Artigo traduzido do site RT en Español para o Instituto Mercado Popular.

Os britânicos votaram “sim” pela saída do Reino Unido da União Europeia, os colombianos disseram “não” ao acordo de paz entre o governo e as FARC, e Donald Trump ganhou as eleições presidenciais dos EUA. Estes são alguns dos legados que 2016 nos deixou, o ano que será lembrado pela vitória do inesperado nas urnas.

Contudo, o começo de 2017 ainda continua a aumentar a incerteza econômica e política mundial. Desde as medidas que tomará Donald Trump na sua chegada a Casa Branca até a realização das eleições presidenciais em vários países cujos resultados poderão mudar mais ainda a ordem mundial estabelecida.

Estes são alguns dos principais acontecimentos que acompanharemos pelos próximos 12 meses:

DONALD TRUMP ASSUME O CARGO DE PRESIDENTE DOS EUA

Em 20 de janeiro, Donald Trump se tornará o 45º presidente dos EUA, após ganhar inesperadamente as eleições ocorridas em 8 de novembro de 2016.

Entre as decisões que poderá adotar o republicano na sua chegada a Casa Branca estão a saída dos EUA da Parceria Transpacífico (Trans-Pacific Partnership, em inglês); a revisão do Obamacare, o sistema de saúde colocado em prática pelo seu antecessor, Barack Obama; o fim das restrições no setor energético, em especial as que afetam a produção dos hidrocarbonetos em plataformas marítimas e a extração de carbono; assim como a construção de um muro na fronteira com o México para frear a imigração ilegal.

Porém, se há um acontecimento que atrairá toda a atenção midiática em 2017 será seu primeiro encontro com o presidente russo, Vladimir Putin, após a grave deterioração das relações diplomáticas entre ambos os países durante os últimos meses, nos quais a administração Obama vem acusando reiteradamente a Rússia de levar a cabo supostos ciberataques durante a campanha eleitoral e as eleições presidenciais para favorecer Trump.

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NO EQUADOR

O Equador realizará eleições presidenciais em 19 de fevereiro para escolher o sucessor de Rafael Correa, que está há quase 10 anos no poder. Ainda que as pesquisas assinalem uma vantagem do candidato do seu partido, o ex-vice-presidente Lenín Moreno, sobre os demais concorrentes, os últimos escândalos de corrupção poderão mudar os resultados nas urnas.

Neste sentido, a vitória de qualquer partido da direita equatoriana poderá indicar uma mudança nas relações locais que mantém o atual presidente Correa com os governos de esquerda da América Latina, assim como um giro nas tensas relações com os EUA, que tanto marcaram sua política nos últimos anos.

REINO UNIDO ACIONARÁ O ARTIGO 50 DO TRATADO DA UNIÃO EUROPEIA

A primeira-ministra britânica, Theresa May, prometeu acionar o artigo 50 do Tratado de Lisboa, o mecanismo que abrirá oficialmente o processo de saída do Reino Unido da União Europeia (UE) antes do final do mês de março.

Com o acionamento do supramencionado artigo, será aberto um prazo de dois anos para que a saída seja completada, de forma que os britânicos estarão fora do clube europeu na primavera de 2019, exceto se ambas as partes acordarem unanimemente uma prorrogação.

May terá pela frente a difícil tarefa de negociar com os que até agora eram seus sócios europeus uma estratégia que anule ou diminua as possíveis consequências desta decisão para a economia britânica.

ELEIÇÕES NA HOLANDA

O primeiro grande encontro com as urnas na Europa ocorrerá no próximo 15 de março na Holanda, onde as pesquisas eleitorais apontam que o líder xenófobo Geert Wilders, do Partido Para a Liberdade, obterá ótimos resultados.

Wilders tem prometido que se chegar à presidência holandesa convocará um referendo para que os cidadãos possam votar sua permanência ou saída da União Europeia, o que já vem sendo chamado pela imprensa como “Nexit” (Netherlands + exit).

Por outro lado, não será fácil para ele alcançar a presidência do país, já que, ainda que seu partido consiga ter mais representação no Parlamento holandês, será difícil que possa alcançar a maioria necessária para governar sozinho, pelo que é bem possível que seus adversários fechem um acordo para evitar sua chegada ao poder.

