Como Trump, Bolsonaro pegou os diversos especialistas de surpresa. As eleições de 2018 mostraram que certos consensos sobre política e eleições – por exemplo, a relevância da propaganda em TV e rádio – não foram significantes para determinar as escolhas dos brasileiros nas urnas. A cada dia que passa, Bolsonaro e o seu bolsonarismo demonstram ser animais novos na fauna política brasileira. Um novo ser cujas semelhanças com Trump vão muito além da rápida e inesperada ascensão ao poder, dos trejeitos, dos ataques a imprensa e preferências políticas.

Trump consolidou uma base sólida na sociedade norte-americana ao redor de si e, talvez, Bolsonaro tenha sido capaz de ter feito o mesmo no Brasil e, por conseguinte, mudado o status quo da política brasileira.

O presidente dos EUA assombra a política do seu país por diversos motivos. Um deles é a sua histórica baixa popularidade, apesar dos bons resultados da economia (antes da pandemia do COVID-19). Como as pesquisas mostram, e o gráfico abaixo também, Trump jamais foi capaz de superar 50% de aprovação:

Por outro lado, Trump sempre teve pelo menos um terço dos americanos o apoiando. O apoio trumpista é sólido na base republicana. Em sua maioria, é composto por pessoas brancas, moradores de áreas rurais no sul e meio-oeste americanos.

O impressionante do fenômeno Trump, no entanto, foi a sua capacidade de transformar essa base de apoio ao partido em uma base pessoal – contrariando, inclusive, certos valores que eram caros ao partido. Os republicanos que rejeitam Trump (“Never Trump Republicans”) foram para o ostracismo e o partido Republicano atualmente gira ao redor do presidente.

Bolsonaro não chegou à presidência a partir de um partido forte e consolidado. O PSL era virtualmente irrelevante no cenário político nacional. Mesmo assim, as curvas de aprovação (pessoas que avaliam o governo com ótimo ou bom) e reprovação (quem considera a gestão ruim ou pésima) de Bolsonaro comportam-se de maneira semelhante às de Trump.

Na maior parte do seu mandato, Bolsonaro não consegue ter a maioria da população o aprovando. Mas, da mesma forma que Trump, o presidente brasileira consegue manter uma sólida base de popularidade.

Esse comportamento da opinião pública aproxima Trump e Bolsonaro e é marcadamente diferente do que se viu na gestão dos demais presidentes eleitos desde que o Brasil teve sua redemocratização:

Aprovação líquida = Aprovação – Reprovação

Pode-se dizer que a relação da opinião pública com presidentes brasileiros eleitos desde 1988 teve quatro movimentos no início dos seus mandatos.:

Collor, o primeiro presidente depois da redemocratização não tem uma “lua de mel” e a sua avaliação cai de maneira praticamente contínua, levando ao seu impeachment.

FHC e Lula tiveram o comportamento mais esperado em líderes ao redor do mundo. Eles tiveram uma lua de mel com a opinião publica nos primeiros meses do seus mandatos que se deteriora com o tempo.

Dilma, por outro lado, tem uma lua de mel longa, resultante do sucesso econômico e do senso de combate à corrupção que marcou o início do seu governo. Mais tarde, sua popularidade sofre um enorme baque a partir das manifestações de 2013, período que não aparece representado no gráfico.

Com Bolsonaro é diferente. Não há uma lua de mel, mas, diferentemente de Collor, ele tem conseguido manter uma base sólida de apoio. É essa base que leva à hipótese de que Bolsonaro seja semelhante a Trump na sua relação com a opinião pública. Como Trump, Bolsonaro personifica um das grandes forças políticas nacionais: o antipetismo.

Bolsonaro, petismo e antipetismo

No livro “Partisans, antipartisans, and nonpartisans: Voting behavior in Brazil”, publicado em 2018 pelos cientistas políticos David Samuels e Cesar Zucco argumentaram que o antipetismo se assemelha a um partido em algumas de suas características. Trata-se de uma identidade que agrupa pessoas com ideias semelhantes. Os autores afirmam, ainda, que o antipetismo se baseia em um apoio à lei e à ordem.

O feito de Bolsonaro foi transformar o antipetismo em algo que gira ao seu redor. Em grande parte, o antipetismo se tornou o bolsonarismo. Nem mesmo importantes defecções de apoiadores do presidente, como Sérgio Moro, indicam uma mudança significativa nesse cenário, de acordo com as últimas pesquisas.

O entendimento das possibilidades do que pode acontecer com o governo Bolsonaro passa pela análise do outro lado da moeda: o petismo.

A história do petismo inclui os dois extremos de popularidade. Por um lado, Lula saiu da presidência com aprovação recorde e virtual hegemonia na política brasileira. Por outro lado, Dilma sofreu um impeachment e terminou sua carreira eleitoral com um vexatório quarto lugar na eleição para uma vaga no Senado em Minas Gerais.

Bolsonaro parece ser uma estranha mistura do petismo com o antipetismo. Por um lado, assemelha-se a Lula por ser o líder carismático que aglutina e mobiliza um movimento popular e político. Mesmo quando estava preso, havia uma mobilização favorável a Lula. Se minha análise estiver correta neste aspecto, o mesmo deve ocorrer com Bolsonaro no futuro, em condições adversas.

Por outro lado, Bolsonaro demonstra a mesma inépcia de Dilma na articulação e construção de alianças mínimas no Congresso. Soma-se a isso a contínua crise econômica por que o país passa, dificultando qualquer perspectiva de adquirir apoio junto ao segmento não-partidário que não é nem petista nem anti-petista.

Assim, é difícil afirmar se Bolsonaro termina o mandato, perde em 2022 ou é reeleito. A fragilidade e a pulverização partidária no Congresso Nacional impede que qualquer presidente assegure totalmente a inviabilidade de um processo de impeachment. O fim do fisiologismo e do “toma lá, dá cá” entre executivo e legislativo perpassa, necessariamente, pela uma redução e fortalecimento dos partidos.

O que está claro que vai acontecer é que o movimento bolsonarista veio pra ficar e se tornar uma das forças da política nacional, junto com o lulo-petismo. No entanto, esses dois grupos somados estão longe de terem a maioria absoluta da preferência da sociedade brasileira. Há espaço para uma terceira via.

* Manteremos atualizada a aprovação de Bolsonaro e demais gráficos. Para ajudar nesse trabalho, envie novas pesquisas de opinião para conta no twitter @raduan_

Veja mais:

Collor

Itamar

FHC

Lula

Dilma

Temer

Compartilhar