Tão diferentes e, ao mesmo tempo, tão parecidos. Não há dúvidas de que uma das principais marcas do governo Dilma seja a intervenção do estado na economia do país. Tamanho é o grau de intervencionismo que as ações da ex-guerrilheira lembram muito a do general Ernesto Geisel.
É cômico e trágico, mas se compararmos a política econômica dos dois governos, as semelhanças são grandes demais para se ignorar.
Governo Geisel (1974-1979)
Quando Geisel assumiu a presidência, o Brasil havia acabado de passar por um período de grande crescimento econômico chamado por muitos de Milagre Brasileiro. Esse boom, infelizmente, foi baseado na emissão de moeda, endividamento externo e interno e arrocho salarial, e não em fatores reais que permitiriam um crescimento sustentável no longo prazo. Em algum momento, era inevitável: a conta dessa grande farra teria que chegar.
Geisel podia pedir a conta, mas acabaria com a festa. Ele quis seguir com o ritmo de crescimento do governo anterior para dar respaldo ao regime perante os civis e militares. Havia, contudo, um problema externo que poderia atrapalhar os planos dos militares: a Crise do Petróleo, que havia explodido em 1973, elevando o preço do petróleo e de seus derivados no mercado internacional. A crise bateu forte nos Estados Unidos e na Europa, fazendo com que o crescimento mundial fosse reduzido. O gráfico abaixo mostra o preço internacional do petróleo, mostrando a radical subida nos anos 70.
O Brasil então teria que tocar o seu projeto com um cenário externo desfavorável, o que nos levou a implantar o II PND (Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento). O foco do plano era a indústria energética (afetada pela alta da gasolina) e a indústria de bens de capital.
Os recursos do projeto viriam das empresas estatais, companhias privadas, do BNDE (antigo BNDES) e dos “petrodólares” (empréstimos de bancos estrangeiros utilizados para a compra de combustível no exterior). Com isso, as estatais passaram a ter grande participação na economia, como é possível notar no gráfico abaixo.
Empresários “amigos do rei” recebiam proteção contra produtos estrangeiros e podiam obter empréstimos do BNDE, que captava recursos no exterior a preços altos e emprestava às empresas privadas a juros camaradas. O número de funcionários públicos cresceu assustadoramente, assim como os gastos do governo, em detrimento da eficiência.
Os resultados de tamanha intervenção podem ser vistos no gráfico abaixo (entre 1974-1979). O PIB cresceu, mas não tão vigorosamente como nos anos do milagre, os salários cairiam, devido ao arrocho salarial e a inflação começou a subir com força, correndo o poder de compra da população. Além disso, o endividamento externo também aumentou substancialmente, o que se tornaria um problema posteriormente durante a crise da dívida externa.
A “Nova Matriz Econômica” de Dilma (2011 – ?)
Assim como Geisel, Dilma assumiu a presidência após um período de crescimento econômico e uma grande crise que abalou os Estados Unidos e a Europa. Por mais que durante o segundo mandato de Lula, o estado tenha intervido bastante na economia para recupera-la dos efeitos da crise americana, através de incentivos ao consumo das famílias, Dilma aprofundou as reformas econômicas de seu antecessor.
Com isso, inúmeros setores foram protegidos contra a concorrência estrangeira, através do aumento das taxas de importação e os desembolsos do BNDES aos amigos do rei cresceram assoladoramente. Além disso, os setores considerados estratégicos para o governo receberam desonerações para elevar sua competitividade no cenário internacional, sem falar nos gastos do governo que não pararam de crescer.
Os bancos públicos nunca tiveram um papel tão importante na concessão de crédito. Além do caso do BNDES, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal passaram a emprestar dinheiro (dos pagadores de impostos) com juros subsidiados. Com isso, “a nova classe C” passou a poder adquirir automóveis novos, casa própria (com o Minha Casa, Minha Vida) e eletrodomésticos. Tudo isso pode parecer ótimo, mas toda essa expansão do consumo foi feita através do endividamento dessas famílias e, vale ressaltar, que as mesmas possuem dívidas com bancos públicos. Logo, se aquelas não conseguirem pagar suas dívidas, a perda afetará todos os pagadores de impostos que sustentam as instituições financeiras do governo.
O resultado dessas políticas intervencionistas foi: crescimento da inflação, crescimento pífio do PIB, endividamento das famílias e do governo.
Além do tom autoritário, Dilma, assim como Geisel, é adepta do nacional desenvolvimentismo. Tal vertente, muito defendida por economistas da UFRJ, Unicamp, USP e várias outras universidades de prestígio, veio sendo adotada por inúmeros governantes ao longo da história do Brasil e a mesma tem se mostrado bastante falha. Esta aumenta a promiscuidade entre empresários donos de empreendimentos “de interesse nacional”, que utilizam dinheiro público para financiar seus grandes projetos.
Eike Batista, um grande ícone do Brasil corporativista, teve seus momentos finais na carreira de empresário durante o governo Dilma. O mesmo possuía ótimas relações com o Planalto e, principalmente, com o BNDES (grande financiador do decante Império X). Até agora não ficou definido quando Eike pagará sua dívida bilionária com o banco público.
Além de favorecer os amigos do rei, o nacional desenvolvimentismo vai contra as ideias do livre mercado que ajudaram reerguer países como Chile, Cingapura, Hong Kong e vários outros que hoje colhem os frutos da abertura comercial, redução de impostos e da burocracia, respeito à propriedade privada e inúmeros fatores que podem ser sintetizados em uma única frase: redução do estado.
No final, Dilma e Geisel, para não acabar com a popularidade de seus governos, acabaram por adotar medidas inflacionárias que ainda castigam muitos brasileiros, principalmente os mais pobres. Portanto, depois de 50 anos de ditadura militar, devemos nos lembrar de que aquelas práticas intervencionistas e autoritárias ainda estão sendo repetidas e muitos brasileiros viveram para pagar a conta dos excessos dos militares, durante a década perdida. De quantos anos de estagnação econômica vamos precisar para que o brasileiro compreenda que intervenção estatal apenas o torna mais pobre?