A prisão preventiva de Marcelo Odebrecht, presidente do grupo Odebrecht, um dos maiores conglomerados do Brasil é um momento único na história do país.  Para alguns é mais um dos excessos autoritários do juiz Sérgio Moro. Para outros, é o ínicio do fim do “capitalismo de compadrio”.

Capitalismo de compadrio (crony capitalism) é um termo que descreve uma economia em que o sucesso nos negócios depende de relações estreitas entre empresários e o governo. O compadrio pode ocorrer através do favoritismo nas licitações, concessões, empréstimos, subsídios do governo, isenções fiscais ou outras formas de intervencionismo estatal. Neste ponto, não haveria maior ícone para o capitalismo clientelista que a relação Odebrecht-Brasília.

Alimentada pelo governo brasileiro, a Odebrecht conta com Lula como seu principal lobbysta e o estado brasileiro como seu principal cliente, financiador e sócio. De acordo com o Portal da Transparência, apenas em gastos diretos da União, a empreitera recebeu R$ 1,1 bilhão de reais no ano passado. Com a Petrobrás, são mais de 17 bilhões de reais em contratos. Mas há ainda mais – e o BNDES é a caixa preta. 

Entre 2009 e 2014, a Odebrecht recebeu US$ 5 bilhões para financiar suas exportações (“pós-embarque”) a governos e empresas estrangeiras. Este valor corresponde a 41% de todos os empréstimos do período  e apenas é comparável aos empréstimos à Embraer, com US$ 4,9 bilhões (40%). Logo depois, três outras construtoras: Andrade Gutierrez (US$ 802 milhões, ou 7%), Queiroz Galvão (US$ 254 milhões, ou 2,1%) e Camargo Corrêa (US$ 216 milhões, ou 1,8%).

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50 maiores beneficiários do BNDES (empréstimos voltados a exportação)

Os US$ 5 bilhões recebidos do BNDES têm como lastro 35 contratos para financiar obras de infraestrutura. Com 32 governos estrangeiros como clientes, as obras da Odebrecht incluem o porto de Mariel, em Cuba, e o metrô de Caracas na Venezuela. Além de hidrelétricas, gasodutos, rodovias, obras de saneamento, aeroportos, linhas de transmissão em Angola, Argentina, Equador, República Dominicana e outros países.

Mas isso não é tudo. Os créditos do BNDES continuam uma caixa preta. A lista acima não inclui o crédito para fabricação e exportação de produtos (“pré-embarque”) que entre 2009 e 2013 atinge o montante de US$ 26 bilhões. Essa informação não é divulgada pelo BNDES.

epoca-capa-edicao-ele-ameaca-derrubar-a-republicaO juiz federal Sérgio Moro e a Operação Lava Jato podem sim ter cometido excessos. O devido processo legal é para todos e deve ser respeitado. Mas algo ninguém há de negar: Petrobrás, Odebrecht, BNDES e Brasília têm muito o que explicar. Inspirada na Mani Pulite – mega-operação que desmoronou a máfia e a corrupção italiana – a tática de Moro é apostar na prisão preventiva e delação premiada para acabar com toda a rede, atingir os inalcançáveis. Tem funcionado. Conforme a Revista Época, Emílio Odebrecht deixou seu recado: “Se prenderem o Marcelo (filho de Emilio e atual presidente da empresa), terão de arrumar mais três celas: uma para mim, outra para o Lula e outra ainda para a Dilma.”

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