No dia 6 de junho de 1944, cerca de 100 mil soldados, 6 mil navios e 5 mil aviões aliados invadiram a Normandia, na França, abrindo uma nova frente na Segunda Guerra Mundial. O Dia D não foi o da decisão de qual lado havia vencido a guerra, mas sem dúvidas foi um dos que melhor simbolizou a arrancada para a vitória dos aliados, alguns meses depois.

A próxima terça, dia 1º de março, será o dia mais importante na corrida presidencial americana até o momento. Conhecida como Super Terça (Super Tuesday), a primeira terça do mês de março será o dia em que 13 estados e 1 território americanos decidirão quais são seus candidatos preferidos nos dois principais partidos do país, o Democrata e o Republicano.

Para obter a nomeação em cada partido, os candidatos devem obter certo número de delegados (não necessariamente de votos populares). Os delegados são distribuídos por estados de acordo com sua população e com os critérios específicos de cada partido. Para obter a nomeação Democrata, um candidato deve obter pelo menos 2383 delegados de um total de 4764, já para a nomeação Republicana, o candidato deve obter 1237 de um total de 2472. Em ambos os partidos, são necessários mais da metade dos delegados para ser nomeado. Em alguns estados, o candidato recebe uma quantidade de delegados proporcional aos votos populares que recebeu. Em outros, o sistema é winner takes all, isto é, o candidato que recebe a maior quantidade de votos fica com todos os delegados do estado.

Dentre os 13 estados disputados na Super Terça, sendo eles Alabama, Arkansas, Colorado, Georgia, Massachusetts, Minnesota, Carolina do Norte, Oklahoma, Tennessee, Texas, Vermont, Virginia, Wyoming e o território, American Samoa, os mais importantes são os estados do Sul, em especial o Texas. Sendo o segundo maior estado em número de eleitores, o Texas tem sido considerado a “joia da coroa” da Super Terça.

A Super Terça recebe tantos holofotes porque é nela que se disputa o maior número de delegados. Para os Democratas, por volta de 1/3 do necessário para a nomeação. Para os Republicanos será ainda mais relevante, por volta de metade dos 1237 necessários.

Os Candidatos

Sanders e Clinton

Debate Democrata

No lado Democrata, só restam dois candidatos, Hillary Clinton e Bernie Sanders, disputando a nomeação e o apoio do atual presidente, Barack Obama.

  • Hillary Clinton: Casada com o ex-presidente Bill Clinton, além de primeira-dama, Hillary já foi senadora pelo estado de Nova York e Secretária de Estado no governo de Obama. Hillary promete dar continuidade ao trabalho de Obama, especialmente nas reformas do setor de saúde e na recuperação econômica. Hillary tem tido uma pegada moderada na economia e tem discordado das propostas radicais do socialista Bernie Sanders, que propõe socializar totalmente a saúde e aumentar impostos sobre os americanos para financiar suas reformas, além de aumentar barreiras ao comércio internacional. Os principais desafios de Hillary serão os de convencer a maioria dos eleitores que ela representa bem os valores do partido, mesmo se mantendo moderada em relação a Sanders; ao mesmo tempo, tem de se blindar contra uma investigação do FBI em relação a supostas quebras de segurança de documentos oficiais enquanto ocupava o cargo de Secretária de Estado, que podem ter colocado americanos em risco. Hillary pode vir a ser processada e, mesmo se não condenada, somente a investigação pode lhe custar a eleição já que, por si só, ela já constitui um evidente material a ser explorado pelo eventual candidato republicano.
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Debate Republicano

No lado Republicano, ainda restam 5 candidatos: Donald Trump, Ted Cruz, Marco Rubio, John Kasich e Ben Carson. Apesar de serem 5, já se considera que apenas os três primeiros têm condições de obterem a nomeação, pois a diferença deles para os dois últimos já é bastante significativa. Eles disputam o lado do país que sente que os Estados Unidos não são mais a grande referência mundial de outrora e que não aprova o trabalho realizado nos últimos anos pelo presidente Obama.

  • Donald Trump: Magnata da construção civil e estrela de reality shows, o bilionário tem atraído muitos eleitores insatisfeitos com o establishment político americano. Como nunca ocupou nenhum cargo eletivo, Trump tem obtido a maior parte do seu apoio devido a sua atitude de polarização em relação aos demais candidatos, além de sempre tomar posições extremas em todos os casos. Diz que é rico (muito rico) e não precisa de doações, enquanto os outros precisariam e por elas se venderiam aos doadores. Em relação à imigração, diz que vai deportar todos os 12 milhões de imigrantes ilegais, além de restringir a imigração de muçulmanos. Em relação à saúde, diz que vai repelir completamente a reforma de Obama e que os outros candidatos já com cargos eletivos, especialmente Rubio e Cruz, ambos senadores, não conseguiram faze-lo pois são políticos profissionais e políticos profissionais discursam, prometem, mas não fazem. Por fim, em relação ao comércio internacional, propõe criar diversos impostos de importação para fazer com que empregos voltem do México, China e Vietnam para os EUA. Seus principais desafios serão os de provar para os eleitores republicanos que compartilha de seus princípios e que tem consistência, não simplesmente mudando suas posições ao sabor do vento. Terá de resistir aos ataques crescentes que vem, principalmente, de seu próprio partido, de pessoas que o acusam de ser um democrata, visto que Trump doara para John Kerry, Chuck Schumer e Hillary Clinton, três dos principais políticos democratas.

