Este texto foi publicado como contraditório a Eduardo Jorge“Por que vou pra rua no dia 15”Leia os dois lados do argumento antes de formar sua opinião.

O Movimento Brasil Livre tem convocado todos os descontentes com a presidência de Dilma Rousseff para um ato no próximo domingo, dia 15 de março. Apesar de toda minha convicção quanto ao péssimo governo da atual presidente, não comparecerei às ruas. E digo mais: não acho desejável, na atual circunstância, um impeachment.

Kim Kataguiri e Renan Henrique, coordenadores nacionais do MBL, escreveram um artigo na Folha de São Paulo convocando todos para o evento. Entre os principais pontos do artigo e demais postagens nas redes sociais estão o combate ao PT e o pedido imediato de impeachment. Apesar do país não ter instituições frágeis como a Venezuela e a Argentina, a queda de Dilma e a posterior posse de Michel Temer não me aparenta ser uma solução – mas sim um potencial perigo – para a economia brasileira.

O jogo político é mais dependente de uma conciliação de interesses e incentivos do que de ideologia propriamente dita. O fato é que o PT tem como principal preocupação fazer um sucessor para Dilma em 2018 e para isso a economia não pode permanecer como está. Algumas medidas liberalizantes para o ajuste fiscal serão tomadas por uma mera questão de sobrevivência. O grau de desespero no governo petista é tanto que colocaram Joaquim Levy no ministério da Fazenda, causando ira nos apoiadores históricos do partido.

A história também parece corroborar que em muitos casos medidas necessárias são mais facilmente implementadas pelos grupos políticos que, em tese, seriam contrários a elas. Reformas liberalizantes necessárias serão muito menos questionadas se feitas pelo PT de Dilma do que pelo PMDB de Michel Temer.

O MBL também questiona a alta carga tributária. Esquece-se, entretanto, que, segundo dados do IBPT, o aumento de impostos como proporção do PIB foi maior durante os 8 anos do governo FHC do que no igual período do mandato de Lula. Por que FHC não foi acusado de socialista por implementar esse grande aumento de impostos?

Outro caso emblemático é do Bolsa Família. Eduardo Suplicy, do PT, enfrentou grande dificuldade em seu partido para defender essa bandeira por ser entendida como uma política neoliberal. A oposição chama agora de uma medida socialista. Hoje, um dos seus maiores defensores é o liberal Ricardo Paes de Barros, em pleno governo petista. Contudo, isso não deve espantar-nos. Essa posição faz parte da gênese da mentalidade reacionária.

A militância e os publicitários do PT não têm muita dificuldade em pintar a oposição como elite branca e reacionária, enquanto ela comporta-se como tal. Resta a nós mostrar que a oposição ao governo atual nada se relaciona ao partido X, Y ou Z. A nossa crítica deve ser ao Estado, e não apenas ao governo atual.

Não podemos fornecer o monopólio da virtude para os inimigos da liberdade (PT, PSDB, entre outros). Como Mises e Hayek diziam: a luta pela liberdade e prosperidade deve ser no campo das ideias. Quando nos comportamos de maneira caricatural só causamos mais antipatia às nossas ideias. Por essas e outras ficarei em casa dia 15. O PT e a Dilma são apenas sintomas de nosso Estado predador.

 

Felipe Trentin é economista pela FEA-USP, ex-conselheiro executivo dos Estudantes pela Liberdade e colaborador eventual deste Mercado Popular. Publicado originalmente no Contramuros – projeto ótimo, novo e devidamente recomendado a todos. 

 
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