Por Arthur Niculitcheff
Achei o debate fraco em geral. Nenhum dos dois fala muito bem, o formato não ajudou também. Além deles não terem falado muitas coisas interessantes, discordo dos dois em alguns pontos.
É um mal que esse seja o nível do debate sobre inflação. Inflação de alimentos é das coisas mais irrelevantes para politica econômica. É a parte mais sensível às sazonalidades, aos choques de oferta, etc. Por isso é a mais volátil e menos informativa sobre a demanda agregada e se o governo está sendo expansionista ou contracionista. Não tem nenhum motivo para se focar nisso. A afirmação do Mantega sobre os efeitos dos preços de commodities no Brasil é risível. A alta no preço de commodities torna a inflação no Brasil mais baixa em geral, devido aos efeitos no câmbio.
Além disso, todo o discurso público sobre a inflação ignora que a inflação não diminui os rendimentos reais. É um problema grave do sistema de metas. As pessoas acham que o Banco Central tem o dever de proteger o salário real delas quando o sistema de metas não é sobre isso e o Banco Central não tem como fazer isso sem criar grandes distorções.
O Fraga aponta algo importante quando fala dos termos de troca brasileiros. Ele fala que o nível maior nos termos de troca deveria ter proporcionado um ambiente melhor para o crescimento durante o governo Dilma. Nisso está bastante errado e tenho que admitir que, apesar dos exageros, o Mantega tem certa razão nas suas reclamações sobre a “crise internacional”. O nível dos termos de troca explicaria mudanças no nível o PIB, mas as variações nos termos de troca são o que explicam diferenças no crescimento do PIB. Desde o pico de 2011, os termos de troca vem caindo substancialmente, o que é parte da explicação para o péssimo crescimento brasileiro no período. Isso provavelmente se deve tanto a desaceleração da China quanto às barbeiragens na zona do euro.
Arthur Niculitcheff é graduando em Ciências Econômicas na PUC-SP. Seus principais interesses, além de economia, são história, filosofia da ciência, e transhumanismo. Costuma passar o tempo livre lendo, estudando ou vagando pelas ruas do centro de São Paulo. Como todas as crianças criadas na blogosfera, é um monetarista de mercado e membro da conspiração bayesiana.