Por Rodrigo Viana

Algumas semanas atrás, agências de notícia em todo o mundo relataram um estranho caso no Reino Unido envolvendo trabalho exploratório:  três mulheres compraram roupas de uma famosa rede de lojas, sendo que na etiqueta da roupa de duas dessas roupas havia mensagens de denúncias sobre a situação dos trabalhadores na China. Em outra, havia um bilhete escrito em chinês dentro do bolso. Essa notícia fez levantar novamente as discussões acerca das condições degradantes dos trabalhadores em países do terceiro mundo.

O assunto não é novidade para brasileiros, já que vez ou outra surgem relatos envolvendo imigrantes bolivianos trabalhando em ambiente realmente precários em São Paulo. Dois meses atrás, fiscais do Ministério do Trabalho encontraram uma oficina de costura na capital paulista funcionando em um ambiente de trabalho desumano. As roupas eram vendidas para uma outra famosa marca.

O trabalho degradante feito em “fábricas de suor” tem explicação: em um sistema econômico que busca privilegiar certos grupos sociais, aqueles que estão fora do clube de privilegiados eleitos são relegados a uma posição subserviente.

Contando com um aparato de monopólios de tarifas protecionistas e propriedade intelectual, grandes empresas conseguem ser subsidiadas para se manterem de forma quase que unânime no mercado corporativista. Aproveitando-se da fragilidade econômica dos trabalhadores, estas gigantes da exploração conseguem o que elas mais desejam: oferecer um salário alto o bastante para que consiga atrair empregados; e baixo o bastante para que estes empregados dependam sempre delas. Sem mencionar os possíveis conluios entre burocratas, para fortalecer seu poderio econômico além da esfera puramente econômica. Resultando numa aberração dos tempos modernos do qual não se consegue entender onde realmente termina o poder estatal e se inicia o poder privado.

É nesse mercado de exploração onde trabalhadores, possuindo apenas seu trabalho para vender, padecem na busca de ascensão socio-econômica. O que resta é o apoderamento do trabalhador em buscar alternativas que visem a autonomia laboral de cada um. Buscar fortalecer sindicatos e sua autonomia, pressões populares contra ambientes de trabalho degradante ou até mesmo contra leis abusivas, o caminho é infinito para que o trabalhador ganhe voz ativa na sociedade. É o que vem dando certo entre os trabalhadores americanos cooperados, embora estes estejam em situações um pouco diferentes.

Para sair do modelo comum do mercado, baseado em patrão e empregado, trabalhadores de todas as áreas vem se unindo e criando cooperativas que visem a estabilidade no trabalho e autonomia individual. Fugindo da hierarquia e abraçando a democracia em sua forma pura, trabalhadores americanos estão começando a criar um cultura de trabalho autônomo e solidário dentro de uma economia gerenciada por velhos dinossauros do negócio. Embora vale dizer também que o modelo de cooperativa é um tanto desconhecido nos Estados Unidos. Diferente na Europa, sabido que esse modelo de empreender é mais comum, modo ao qual os trabalhadores de lá vem gerando novas fórmulas de ajuda mútua. Através do sistema de cooperativa social, britânicos vem criando verdadeiras instituições econômicas capaz de oferecer serviços de bem-estar social como assistência médica, assistência para a terceira idade, integração da trabalho de ex-prisioneiros e outros. Sempre almejando objetivos coletivos através da livre associação e auto-gestão democrática.

A busca por condições dignas e humanizantes de trabalho não passa por empresas que prezam por ambientes de abusivos. Na verdade, tal questão sequer deveria ser dada como opção, principalmente por aqueles que defendem economias livres. Basta apenas que se extinga os privilégios de grupos dominantes para que a oportunidades surjam de baixo. E, assim, afirmar uma revolução tanto política quanto cultural nas relações produtivas em favor daqueles grupos de pessoas mais vulneráveis economicamente. E tornar esses fenômenos isolados o nosso cotidiano.

 

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Rodrigo Viana é programador, tradutor e escreve para o Portal LibertarianismoA Esquerda Libertária e Libversiva!. Em seus interesses incluem disciplinas como história, sociologia, economia e filosofia política. Quando não está falando sobre política, provavelmente está falando de música ou algum assunto relacionado a cultura pop. Siga seu twitter: @VDigo

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