1. A criação do Euro e a fraude do governo grego levou as pessoas a subestimarem o risco da dívida grega.

Com a criação do Euro – a moeda comum europeia – ocorreu uma convergência nas taxas de juros que os diversos países da União Europeia pagavam em sua dívida. A lógica por trás de tal convergência é que, como os países europeus passavam a seguir critérios de estabilidade econômica comuns em relação à dívida pública, inflação baixa e orçamento do governo (conhecidos como Critérios de Maastricht), esperava-se que o risco de se emprestar dinheiro a esses países fosse similar. O que não se esperava é que o governo grego usasse de pedaladas fiscais e financeiras para parecer que estivesse seguindo tais critérios, quando na verdade não estava. Numa combinação entre fraude fiscal e falhas dos agentes financeiros, o risco de se emprestar dinheiro à Grécia foi subestimado – e isso se tornou claro com o despontar da crise, em 2009.

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2. O governo grego gasta mais do que arrecada há 15 anos.

Desde pelo menos o ano 2000 que o governo grego gasta muito mais do que arrecada com impostos (em economês, chamamos isso de um déficit orçamentário). O déficit do governo grego durante toda a decáda de 2000 foi maior do que o permitido pelas regras da União Europeia (que tem um limite de -3% do PIB). No auge da crise, o governo chegou a um déficit de quase 15% da soma de todos os produtos e serviços produzidos pela economia grega durante um ano!

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3. A Troika suavizou os impactos da austeridade e sem ela o efeito seria pior.

Mesmo se a gente remover do orçamento aquilo que o governo grego gastou com juros da dívida, eles continuavam gastando muito mais do que arrecadavam. No auge da crise, esse déficit  que exclui o pagamento de juros (chamado de “déficit primário”) era de mais de 10% do PIB. Se a Troika – apelido para a trinca composta pela Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o FMI – não tivesse dado aos gregos acesso a 110 bilhões de euros em crédito especial a juros subsidiados, o governo não teria como financiar os seus gastos com dívida e teria que fazer o ajuste imediatamente. Isso porque, sem poder se endividar ainda mais, ele seria forçado a gastar somente o que arrecada com impostos. A mal-fadada austeridade, que levou cinco anos para ajustar as contas gregas, na ausência de financiamento externo, teria que ser feita em um ano só. 

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4. Depois de cinco anos e alcançado um superávit, a dívida grega começou a estabilizar.

Por causa da combinação de desequilíbrios passados, aumento repentino de juros e fraude fiscal, o governo grego teve que passar por um longo e doloroso processo de corte de gastos e aumento de impostos para equilibrar seu orçamento primário, como visto acima. Depois de cinco anos de déficits e contração econômica, a dívida pública grega, que já era muito alta, cresceu muito. A partir de 2011, ela finalmente se começou a se estabilizar – o que aponta para o fato de que os ajustes deram algum resultado. Mas ela se estabilizou em níveis muito altos, cerca de 170% do PIB, o que torna o financiamento dela bem caro e exigirá muita disciplina fiscal do governo no futuro para evitar que ela se torne explosiva.

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5. A crise e o ajuste tiveram grande impacto sócio-econômico sobre a população grega.

Apesar da dívida pública ter finalmente se estabilizado, o processo de correção dos excessos passados do governo grego, mesmo suavizado ao longo de cinco anos, teve um impacto sócio-econômico enorme sobre a população. A produção anual de produtos e serviços da economia grega foi reduzida em cerca de 25% e um em cada quatro gregos está desempregado. Isso explica o porquê de a população estar tão enfurecida com políticos de outros países europeus, colocando neles a culpa pela situação. Mas mesmo que o resto da Europa não tivesse interferido e a Grécia tivesse dado o calote em 2009, a austeridade teria ocorrido. Como você pôde observar, as políticas adotadas pelo governo grego (somadas à fraude dos números oficiais) durante os últimos 15 anos eram insustentáveis. O ajuste viria, com ou sem o resto da Europa. Infelizmente, mais uma vez, como já ocorreu em tantos outros países, a população terá de que arcar com os erros de políticos e burocratas.

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