Por Tim Worstall, traduzido para o Instituto Mercado Popular.
É fato: a Venezuela era um país em desenvolvimento e agora está caminhando na direção do caos e da miséria. No entanto, o que mais importa aqui é a razão pela qual tudo isso está acontecendo. Frequentemente, temos visto revoltas motivadas pela falta de comida, justamente nas partes do país que mais deveriam ser beneficiadas por políticas públicas. Como podemos ver:
“O país já teve 37 presidentes e nenhum deles nos trouxe para uma situação como esta”, bravejou uma senhora a um policial. O oficial respondeu: “Nós também estamos sofrendo. Mas não tem comida aqui. Vá para casa”.
Verônica Gonzales, 46, técnica em computação, disse que a polícia, junto a pessoas que trabalham no transporte público, está se associando a alguns grupos que atuam no mercado negro, conhecidos como “bachaqueros”, ou “formigas-cortadeiras”, os quais atuam fazendo filas nas lojas para comprar produtos e depois vendê-los por um preço muito maior. “É tudo uma máfia”, disse ela.
O que tem surpreendido é que essas revoltas — às vezes meia dúzia por dia na capital — acontecem nos guetos nos quais reside a classe trabalhadora, longe das áreas habitadas pela classe média, onde o apoio à oposição é tradicionalmente mais forte. A oposição, que controla o congresso, está tentando promover um referendo para tirar Nicolás Maduro do poder, mas isso levaria tempo. E como as pessoas estão famintas, a preocupação prioritária delas é obter comida.
Para pôr fim às longas filas e ao mercado negro, o governo recentemente começou a distribuir comida diretamente aos conselhos comunitários.
Não foi o socialismo que causou tudo isso. E não, nós não estamos dizendo isso naquele sentido de que “o verdadeiro socialismo jamais foi tentado, então por isso não é ele o culpado”. O socialismo se dá quando não são os capitalistas que detêm os meios de produção, mas sim algum grupo de caráter mais comunitário. Tanto a Co Op como a Waitrose, que atuam em nosso mercado alimentício, são empreendimentos socialistas. Uma pertence aos consumidores e outra a seus trabalhadores. Ambas parecem funcionar muito bem dentro da lógica da competição de mercado e do sistema de preços.
E foi exatamente nisso que a Venezuela errou: a questão do mercado e dos preços. Como Mises mostrou e Hayek desenvolveu, nós simplesmente não possuímos nenhum mecanismo que torne possível coordenar algo tão complexo como a economia sem a utilização dos preços e do mercado. Na verdade, até o único economista soviético a vencer um Prêmio Nobel, Kantorovich, concluiu que nós devemos começar com os preços de mercado para só então partirmos para qualquer outra coisa.
Esse tipo de desastre acontece porque as pessoas acham que os preços são apenas números arbitrários, que são atribuídos aleatoriamente. De jeito nenhum. Eles são a informação essencial que indica quem quer o quê, onde e quais recursos devem ser alocados para a produção das coisas.
Isso tem implicações óbvias para nós que estamos em uma posição mais confortável. Nós não apoiamos mais programas de habitação social, por exemplo, pois acreditamos que a propriedade privada produz melhores resultados. Mas isso é uma questão menor quando comparada à mais importante: independentemente do que fizermos com a habitação ou com os aluguéis, nós devemos deixar o sistema de preços funcionar, isto é, sem haver controle de preços. Da mesma forma, nós não estamos preocupados se as pessoas preferem trabalhar numa cooperativa socialista de trabalhadores ou numa empresa mais capitalista. O que precisamos fazer é gerir nosso sistema de assistência social por meio da redistribuição de renda, em vez de arruinar o sistema de preços com a imposição de um salário mínimo, por exemplo.
A conclusão aqui, o ponto que todos nós devemos lembrar, é que há, de fato, uma diversa gama de alternativas dentro do espectro que vai desde o “capitalismo selvagem” a, sim, até mesmo tipos viáveis de socialismo. Esses socialismos viáveis devem ser voluntários, é claro, mas nós já podemos vê-los funcionando bem aqui na nossa frente. A forma pela qual a ação coletiva é organizada é muito menos importante do que insistir que tudo deve ser sujeito às mazelas do mercado. É o que Mises e Hayek diziam: o mercado é dependente dos preços.
A verdade é que sistemas sem mercado simplesmente não funcionam como sistemas econômicos. E trabalhar, ser capaz de satisfazer ao menos algumas necessidades e desejos humanos, é o que mais queremos num sistema econômico. Dessa forma, independentemente do que façamos, devemos agir com base em uma lógica de mercado.