Por Marian L. Tupy

No meu guia de economia socialista para iniciantes eu constatei que o comunismo, que deveria conduzir a sociedade a uma maior igualdade, acabou por conduzi-la, na verdade, a um retorno ao feudalismo.
Como em sociedades feudais, sociedades comunistas também possuem uma aristocracia, sendo estas compostas por membros do partido comunista.
Como em sociedades feudais, sociedades comunistas possuem uma população de servos, com direitos limitados ou até mesmo sem direitos, e com uma baixíssima possibilidade de mobilidade social.
Como em sociedades feudais, sociedades comunistas são mantidas unidas por meio da força bruta.
Provando meu ponto, o Daily Mirror divulgou recentemente uma filmagem sobre a província de Ryanggang, no nordeste da Coreia do Norte, onde centenas de crianças podem ser vistas quebrando e carregando pedras para a construção de uma ferrovia local.
As crianças têm por volta de oito ou nove anos de idade e trabalham por até 10 horas ao dia, mesmo sob o sol ardente. Nem elas e nem seus pais são compensados por esse trabalho exaustivo.
[FOTO]
[A imagem foi uma cortesia do Daily Mirror.]
Como o jornal mostra, essas são as crianças da classe trabalhadora norte-coreana. A estratificação por classes ficou evidente na Coreia do Norte, tendo o partido comunista e os funcionários do governo no topo e a classe trabalhadora no nível inferior.
As crianças dos primeiros frequentam escolas recém-construídas e desfrutam, o tanto quanto lhes é possível nesse “Reino Eremita”, de uma situação parecida com uma vida normal. Os últimos mal conseguem sobreviver nesse estado de extrema pobreza e servidão. Como podemos ver, esse é o grande compromisso comunista com a igualdade.
Na filmagem do Daily Mirror:
Em um filme… um jovem desamparado com cerca de oito ou nove anos, vestindo uma camisa da seleção inglesa de futebol, é ordenado a quebrar pedras em um penhasco. Meninas formam duplas enquanto se esforçam para levantar cargas pesadas e empilhá-las. Um jovem garoto estremece pelo desgaste de seu trabalho. Professores protegendo suas faces do sol ofuscante do meio dia gritam ordens a outros jovens, que estão curvados por arrastarem sacos tão grandes quanto seus corpos. Montes de enormes arenitos quebrados pelas crianças escravas podem ser vistos em pilhas bem altas. É válido notar que o trabalho infantil já foi completamente aceitável em grande parte da existência humana. Antes da Revolução Industrial, que teve início na Grã-Bretanha no final do século XVIII, nenhuma sociedade considerou, de fato, evitar o trabalho infantil por questões morais. Como Johan Norberg mostrou em seu livro Progress, ‘antes de meados do século XIX, era comum crianças da classe trabalhadora começarem a trabalhar desde os sete anos de idade’.“.
É, portanto, um tanto irônico que o trabalho infantil tenha se tornado tão intimamente relacionado ao processo de industrialização – um tópico que vale a pena ser explorado com maior profundidade.
[GRÁFICO]
Como o gráfico acima nos mostra, as pessoas não escreviam sobre trabalho infantil antes do século XIX porque o trabalho infantil era um fato universal. Antes da industrialização, que aumentou consideravelmente a produtividade agrícola, não existiam “excedentes” de comida. Toda a comida produzida no campo era consumida pelas famílias camponesas e pelos seus animais de carga.
Uma criança ociosa ou, nesse sentido, um homem, uma mulher ou um burro ocioso, eram vistos como um desperdício de recursos preciosos. “A sobrevivência da família exigia que todos contribuíssem”, diz Norberg.
Lamentar o trabalho infantil, em outras palavras, fazia tanto sentido quanto reclamar sobre a falta de planos para o fim de semana – já que a maioria das pessoas trabalhavam pelo menos seis dias por semana. Foi a industrialização que mudou tudo isso.
Com o aumento da produtividade agrícola, as pessoas não precisaram mais permanecer no campo e cultivar seus próprios alimentos. Elas se mudaram para as cidades em busca de uma vida melhor. No começo, as condições de vida eram terríveis. As cidades medievais não estavam preparadas para a entrada de milhões de pessoas vindas da zona rural. Favelas surgiram e doenças se alastraram.
Em meados do século XIX, no entanto, as condições de vida e de trabalho começaram a melhorar. A expansão econômica levou a um aumento na competitividade por trabalho e os salários cresceram. Isso, por sua vez, permitiu que mais pais pudessem renunciar ao trabalho de seus filhos e, no lugar disso, mandá-los para a escola.
[GRÁFICO]
É importante lembrar que as pessoas perceberam que a vida sem trabalho infantil era possível só depois de uma grande quantidade de crianças pararem de trabalhar. A legislação limitando o trabalho infantil ficou mais rigorosa conforme o progresso do século XIX, mas apenas com o “Factory and Workshop Act” de 1878 que o Parlamento Britânico baniu o trabalho infantil para crianças com menos de 10 anos e exigiu que todos com até essa idade recebessem educação compulsória.
A prosperidade, especialmente trazida pelo comércio e pela industrialização, tornou obsoleto o trabalho infantil no Ocidente.
Ao longo do século XX, a prosperidade se espalhou para outras partes do mundo. O trabalho infantil na Ásia e na América Latina nunca foi tão baixo quanto é hoje. No entanto, ele ainda é um problema na África, onde grande parte das populações permanece presa a uma economia de subsistência.
E ele tem crescido na Coreia do Norte – um Estado escravagista moderno que, na busca pelo comunismo, retornou suas crianças a uma classe de trabalho empobrecida e servil.

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