A educação é, para o eleitor brasileiro, mais ou menos o que o América é para o torcedor carioca: o segundo time de todo mundo. Ao final do dia (ou das eleições), assim como ninguém torce de verdade pelo América, ninguém vota em quem defende a educação. A votação de Cristovam Buarque nas eleições presidenciais de 2006 foi uma prova disso.

De qualquer maneira, virou clichê se dizer que a base de todos os nossos problemas (e soluções) estão na nossa educação. Eu também acho. Mas, na hora de votar, nosso dedo invariavelmente digita números sem levar isso em consideração.
Educação não dá voto.

Talvez, por vivermos nessa falsa priorização da educação, permitimos que os governos sejam tão incompetentes com a condução das políticas da área. Especialmente, da nossa educação básica. Sim, porque um país marcado pela desigualdade social, não vai a lugar nenhum se não educar. A começar por seus indivíduos mais vulneráveis: os mais pobres.

Nossa herança educacional elitista vem de longa data. Os países de cultura protestante, desde muito cedo, educam (todas) as suas crianças para ler a bíblia. A partir da reforma protestante, um dos pilares da nova religião foi a leitura da bíblia na língua nativa de cada país. Não por acaso, o primeiro documento escrito na língua alemã foi a bíblia de Martinho Lutero. Em cada igreja protestante alemã, suíça ou americana havia anexa uma escola para ensinar as crianças a ler.

O Brasil tem raízes culturais indiscutivelmente católicas. Na igreja de Roma, a Ordem mais ligada à educação foi a dos Jesuítas. Enquanto os protestantes construíam escolas, no entanto, os Jesuítas construíam universidades. O protestantismo educou as massas, o catolicismo, as elites.

Mas, vivemos no século XXI e tudo isso é passado. Será?

Há poucos dias, o ex-ministro da educação e atual prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, afirmou em reunião da USP que gostaria que a instituição, onde é professor, adotasse o ENEM para selecionar os seus alunos. Ele disse que a competição pelas suas vagas aumentaria e alunos de outros lugares do Brasil poderiam desfrutar do sonho de estudar na meca do ensino superior brasileiro. Faz sentido. Para concluir soltou esta: “Como talento não escolhe classe social, você efetivamente acaba atraindo pessoas de mais baixa renda para a universidade”. Faltou o ex-ministro dizer que talento pode não escolher classe social, mas os cofres do MEC, sim.

Os governos petistas sempre mostraram como sua principal conquista na área da educação o aumento do acesso ao ensino superior. Assim como Washington Luís um dia disse “Governar é construir estradas”, os petistas deveriam dizer “Educar é colocar na universidade”. Só precisam ser mais claros quanto à realidade dos fatos. Essa política mira a classe média. Não os pobres. O orçamento do MEC, em dez anos, saltou de 33 para 101 bilhões de reais, dos quais nada menos do que 80% são destinados ao ensino superior. Vários programas foram criados, como: o PROUNI, política de cotas, fortalecimento do FIES (esse criado no governo FHC). Tudo com a intenção de “colocar o filho da empregada na USP”. O que conseguimos, de fato?

Hoje, 8,8% dos alunos daquela universidade possuem renda familiar menor ou igual a 2 salários mínimos. Para que o leitor tenha ideia da desproporção, essa faixa de renda engloba impressionantes 72% da população brasileira. Enquanto isso, e a despeito do espetacular aumento de gastos, nosso IDEB (índice que avalia a qualidade da educação básica) pouquíssimo avançou, seguimos em posição lamentável nos rankings internacionais de educação (quem tiver interesse e estômago forte pode olhar a situação do Brasil no PISA ou no education at a glance) e não conseguimos sequer erradicar o analfabetismo (proposta de Lula na agora longínqua campanha de 2002. a ser realizada em 4 anos) que ainda atormenta 8,5% da população brasileira, no Nordeste, região mais pobre, 14,5%.

O estado brasileiro, mesmo que governado por quem veste vermelho e usa tanto as palavras “povo” e “trabalhadores”, assim como os Jesuítas tanto tempo atrás, segue educando a elite.

Haddad sabe que não existe nada mais importante para um povo pobre do que a erradicação do analfabetismo e a construção de uma educação básica sólida. Mas, ele também sabe que educação não elege ninguém. Melhor construir ciclovias… Vai ver dá voto!

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