O DESAFIO DA PAZ NA COLÔMBIA

Apesar de que no começo de outubro de 2016 o povo colombiano disse “não” no referendo sobre o acordo de paz alcançando entre o governo e as FARC, o presidente Juan Manuel Santos assegurou que continuará trabalhando para conseguir um compromisso que agrade todas as partes. Uma promessa que culminou com a adoção de um novo acordo, firmado no final de novembro e aprovado posteriormente pelo Congresso.

Contudo, em 2017 restará conseguir o mais difícil para o futuro da Colômbia: que o acordo de paz alcançado passe da teoria para a prática. Dessa forma, por exemplo, antes de terminar o mês de abril, se prevê que as FARC entregarão todo o seu armamento, o que permitirá, a partir de então, que a guerrilha possa ingressar na política como um partido oficial.

Ademais, o governo colombiano busca ainda negociar a paz com o Exército de Libertação Nacional (ELN), a última guerrilha em atividade no país, para qual Santos colocou como condição a soltura de todos os sequestrados que este grupo mantém em seu poder.

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NA FRANÇA

A decisão britânica de abandonar seus sócios europeus foi um duro golpe para a União Europeia, mas os resultados das eleições presidenciais na França, que ocorrerão entre abril e maio, poderá ser sua sentença de morte.

No momento, os partidos políticos tradicionais franceses tratarão de anular o crescimento da candidata da Frente Nacional, Marine Le Pen, que propõe um referendo para votar a saída ou permanência da França da União Europeia e outro sobre sua permanência na OTAN.

Le Pen, entretanto, terá dificuldade em alcançar em caso de eventual vitória uma composição eleitoral que a permita cumprir com tais promessas, dado que seus rivais poderão acordar sua chegada ao poder. Neste momento, todas as pesquisas apontam que o candidato favorito é o conservador François Fillon, do Partido Republicano. Por outro lado, a preocupação é clara: a França é um dos países fundadores da União Europeia e os prognósticos eleitorais falharam nas grandes votações eleitorais de 2016.

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NO IRÃ

O atual presidente do Irã, Hassan Rohani, buscará sua reeleição nas eleições presidenciais que serão realizadas em meados de maio. Sua chegada ao poder trouxe relativa calma nas tensas relações internacionais estabelecidas pelo seu predecessor, Mahmoud Ahmadinejad, tal e como demonstra o acordo nuclear, em junho de 2015, com os EUA, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha.

Contudo, Rohani tem estado nestes quatro anos no centro dos ataques da ala mais conservadora do Conselho dos Guardiães e certos membros do sistema judicial, que acusam o presidente iraniano de fazer concessões demais e de que o acordo nuclear apenas trouxe consequências positivas para a economia.

Além do mais, o presidente iraniano concorrerá nas urnas logo após a chegada a presidência dos EUA de Donald Trump, que já anunciou que não aceitará as condições estabelecidas no acordo supramencionado.

REFERENDO DE ERGODAN PARA REFORMA CONSTITUCIONAL

Entre março e abril, a Turquia poderá submeter a um referendo uma reforma constitucional que poderá dar mais poderes ao cargo de presidente. O sistema presidencialista que propõe o atual presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, outorga todo o poder executivo ao presidente e lhe permite fazer parte de um partido, diferente do modelo parlamentarista atual em que o chefe do Estado só possui atribuições cerimoniais e deve permanecer neutro politicamente. Ademais, estabelece ainda a abolição da figura do primeiro-ministro, agora chefe do Governo.

Depois de um ano marcado por um fracassado golpe de Estado e vários atentados terroristas, Erdoğan goza de uma popularidade sem precedentes. Contudo, seus detratores temem que esta proposta possa provocar um aumento do autoritarismo do mandatário até uma ditadura.

ELEIÇÕES NA ALEMANHA

Após as eleições presidenciais na França, a outra grande prova de fogo da União Europeia será disputada nas eleições gerais da Alemanha, que ocorrerão entre setembro e outubro. A atual chanceler alemã e uma das pessoas com maior peso dentro da EU, Angela Merkel, enfrentará sua mais nova reeleição em um contexto político e social muito diferente das eleições passadas.

Merkel está passando por um dos momentos de maior fragilidade em seus mais de dez anos à frente do governo devido, em parte, a sua política de refugiados procedentes do Oriente Médio, que tem sido aproveitada pelo partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) para acusar a mandatária de levar a cabo uma política de “portas abertas”. AfD atualmente tem presença em dez dos 16 parlamentos regionais do país e suas mensagens islamofóbicas estão silenciando cada vez mais uma parte da cidadania, sobretudo após o atentado sofrido em Berlim no último 19 de dezembro.

