Por Jacob Sullum
Durante uma entrevista com a VICE postada no último dia 16, o entrevistador Shane Smith pergunta ao presidente Obama, quase em tom de desculpa, sobre a legalização da maconha, que diz ter sido o tópico mais popular entre as sugestões dos leitores. “Para os jovens, desculpe-me, mas a legalização da maconha seria a maior parte de seu legado”, diz Smith. Ao contrário de outras ocasiões em que foi confrontado com esse assunto, Obama não ri, mas toma a oportunidade para ensinar aos “jovens” sobre as prioridades deles. “Eu entendo que isso é importante para vocês”, diz Obama, “mas, sabe, vocês deveriam estar pensando sobre mudanças climáticas, a economia, empregos, sobre guerra e paz. Talvez, bem ao fim da lista, deveriam estar pensando sobre maconha”.
Como aponta o articulista Conor Friedersdorf no The Atlantic, há razões sólidas por que as pessoas poderiam discordar da ordenação de prioridades sugerida por Obama, começando pelo fato de que a proibição da maconha é uma injustiça óbvia com uma solução óbvia. Falando como alguém velho demais para entrar no grupo etário alvo da condescendência de Obama, acho que a chance que eu e ele concordemos sobre a legalização da maconha é muito maior que a chance de termos visões convergentes sobre a abordagem correta contra mudanças climáticas, o papel do governo em promover empregos, ou as justificativas para ir à guerra.
Obama concorda que a maconha deve ser legalizada? Como disse em uma entrevista em 2014 com David Remnick, do The New Yorker, ele está oficialmente esperando para ver o que acontece em estados como Colorado e Washington. Ele teve, de fato, o mérito de abster-se de interferir com esses experimentos, e concede que “se estados suficientes acabarem descriminalizando, o Congresso talvez então coloque maconha na agenda” (espero que ele tenha querido dizer tirar da agenda, caso contrário o uso recreativo da droga continuaria ilegal). Ele até descreve esse passo – anular a proibição federal – como “progresso”.
Obama obviamente está sem pressa, apesar do fato de que o governo norte-americano detém todo ano cerca de 700 mil infratores por posse, uso ou venda de maconha e prende 40 mil anualmente por terem ousado cultivar uma planta ou distribuir seu produto. “Eu sempre digo ao pessoal que apoia a legalização ou descriminalização que isso não é uma panaceia”, diz Obama. Provavelmente citaria a frase apócrifa que diz que para todo problema complexo há uma solução simples e errada. Mas a legalização é melhor que a alternativa? Embora Obama ache que sim, ele não tem a menor intenção de dizer isso palavra por palavra.
O presidente está mais confortável criticando “sentenças penais desproporcionais”. Ele diz que “o sistema de justiça penal” dos Estados Unidos é “enviesado para o combate a infratores de drogas não violentos”, o que tem “um efeito terrível em muitas comunidades, especialmente comunidades negras, levando ao desemprego de muitas pessoas porque elas [têm] antecedentes criminais”. Embora o “abuso de drogas (…) seja um problema”, diz Obama, “pôr alguém atrás das grades por 20 anos provavelmente não é a melhor estratégia”. Diz anda que está “encorajado” porque “estamos começando a ver não apenas esquerdistas democratas, mas também alguns republicanos bastante conservadores reconhecendo que isso não faz sentido, incluindo a ala libertária do Partido Republicano”. Mas mesmo aqui Obama não parece achar que há necessidade de medidas urgentes, como demonstrado pela sua apatia em casos de clemência.
Publicado originalmente no site da revista Reason, e traduzido para português por João Pedro Lang.
Nota: Na foto que ilustra o artigo, não se sabe o que Barack Obama fumava, mas o presidente americano já reconheceu o uso de maconha, assim como seus antecessores Bill Clinton e George W. Bush. Tal como os 3 últimos presidentes dos Estados Unidos, há também a comprovação histórica de que alguns dos fundadores do pais (inclusos Thomas Jefferson e George Washington) mantiveram plantações da erva por anos, além de diversos rumores sem validade acadêmica unânime de que também a usavam para fins recreativos.