Recentemente, saiu mais uma pesquisa para a eleição presidencial de 2018. Nela o presidente Lula se apresenta como o mais forte candidato com 30,5% das intenções de voto e 16,6% na consulta espontânea. Outro dado digno de nota é o crescimento de Jair Bolsonaro, que tem 11,3% das intenções e 6,5% no espontâneo. Como toda pesquisa, no entanto, ela é tão somente uma fotografia de um dado momento e hoje a melhor indicação do que pode acontecer no futuro é a observação do passado. Lula, por exemplo, foi vitorioso em duas eleições – 2002 e 2006. O que sua história pode indicar para o futuro?
A força de Lula não é surpreendente quando se reconhece ele foi figura central na vitória das últimas quatro eleições. O crescente aumento de intenção de votos é, na verdade, a retomada de uma parcela que historicamente vota em Lula e seus candidatos, e que tinha deixado de apoiar o ex-presidente e levaram o PT a uma derrota histórica na eleição municipal do ano passado. Naquela oportunidade, elegeram apenas um prefeito em um dos 93 maiores municípios do país em que pode haver segundo turno. Além disso, a performance de Lula está significativamente mais baixa com pesquisa feita aproximadamente na mesma época em 2005 (pesquisa Sensus 15-17/Fevereiro de 2005) em que tinha 45,4%.
Dessa forma, podemos inferir duas coisas: a primeira que Lula está longe de demonstrar todo o poder que já possuiu no passado, fazendo com que seja apressado qualquer indicação de que “já ganhou” ou que é o candidato a ser batido. Ainda há muito tempo até outubro do ano que vem e há muitas variáveis, como a Lava Jato, que podem drasticamente mudar essa tendência de crescimento. A segunda é “a volta do Lulismo” como uma força política
significativa. Tomando como correta a tese de Singer[1], de que o bloco de apoio eleitoral ao lulismo é de parcelas pobres da população que o fazem não por alinhamento ideológico, mas por acreditarem que o lulismo melhorou materialmente as suas vidas, então é razoável assumir que o lulismo acabaria caso Dilma se mantivesse no poder e a crise permanecesse. Ou seja, o impeachment foi positivo eleitoralmente para lula, já que não é mais a sua sucessora e o seu partido que comandam o país e a tendência é a população deixar de vê-los como responsáveis diretos pela atual crise. A ascensão de Temer permitiu a retomada de uma comparação entre Lula e os demais políticos, uma das bases ideacionais do lulismo como força política.
Quanto a ascensão de Jair Bolsonaro, ela – ao mesmo tempo – indica uma tendência mudança política no país, quanto não tem qualquer valor prático. A preferência por Bolsonaro indica a solidificação ideológica do “conservadorismo” no Brasil como não se via desde a redemocratização. O histórico do padrão eleitoral brasileiro, no entanto, mostra uma tendência pragmática de preferência de candidatos mais moderados e mais competitivos quanto mais se aproxima as eleições. Na pesquisa em janeiro de 2002 (Datafolha 3-4 de janeiro de 2002), Serra era somente o quarto colocado com 10% das intenções de voto, mas com o decorrer do ano se consolidou como o segundo mais forte candidato. Padrão semelhante se viu em 2010, quando Dilma só tinha 3% das intenções de voto em março de 2008 (Datafolha 27 de março de 2008. Aparentemente, o eleitor brasileiro é mais receptivo a candidatos no início do processo eleitoral, mas tende a afunilar para os candidatos mais competitivos no decorrer da campanha. Assim, é completamente prematuro afirmar que o sucesso de Bolsonaro é inexorável e que necessariamente será um dos principais candidatos em 2018. No entanto, torna-se cada vez mais provável que o pêndulo das pequenas candidaturas mais ideológicas passe da esquerda, onde o PSOL tem uma voz com força nos debates, para a direita. É possível que isso tenha impactos independentemente de quem seja eleito, já que os candidatos teriam que buscar os votos mais conservadores de Bolsonaro do que os da classe média de esquerda que tradicionalmente apoiam o PSOL.
Há muita água para passar debaixo da ponte para tornar crível uma avaliação dos principais candidatos a presidência. Lula está se fortalecendo, mas não se sabe até onde a Lava-Jato irá. Além disso, a significativa derrota nas eleições municipais enfraqueceram institucionalmente o partido e todo o processo do impeachment inviabilizará a ampla coligação com partidos de centro e fisiológicos, não permitindo amplo tempo de televisão e rádio que marcaram as últimas eleições petistas. O PSDB corre os mesmos riscos com a Lava-Jato e das disputas internas que rotineiramente sabotam o partido. Já Marina Silva, Ciro Gomes e Bolsonaro sofrem do mesmo mal de estarem em partidos pequenos que lhes darão pouca força institucional para serem candidaturas realmente competitivas. Além disso, a crise política favorece a possibilidade de surgir algum nome ainda não cotado até aqui e que consiga despontar rapidamente.
A verdade é que o jogo pelo Palácio do Planalto mal começou, ninguém jogou os seus trunfos e nenhuma carta está fora do baralho.
[1] SINGER, André. Os Sentidos do Lulismo: Reforma gradual e pacto conservador. São
Paulo: Companhia das letras, 2012.