CONGRESSO DO PARTIDO COMUNISTA CHINÊS

A China celebrará em outubro seu 19º Congresso do Partido Comunista, que determinará o caminho que seguirá o país durante os próximos cinco anos. Apesar do presidente Xi Jinping seguir como secretário geral do partido até 2022, estará acompanhado por um Comitê Permanente completamente renovado, o que poderá afetar as reformas econômicas que estão pendentes no país.

Além do mais, a China terá que fazer frente as novas tensões comerciais com os EUA, fruto da chegada a Casa Branca de Donald Trump, que inclusive poderá reconhecer oficialmente a soberania de Taiwan, considerada uma “província rebelde” pelo país.

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NO CHILE

Igualmente com o que poderá ocorrer no Equador, as alianças entre os países latino americanos poderão mudar com os resultados das eleições presidenciais do Chile, previstas para 19 de novembro, e em caso de ocorrer um segundo turno, em 17 de dezembro, nas quais não concorrerá a atual presidente do país, Michelle Bachelet.

De acordo com uma recente pesquisa publicada pela consultoria CERC-Mori, o senador independente Alejandro Guillier ganharia no segundo turno as eleições, enquanto que no primeiro turno, com todos os candidatos na disputa, se mantém como favorito o ex-presidente conservador Sebastián Piñera, seguido de Guillier e também do ex-presidente Ricardo Lagos, que é o candidato do Partido Socialista do Chile, o mesmo de Bachelet.

Destaca-se que nas eleições municipais ocorridas em outubro de 2016, o partido de Bachelet sofreu um duro golpe, e a aliança opositora se impôs com 38,63% dos votos frente a coalisão governista, que obteve 37,26%.

AS REUNIÕES DO FED E AS TAXAS DE JUROS DOS EUA

A subida da taxa de juros dos EUA, assim como do preço do petróleo, são dois dos temas econômicos que poderão afetar outros países durante o ano de 2017.

No mês de dezembro, o Fed anunciou um aumento nos juros em 0,25%, fixando-o em 0,75%. Apesar de se trata da primeira elevação da taxa desde do final de 2015 e a segunda desde 2006, o Banco Central americano projeta três novos aumentos graduais em 2017, diferentemente do que havia previsto em setembro, onde sinalizava apenas dois possíveis aumentos no decorrer do ano, o que deixará ao fim do ano o país com uma taxa de 1,4%.

O Fed infomou ainda que para calcular estes aumentos levou em conta mudanças na política fiscal. O órgão se refere desta forma a proposta de Trump de lançar uma política fiscal expansiva ao chegar à Casa Branca.

O peso mexicano e a lira turca já receberam fortes golpes após a vitória do republicano, agora falta saber como estas decisões vão afetar os mercados internacionais, especialmente o preço das moedas em todo o mundo.

Acréscimo deste Instituto Mercado Popular:

JULGAMENTO NO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL DA CHAPA DILMA-TEMER

No decorrer do ano, entre o primeiro e o segundo semestre, será dado início ao julgamento no TSE da chapa presidencial Dilma-Temer, este qual poderá acarretar, em caso de condenação, a perda do mandato do atual presidente da República.

Diante de um cenário onde a economia ainda não dá sinais de melhoras para o ano corrente, o presidente Michel Temer corre o sério risco de perder a base política no Congresso que tem lhe garantido vitórias importantes até aqui em sua agenda de reformas, iniciadas desde que assumiu o cargo ao final de agosto de 2016, com a consumação do impeachment de Dilma Rousseff.

As várias evidências de fraudes cometidas durante as eleições de 2014 tendem a complicar a situação do presidente no julgamento no TSE. Por outro lado, o fato de que este indicará ainda nesse primeiro semestre, dois novos ministros para a corte eleitoral podem ajuda-lo a conseguir formar a maioria necessária para evitar a perda do seu mandato, em caso de eventual condenação da chapa.

Caso não consiga manter o cargo, existe ainda questionamentos jurídicos sobre se as novas eleições para presidente e vice ocorreriam de forma indireta, por meio de votação no Congresso Nacional, ou diretamente pela população.

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