Por Tyler Cowen
Tradução por Pedro Galvão de França Pupo, original aqui.
A desigualdade de renda tem ganhado relevância como um problema político e econômico, mas de uma perspectiva global os números não mostram que a desigualdade está crescendo. Sim, o problema se tornou mais acentuado dentro de nações individuais, mas a desigualdade de renda do mundo como um todo tem caído pela maior parte dos últimos 20 anos. É um fato que não tem sido notado com frequência.
A descoberta vem de uma investigação recente de Christoph Lakner, um consultor no Banco Mundial, e Branko Milanovic, pesquisador sênior no Centro de Estudos Sobre Renda de Luxemburgo. E se, a princípio, uma descoberta dessas parece surpreendente, ela na verdade torna-se intuitiva depois de alguma reflexão. O crescimento econômico da China, da Índia e de algumas outras nações tem estado entre os acontecimentos mais igualitários da história.
Claro que ninguém deve usar essa observação como uma desculpa para parar de ajudar os menos afortunados. Mas pode nos ajudar a ver que uma desigualdade de renda mais elevada não é sempre o problema mais relevante, até mesmo para igualitários convictos. Políticas de imigração e livre comércio, por exemplo, às vezes aumentam a desigualdade dentro de uma nação, no entanto, melhoram o mundo como um todo e frequentemente reduzem a desigualdade global.
O comércio internacional trouxe reduções drásticas na pobreza em nações em desenvolvimento, como mostra o crescimento impulsionado por exportações da China e de outros países. Porém, ao contrário do que muitos economistas haviam prometido, agora existem boas provas de que o crescimento das exportações chinesas prejudicou os salários de algumas partes da classe média americana. Isso foi demonstrado em um artigo recente dos economistas David H. Autor, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, David Dorn do Centro de Estudos Monetários e Financeiros em Madrid, e Gordon H. Hanson da Universidade da Califórnia, São Diego.
Ao mesmo tempo, o crescimento econômico chinês provavelmente aumentou a renda do 1% mais rico nos Estados Unidos, através de exportações que aumentaram o valor de empresas cujos acionistas frequentemente são americanos ricos. Então, se por um lado o crescimento chinês aumentou a desigualdade de renda nos Estados Unidos, ele também aumentou a prosperidade e a igualdade de renda globalmente.
Os dados também sugerem que a imigração de trabalhadores de baixa qualificação para os Estados Unidos tem um efeito negativo modesto nos salários de trabalhadores americanos sem o ensino médio completo, como demonstrado, por exemplo, nessa pesquisa de George Borjas, um professor de economia de Harvard. No entanto, essa mesma imigração traz enormes benefícios para quem se muda para países ricos como os Estados Unidos. (Provavelmente ela também ajuda as classes altas americanas, que podem contratar serviços caseiros a preços menores) Novamente, a desigualdade de renda dentro da nação pode subir, mas a desigualdade global provavelmente cai, especialmente se os recém-chegados enviam dinheiro de volta para casa.
De um ponto de vista estritamente nacionalista, esses fatos podem não ser benéficos para os Estados Unidos. Mas esse ponto de vista estrito é o problema. Nós desenvolvemos um debate político onde preocupações essencialmente nacionalistas se escondem atrás da aparência gentil do igualitarismo. Para arrumar essa bagunça, uma recomendação seria começar toda discussão sobre desigualdade com um lembrete de que a desigualdade mundial tem caído e que, nesse sentido, o mundo está indo em uma direção melhor.
A mensagem de grupos como Occupy Wall Street tem sido que a desigualdade está crescendo e que o capitalismo está falhando. Uma mensagem mais correta e variada seria essa: Problemas econômicos sérios ainda não foram resolvidos, mas apesar disso nós estamos vivendo em tempos equalizantes para o mundo – uma mudança que tem sido majoritariamente boa. Não pode ser um slogan muito bom, mas é a verdade.
Uma visão comum é que a desigualdade crescente dentro das nações pode trazer problemas políticos, talvez via violência ou revolução. Então talvez alguém diga que uma perspectiva nacionalista é importante. Mas não é muito evidente que essas predições de problemas políticos são verdadeiras, especialmente para sociedades envelhecidas como os Estados Unidos que estão mostrando taxas decrescentes de criminalidade.
Além disso, políticas públicas podem se ajustar para acomodar algumas preocupações igualitárias. Podemos melhorar nosso sistema educacional, por exemplo.
Porém, ainda que as preocupações políticas sobre as desigualdades crescentes sejam justificadas, existe uma visão alternativa sobre isso. Se nossas políticas domésticas não conseguem lidar com mudanças na distribuição de renda, talvez o problema não seja uma falha inerente ao capitalismo mas sim o fato de que nossas instituições políticas são inflexíveis. Nossas políticas não precisam entrar em colapso sob a pressão de um mundo que, no geral, está ficando cada vez mais rico e igualitário.
Muitos igualitários defendem políticas de redistribuição de renda dentro de nações, inclusive nos Estados Unidos. Essa é uma alternativa que vale a pena considerar, mas com um porém. Essas iniciativas vão ser mais benéficas em um nível global se existir mais riqueza para ser redistribuída. Nos Estados Unidos, uma riqueza maior manteria a capacidade da nação de fazer investimentos externos, absorver imigrantes e gerar inovação, o que traria benefícios significativos para a renda global e para a igualdade.
Em outras palavras, o verdadeiro igualitário deveria seguir a tendência de um economista de buscar políticas que maximizam a riqueza, e isso significa se preocupar menos com a desigualdade dentro da nação.
Sim, podemos considerar algumas revisões úteis aos debates atuais sobre desigualdade. Mas igualitários com uma visão global deveriam ser mais otimistas sobre a história recente e perceber que a economia de mercado e o crescimento econômico estão continuando seus papéis históricos como os melhores e mais eficazes agentes equalizadores que o mundo já conheceu.
Tyler Cowen é professor de economia na Universidade George Mason