Ontem foi realizado o 1º debate para a eleição da segunda maior vitrine eleitoral do Espírito Santo: a prefeitura de Vitória. Do ponto de vista democrático, lamentavelmente o debate contou com a ausência de André Moreira (PSOL), pois as emissoras de rádio e TV são obrigadas apenas a convidar os candidatos cujos partidos possuam mais de nove Deputados Federais na Câmara. Assim, contou com a participação de Luciano Resende (PPS), Lelo Coimbra (PMDB), Amaro Neto (SD) e Perly Cipriano (PT).

O evento foi marcado por críticas à gestão do atual prefeito de Vitória, Luciano Resende. Elas foram feitas principalmente por Amaro Neto e Lelo Coimbra. Mas vale destacar que, ao contrário do que se vê em outros pleitos país afora, mais notadamente o Rio de Janeiro, embora uma ou outra alfinetada, o debate se ateve a questões pertinentes à cidade, não havendo ataques pessoais trocados entre os candidatos. Como primeiro debate, os políticos pareceram estar mais focados em se proteger e estudar os adversários.

Vencedor: Luciano Resende

O melhor do debate de ontem foi Luciano Resende, adotando uma estratégia de defender seu legado para Vitória. Mesmo tendo de responder a críticas dos outros três candidatos, conseguiu sair-se bem, amparado pelo estudo do Instituto Urban Systems que classificou tanto a Saúde quanto a Educação da cidade como a melhor do país dentre as cidades de médio porte.  O atual prefeito defendeu ainda o contexto em que obteve esse resultado: além da maior recessão econômica brasileira e que assola o país desde 2014, a cidade perdeu R$ 90 milhões de reais ao ano em arrecadação com o fim do Fundo de Desenvolvimento das Atividades Portuárias (Fundap), tendo de promover diversas medidas em busca do equilíbrio fiscal.

Entre os pontos negativos, um se deu em suas declarações finais, quando sustentou que precisou combater “uma crise que ninguém previu”, contrariando artigos de muitos economistas que previam uma grave crise em curto prazo.

Uma nota: Luciano assistiu a um “representante da classe cultural” criticar a falta de diálogo da gestão, e a atuação do “Disk-Silêncio”. Isso porque alguns estabelecimentos fecharam e colocaram a culpa na Prefeitura de Vitória que inviabilizou a atividade. Pelas regras do debate, ele não teve direito de resposta, mas a crítica merece ser analisada pelo candidato.

Dessa forma, vale ressaltar que precisando se defender das críticas elencadas pelos adversários, houve pouco espaço para Luciano mostrar suas propostas caso seja reeleito. Isso vai ficar para o segundo turno, em que ele provavelmente estará.

Também venceu: Amaro Neto

Com performance um patamar abaixo, Amaro Neto teve uma boa apresentação. Juntamente com Lelo Coimbra protagonizou várias “tabelinhas” para críticas a Luciano Resende, numa situação que lembrou um pouco a estratégia utilizada por Levy Fidelix e Aécio Neves mirando Dilma Rousseff nos debates presidenciais de 2014.

Primeiro colocado nos pesquisas, um de seus pontos fracos foi explorado mais de uma vez quando questionado sobre quem vai compor seu secretariado. A resposta foi genérica: argumentou não ter amarras políticas e nem empresariais, e por isso após ser eleito buscará formar sua equipe técnica com “os melhores profissionais”, mas sem indicar quem será sua equipe técnica, deixando a entender não ter esses nomes ainda.

Amaro defendeu aumento de salário para professores e melhor diálogo para com os servidores municipais. Talvez seu ponto alto tenha sido quando defendeu criar um “cinturão de segurança”, com a instalação de câmeras com tecnologia para identificar as placas de carros pela cidade, bem como a “Operação Presença”, que seria a abordagem a ônibus e táxis, por meio de ações integradas entre a Guarda municipal e Polícia Militar.

Amaro criticou o presidente da OAB/ES, Homero Mafra, por ter se declarado publicamente contra sua candidatura, por considerar o apresentador do Balanço Geral/ES como um “aventureiro”, opinião que muitos capixabas compartilham em relação ao jornalista, aliás.

O apresentador teve ainda de lidar com críticas por não ter nenhuma experiência no Executivo, o que é verdade. Outro fato negativo diz respeito a sua atuação como Deputado Estadual de primeiro mandato. No intuito de colocar-se como “produtivo”, alegou já ter apresentado até aqui “37 projetos de lei”, contribuindo para o equivocado senso comum de que quanto mais PLs apresentados e mais Leis aprovadas por um deputado, mais produtivo ele é.

Apesar de estar em primeiro lugar nas pesquisas, Amaro enfrenta dificuldades entre os eleitores mais escolarizados e de maior renda. Caso queira vencer a eleição, precisa explorar melhor esse público. É possível classificar Amaro com um vencedor do debate justamente porque ele aproveitou bem a oportunidade de mostrar-se a esse público, demonstrando que tem um projeto para a cidade, não se enquadrando como “aventureiro”, tampouco “inexperiente”.

Perdedor: Lelo Coimbra

Terceiro colocado na corrida eleitoral, o Deputado Federal Lelo Coimbra não conseguiu se destacar no debate. Pouco carismático, o médico chamou de “piada” a gestão de saúde na cidade, sua principal crítica à atual gestão. Luciano Rezende optou por fazer mais perguntas a Lelo que a Amaro, o chamando de “turista eleitoral” (insinuando que o político vem para Vitória apenas para pedir votos). Certamente, uma estratégia para impedir o crescimento de Lelo e garantir que ele não estará no 2º turno, assertiva que o peemedebista não respondeu com tanta veemência. O Deputado enfatizou seu trabalho no desenvolvimento do Plano Nacional de Educação (PNE), além da atuação contra as taxas dos terrenos de marinha.

Muitos avaliam que, devido a concorrência, não havia um ambiente propício para a entrada de Lelo neste certame, sendo um erro político sua candidatura. O fato é que o risco de não conseguir ir para o 2º turno é grande, e isso pode atrapalhar, inclusive, uma eventual campanha sua em 2018 (seja para Governador, Senado Federal ou novamente para a Câmara).

Cumpriu seu objetivo:

Perly Cipriano tem apenas 3%  das intenções de voto. Seu partido, sem nomes fortes na capital, indicou o experiente político e sua campanha basicamente tem sido um palanque para defender que o sucesso da gestão de Luciano Resende se deve as gestões de seus correligionários de partido Vitor Buaiz e João Cóser, que geriram a cidade entre 1989-1992 e 2005-2012, respectivamente. Seu espaço de campanha tem sido utilizado ainda para criticar o impeachment de Dilma Rousseff, e voltar-se contra Temer, embora ao longo do debate só tenha tocado no assunto em suas declarações finais.

O petista demonstrou dificuldades na oratória: em vários momentos teve a fala prejudicada por estourar o tempo. Entre suas falas de destaque, criticou a falta de concursos na gestão de Luciano Resende (pareceu uma crítica à política de austeridade de Luciano) e defendeu creches em tempo integral. Não chegou a incomodar os outros três candidatos. No geral, embora sem tanto brilho, cumpriu seu objetivo proposto no debate.

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