não deveria ter qualquer peso na política macroeconômica, que deveria simplesmente ter uma meta de trajetória de PIB nominal.
Estou ciente dos modelos novo keynesianos que prevêem uma “coincidência divina”, onde estabilizar preços iria estabilizar a produção real como se por uma mão invisível. As condições sob as quais podemos confiar na “coincidência divina” mesmo em teoria são improváveis de se manterem na prática. Os modelos que prevêem coincidência divina assumem uma “família representativa”, e portanto são cegos por construção às preocupações distributivas discutidas aqui. Eu considero “coincidência divina”, em praticamente qualquer contexto prospectivo, como sendo um outro nome para “erro”.
Eu negligenciei efeitos de duração quando discutindo o efeito de mudanças nas taxas de juros nos credores. Para credores detendo débitos de longa duração, aumentar as taxas de juros para conter preço ajuda mantendo o poder de compra do montante emprestado e aumentando os juros que eles modem ganhar reinvestindo. Mas também os prejudica provocando uma perda de capital caso eles precisem liquidar e gastar seu titulo de longo prazo antes do vencimento. Para poupadores de longo prazo, o efeito de reinvestimento compensa a perda de capital. Credores como um grupo são claramente beneficiados por uma política de restrição de preços, mas alguns credores de longo prazo são queimados pelo aumento na taxa de juros.