No dia 17 de abril foi aprovado por 367 votos favoráveis na Câmara dos Deputados a admissibilidade do processo de instauração do impeachment da presidente Dilma Rousseff, que seguiu para o Senado Federal, como já explicamos aqui. Entretanto, durante a votação, televisionada, parcela da população brasileira espantou-se com os argumentos que os Deputados usaram para justificar seus votos e cumpre aqui uma análise do porquê disso.
“Pelo aniversário da minha neta”, “pela minha filha que vai nascer”, “pela família quadrangular” e “em memória do meu pai” foram trechos das falas de deputados que fizeram alusão à família ao votar. “Pelos fundamentos do cristianismo”, “pela renovação carismática” e “pela nação evangélica” são exemplos de votos com argumentação de cunho religioso. Outros exemplos estão listados aqui. Vale ressaltar que aconteceu fato semelhante no afastamento de Fernando Collor, o que mostra que não evoluímos muito nesse sentido após mais de duas décadas. Porém, seriam esses votos compreensíveis, fariam eles sentido?
Na teoria econômica trabalha-se estudando agentes econômicos, como pessoas e empresas. Resumidamente, entende-se que as pessoas buscam estar, amanhã, em uma situação melhor do que a que estão hoje e as empresas buscam ter, amanhã, mais lucro ou buscar algum objetivo específico. No jargão econômico, indivíduos maximizam utilidade e firmas maximizam lucro.
Podemos aplicar o mesmo raciocínio à política, ou melhor, ao político, como uma escola de pensamento chamada Teoria da Escolha Pública, de fato, faz. O político, nesse caso, o deputado, é um agente que busca maximizar o número de votos, ou seja, busca manter ou ampliar o seu eleitorado para que possa, na gestão posterior, continuar em um cargo público. É um caso de sobrevivência enquanto político.
Analisemos agora a situação da votação do impeachment: ampla divulgação em horário nobre, forte audiência e interesse da população e, supostamente, alguns segundos “de holofotes” para cada deputado. Tal tempo de fala foi uma oportunidade perfeita para que o deputado pudesse atuar no sentido de maximizar seu eleitorado. Partindo do fato de que a população brasileira é, em grande parte, religiosa e, predominantemente, católica ou evangélica, acreditando, em sua ampla maioria, que crer em Deus torna as pessoas melhores e, por consequência, acredita no valor da família, ao associar seu nome e imagem a tais valores, o deputado em questão está aumentando sua probabilidade de obter votos no futuro.
Também é possível olhar por um ponto de vista do voto segmentado. Alguns deputados têm seus votos concentrados em determinados segmentos da sociedade. Além do segmento religioso, podemos notar o direcionamento de alguns outros votos a frações específicas de eleitores; “pelos maçons do Brasil”, “pelo setor gerador de renda, o setor agropecuário”, “pelos militares de 64”, “pelos médicos brasileiros” e “por todos os corretores de seguros”, são exemplos.
Já outros deputados buscaram associar sua imagem ao amor as suas terras de origem ou estados como podemos ver nos trechos de votos “por causa de Campo Grande, a morena mais linda do Brasil”, “pelo povo destemido e pioneiro do estado de Rondônia”, “em homenagem ao aniversário da minha cidade” e “pelo melhor estado, o Tocantins”. Repetindo o que aconteceu no impeachment do ex-presidente Collor, poucos parlamentares votaram explicitando as questões técnicas pelas quais o pedido de impedimento foi colocado.
Nesta quarta-feira, 11 de maio, ocorrerá a votação no Senado. Podemos esperar que esses votarão da mesma forma que os Deputados? A resposta é: depende. O estilo de votação dos deputados foi extremamente divulgado, debatido e criticado, tanto na mídia tradicional quanto nas mídias sociais, gerando um custo de imagem para tal atitude.
Caso os senadores entendam, subjetivamente, que esse custo é o maior que o benefício que podem obter ao fazer alusão a valores da sociedade brasileira, seus eleitores setoriais, ou seus estados, votarão de forma mais “responsável”. Caso contrário, teremos uma votação parecida com a da Câmara dos Deputados. Muito provavelmente teremos uma mistura de ambos os casos, com, proporcionalmente em relação a votação anterior, mais parlamentares votando baseados nos termos legais e políticos atrelados ao processo em questão.