Análises futebolísticas para a política brasileira no ano da Copa™ – e o que isso significa para os liberais

* por Roberto Xicó

Talvez cumprindo a visão de Nelson Rodrigues de que somos a pátria de chuteiras, o ano de 2014 da política brasileira pode ser entendido como uma partida de futebol. A beleza analógica entre o esporte bretão e o Brasil do próximo ano é que tudo pode acontecer – inclusive nada.  Podemos ter um 0 a 0 chato em que se tem uma Copa do Mundo® com relativo sucesso da organização e da seleção e a reeleição tranquila da presidenta Dilma.

Bem amigos, é bem verdade que eu não sou nem Paulo Vinícius Coelho nem Juca Kfouri, mas vou dar meu pitaco assim mesmo. Me parece que o mais provável será um jogo emocionante – uma partida acirrada com muitas expulsões e tudo que um jogo de mata-mata merece.

Primeiramente, há o iminente fracasso das ações públicas que permitiriam algum tipo de legado do evento ludopédico. As obras de mobilidade urbana, por exemplo, estão atrasadas em diversas cidades-sede.

De acordo com o matemático Tristão Garcia, isso indicaria que o jogo teria 90% de chances de ser rebaixado para um período com manifestações maiores e mais intensas. Por sua vez, a decorrência lógica de um período de perturbação política seria maior repressão policial e legal  – tanto para agradar a FIFA™, quanto para não ameaçar a campanha eleitoral em outubro.

Vê-se que um dos principais jogadores em campo – a sociedade brasileira – vai ser muito acionado no meio de campo político. O comportamento desse camisa 10 é fundamental para ver qual vai ser a temperatura desse ano que se aproxima.

Os partidos políticos, por sua vez, nos mostram que jogar com o regulamento debaixo do braço, em um jogo que com o empate ambos são classificados, está dando seus sinais de esgotamento. O ano que hoje termina nos mostrou diversos atritos que devem se tornar mais fortes com a perspectiva eleitoral.

O ano que vem aponta o surgimento de novas forças políticas no país, que podem quebrar a hegemonia dos partidos que dominam a política brasileira há 20 anos. Além disso, essas forças já causam rupturas em um governo que, pelas barbas do profeta!,  comporta o comunistas ateus PCdoB™ e os televangelistas do PSC®.

O resultado desse jogo pode ser diverso. Pode acabar em porradaria digna de quartas de final da Libertadores. Podemos ver em 2014 o primeiro ciclo completo eleitoral em que os dois lados dominantes políticos ganham e perdem o governo pós-88. Se isso acontecer e a transição ocorrer de maneira madura teremos, um avanço gigantesco em favor do liberalismo democrático e de fortalecimento institucional. Fato importantíssimo para um país que ainda não tem plena confiança no regime democrático. Se a transição for tranquila, isso é uma vitória para os que esposam princípios liberais, que enfatizam a importância de instituições previsíveis e clara definição de direitos para a prosperidade social.

Para o especial interesse de nossos telespectadores neste blogue, temos um elemento surpresa: a potencial escalação do movimento liberal. Assim como Obina, o movimento é um xodó, mas em geral fica no banco. Mas esse ano o dono da camisa (19)84, está se aquecendo e querendo entrar em campo. Talvez entre, principalmente, porque ter sido quebrado o “monopólio” da esquerda socialista sobre o engajamento em manifestações populares. Isso não quer dizer que todos os que se manifestam são liberais, mas certamente indica uma disposição para ouvir algo novo.

O camisa 84 traz habilidades e táticas novas para campo, mas os torcedores ainda desconfiam dele. Dizem que ele é individualista e que gosta mais de tuitar e gravar entrevista do que entrar em campo. Além disso, há quem diga que o 84 queria mesmo é jogar pelo time dos gringos.

Pra entrar em campo em campo de verdade, no entanto, este precisa servir como um jogador de suporte, alguém que dê assistência aos anseios do número 10 – a sociedade brasileira. Anseios estes por mais liberdade social, econômica e política. Precisa fazer propostas marginais por uma sociedade mais livre, justa e produtiva, que respeite a cultura popular, rejeite hierarquias e elitismos, inclua minorias excluídas (como gays e mulheres), se preocupe com os pobres e as gerações futuras e alcance – como nossos vizinhos – melhoras contínuas no bem estar das pessoas, ampliando sua liberdade. Propostas objetivas, sem purismos que criam esteriótipos.

Em 2014, temos que aproveitar pelo a chance dada pelo professor e entrar para ajudar camisa 10 no caminho para o gol. Temos que parar de ficarmos nessa posição confortável de eterna oposição, de donos da verdade em cima de torres de marfim, escrevendo blogues e em comunidades de feicebuque que as mesmas pessoas vão ler e dar tapinhas nas costas dizendo que a gente é foda.

Se as pessoas forem as ruas, vá junto. Busque entender o que os aflige e mostrar, com humildade, que há uma opção liberal que pode ser a solução para esse problema. O campeonato é duro e o caminho será longo, mas lembre-se que é impossível ir da Série C para a Série A da política sem passar pela Série B – a não ser que você seja o Fluminense.

xico Roberto Xicó é cientista político que era marxista e se tornou liberal na universidade. Ele não sabe como. Só sabe que foi assim. Seus interesses são política, história, MPB e tecnobrega. Ele não vai falar de economia porque acha isso um saco.

Compartilhar