Conclusão

No lado democrata, os candidatos têm se atacado menos que no lado republicano, até porque as principais diferenças entre eles não são de conteúdo, mas de forma e intensidade. Isso fortalece o candidato do partido, pois fica bastante claro que o candidato vencedor das primárias receberá o apoio de boa parte dos eleitores do derrotado. No caso de Sanders, há o receio de que se o socialista ganhar a nomeação, entregue de bandeja a vitória aos republicanos por soar muito radical e afastar moderados e independentes. No caso de Clinton, há o receio de que caso a investigação do FBI vá para frente, seu desgaste seja alto o suficiente para barrar sua vitória, entregando, assim, a vitória aos republicanos. Ainda há a possibilidade do atual vice-presidente Joe Biden entrar na corrida presidencial em caso de algum problema com a candidatura de Clinton.

No lado republicano, a divergência e os ataques têm sido mais constantes, especialmente entre os três primeiros candidatos, entre os quais o nível da disputa tem caído muito nas últimas semanas. Um candidato tem acusado o outro de inconsistência e de espalhar mentiras. Isso fragmenta o partido e faz com que o candidato vencedor das primárias obtenha menos apoio do partido Republicano como um todo, dificultando a vitória do mesmo. Cruz tem, ainda, a desvantagem adicional de ter nascido no Canadá, o que faz com que os outros possam usar tal fato politicamente para desgastá-lo.

A Super Terça será o Dia D dessas eleições, pois dependendo do resultado, a diferença entre os candidatos pode aumentar ao ponto de já sinalizar qual deles obterá a nomeação em cada partido. Atualmente, os favoritos são Donald Trump e Hillary Clinton, por republicanos e democratas, respectivamente. Eles lideram as pesquisas na maior parte dos estados, mas tudo pode mudar, já que em alguns estados as margens estão apertadas.

Fiquem bastante atentos. O próximo presidente dos Estados Unidos pode arrancar para a vitória nos próximos dias.

Atualização

Os resultados, em número de delegados obtidos, da Super Terça(1/3/3016) são — em negrito estão os vencedores:

Alabama:

  • Republicanos: Trump (36), Cruz (13), Rubio (1), Kasich (0), Carson (0)
  • Democratas: Clinton (44), Sanders (9)

Alaska:

  • Republicanos: Trump (11), Cruz (12), Rubio (5), Kasich (0), Carson (0)

Arkansas:

  • Republicanos: Trump (16), Cruz (14), Rubio (4), Kasich (0), Carson (0)
  • Democratas: Clinton (22), Sanders (10)

Colorado:

  • Republicanos: o caucus realizado aloca delegados
  • Democratas: Clinton (28), Sanders (38)

Georgia:

  • Republicanos: Trump (40), Cruz (18), Rubio (14), Kasich (0), Carson (0)
  • Democratas: Clinton (72), Sanders (28)

Massachusetts:

  • Republicanos: Trump (22), Cruz (4), Rubio (8), Kasich (8), Carson (0)
  • Democratas: Clinton (46), Sanders (45)

Minnesota:

  • Republicanos: Trump (8), Cruz (13), Rubio (17), Kasich (0), Carson (0)
  • Democratas: Clinton (29), Sanders (46)

Oklahoma:

  • Republicanos: Trump (13), Cruz (15), Rubio (12), Kasich (0), Carson (0)
  • Democratas: Clinton (17), Sanders (21)

Tennessee:

  • Republicanos: Trump (31), Cruz (15), Rubio (9), Kasich (0), Carson (0)
  • Democratas: Clinton (42), Sanders (22)

Texas:

  • Republicanos: Trump (47), Cruz (102), Rubio (3), Kasich (0), Carson (0)
  • Democratas: Clinton (145), Sanders (74)

Vermont:

  • Republicanos: Trump (6), Cruz(0), Rubio (0), Kasich (6), Carson (0)
  • Democratas: Clinton (0), Sanders (16)

Virginia:

  • Republicanos: Trump (17), Cruz (8), Rubio (16), Kasich (5), Carson (3)
  • Democratas: Clinton (61), Sanders (33)

American Samoa:

  • Democratas: Clinton (4), Sanders (2)

 

Ben Carson abandonou a corrida pela nomeação após os resultados de terça-feira.

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