Em 2002, Lula foi o primeiro candidato à presidência da República a contar com o apoio declarado da União Nacional dos Estudantes (UNE). Na ocasião, ele enfrentou justamente José Serra, ex-presidente da organização em seus tempos de estudante, que, perseguido pelo governo durante a Ditadura Militar, deixou a entidade e partiu para o exílio.

Doze anos após a vitória de Lula sobre Serra, a UNE, mesmo depois de manifestações históricas, greves, e declarações de seu então presidente denunciando as promessas não cumpridas do já governo Dilma, optou por apoiar a candidatura petista à presidência pela quarta vez consecutiva, manchando a reputação da organização que, desde 1938, defendia os estudantes brasileiros sem nunca antes agir em nome de projetos partidários.

ligação de lideranças da organização com o PCdoB nunca foi encoberta. Muitos dos principais quadros estudantis do partido foram, pela legenda, eleitos para cargos políticos diversos após encabeçarem a entidade – Wadson Ribeiro, Orlando Silva, Aldo Rebelo, Manuela d’Ávila e Lindbergh Farias, por exemplo.

Se esteve à frente das maiores manifestações do país pós-Ditadura Militar, como os movimentos “Diretas Já” e “Fora Collor”, a UNE absteve-se de articular qualquer grande manifestação política não inclusa na agenda governista desde a ascensão de Lula à presidência. Pior: agiram (e ainda agem) em defesa de seus aliados; entre eles, o governo venezuelano, o pior da América do Sul.

A atual presidente da entidade, Carina Vitral, não se conteve nos elogios dirigidos ao presidente-ditador mais homofóbico da América Latina; seus antecessores também não pouparam exaltações a Hugo Chávez e, durante o processo eleitoral venezuelano que culminou na eleição de Nicolás Maduro, o presidente da UNE à época, Daniel Iliescu, publicou uma série de vídeos manifestando apoio institucional à candidatura de Maduro.

“A UNE, hoje, tornou-se o braço estudantil do governo federal. Critica apenas o que é de interesse de seus membros em detrimento das verdadeiras necessidades dos estudantes brasileiros”, relata Pedro Duarte, presidente do DCE da PUCRJ. “As críticas da UNE aos cortes orçamentários na educação têm sido muito tímidas. Em vez de se apoiarem no pleito da sociedade, que hoje cobra do PT e de Dilma pela conta que estamos pagando, constroem essa ‘cortina de fumaça’, tornando-se um desserviço aos estudantes brasileiros. Deveriam criticar os verdadeiros responsáveis por todas as mazelas pelas quais a educação brasileira hoje passa: a presidente e o PT.”

Em 2015, notou-se o posicionamento da UNE diante de causas que pouco interessam diretamente os estudantes brasileiros: respostas do PT às passeatas de oposição, defesa da Petrobras e reforma política  – convém aqui pontuar a falta de vontade política do governo petista, desde o início do governo Lula, em realizá-la ). Se antes o apoio ao PT dava-se apenas durante o período eleitoral, agora a UNE passou a promover uma defesa sistemática da gestão petista.

Carina Vitral, eleita em junho, indica que seguirá imprimindo a já rotineira agenda política-partidária da UNE, defendendo a taxação de grandes fortunas e o fim do financiamento privado de campanhas políticas, temas (que deveriam ser) alheios ao movimento estudantil. Enquanto os cortes na educação realizados pela cúpula do governo Dilma, que já influenciam pesquisas científicas nas universidades e o ingresso de jovens no ensino superior via FIES, têm sido ignorados, a UNE volta-se ao combate de projetos defendidos no Congresso Nacional por Eduardo Cunha, atual presidente da Câmara dos Deputados. Diante de tais constatações, o viés da organização não poderia estar mais evidente.

Os jovens que não se contentam com os desfavores da UNE pouco podem fazer dentro da organização, visto o vasto domínio e influência legal da entidade sobre os estudantes brasileiros, além da total falta de transparência na escolha de seus delegados. Para contrapor o poderio institucional da UNE, jovens com novas ideias, organizados a partir de meios alternativos, devem fazer o que a UNE, domada e amestrada, não se digna a fazer: demandar por aquilo que o estudante brasileiro necessita, denunciar os equívocos do governo petista nos temas que afetam a juventude e atestar, por fim, o quão enganoso revela-se o lema “Pátria Educadora”.

Estudante brasileiro, você se sente representado pela UNE? Se uma pesquisa fosse realizada, uma resposta negativa da esmagadora maioria não seria surpreendente. Afinal, quantos são os estudantes simpáticos ao PCdoB, que domina a organização há anos? E se a UNE já não representa a maioria dos estudantes, a quem ela representa? O leitor deve saber a resposta.

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