Em qualquer democracia há um intenso debate de quais características são determinantes para o sucesso ou o fracasso eleitoral de um partido político. Há uma produtiva literatura da ciência política sobre o tema com poucos consensos. Mas em um universo como o brasileiro, o processo eleitoral em curso envolve mais de 100 milhões de eleitores, que vão escolher vereadores e prefeitos em mais de 5500 municípios.
Esse espaço continental conta com diferenças regionais marcantes e claras, o que dificulta análises, pois não há paralelo com o restante do mundo.
Por exemplo: temos uma impressionante quantidade de partidos, ao todo pode-se considerar que 26 agremiações partidárias (considerando que diferentes partidos que acabara se fundindo como um só) conseguiram eleger pelo menos um prefeito nas eleições desde 1996. A consequência natural disso é a baixa média de prefeituras por partido, aproximadamente 1,8% nas últimas quatro eleições municipais.
Uma segunda característica da política brasileira é o “fisiologismo”. A miríade de partidos se soma uma falta de clareza ideológica em que se observa, por um lado, a disposição de todos os partidos se coligarem com todos os outros. Um notável exemplo disso é que diversos partidos relacionados ao governo Dilma Rousseff, e que acusam partidos como o DEM, PSDB e PMDB de “golpistas” devido ao impeachment, estão coligados com esses mesmos partidos. Nem mesmo o PSOL, que se auto-proclama “oposição de esquerda” a todo establishment político brasileiro escapa disso.
Um exemplo dessa confusão é o município de Miguel Alves no Piaui. Lá há três candidatos a prefeito em 2016: Carlucio Cruz (PDT), Oliveira Júnior (PT) e Professor Cléo (PP). À primeira vista aparentaria claro ser uma disputa entre dois candidatos de esquerda (PT e PDT) contra um de direita (PP). As coligações, no entanto, mostram um cenário mais nebuloso. A coligação de Carlucio (PDT / PPL / PPS / PSDC / PSC / PRB) mostra pelo menos um dos mais vorazes partidos de oposição aos governos petistas (PPS) e um dos mais notoriamente conservadores (PSC) do país, partido de Bolsonaro e Feliciano. As outras não fogem a essa maleabilidade ideológica. A de Oliveira Junior (PC do B / PMDB / PT / SD / PEN / PRTB / PTB / PSB / PTC / PROS / PRP) conta com pelo menos dois protagonistas do processo de impeachment da presidenta Dilma (PMDB e SD). Por fim, a suposta candidatura de direita do Professor Léo (PSOL / PP / PSDB / PR / PSD / PMN / PSL / PHS / DEM) conta, ao mesmo tempo, com o que muitos diriam ser o partido mais à esquerda no Congresso Nacional (PSOL) e o mais à direita (DEM). Ou seja, em Miguel Alves, o PSOL está aliado com o PSDB e o DEM em oposição ao PDT e ao PT que, por sua vez, está aliado com o PMDB, o seu supostamente nêmeses atual.
Essa candidatura mostra também a variedade de micropartidos virtualmente desconhecidos da grande maioria dos eleitores brasileiros, PHS, PMN PTC, PRP, PEN são pequenas siglas, com baixa performance eleitoral, sem posição ideológica clara (o que os nomes Partido Humanista da Solidariedade (PHS) ou Partido Mobilização Nacional (PMN) querem dizer da sua base ideológica?), mas que possuem um poder oculto muito significativo, como deixaremos claro na parte II.