Um dos maiores problemas que qualquer pessoa que defenda uma economia mais livre é a crítica da crença em um suposto “Deus Mercado” que corrige todos os problemas e que resolveria todas as injustiças do mundo num estalar de dedos. Essa crítica é difundida justamente por pessoas que defendem que o Estado tem essa capacidade de conhecer todas as minúcias das mazelas da sociedade e intervir para corrigi-las sem gerar problemas colaterais. Ambas premissas estão erradas!
Adam Smith em seu A Riqueza das Nações não profetizou que existiria uma mão invisível que seria perfeita, mas mostrou que na ausência de intervenções as pessoas realizam apenas as trocas que são mutuamente benéficas e que isso gera riqueza a longo prazo. Cerca de 150 anos depois, economistas austríacos como von Mises e Hayek apresentaram mais formalmente as definições relacionadas ao problema do conhecimento em economia que basicamente diz que é impossíevel para um agente deter todo o conhecimento sobre as necessidades imediatas, passadas e futuras das pessoas a ponto de ser capaz de planejar o que é necessário para o futuro e produzir tudo aquilo que as pessoas necessitam. Os austríacos, diferentemente de Smith, partiam de uma abordagem mais filosófica e menos empírica — principalmente von Mises –, apesar de chegarem à mesma conclusão apontada pelo escossês em seu livro publicado em 1776.
Posteriormente a Hayek, em especial, vemos economistas da Escola de Chicago como Milton Friedman e Thomas Sowell que defenderam e defendem a liberdade de comércio e fim das restrições a trocas voluntárias, apresentando diversas análises empíricas de como a população se beneficia quando ela é livre para escolher. As políticas propostas por Friedman levaram a melhoria da qualidade de vida de milhões de pessoas ao redor do mundo como no Chile, em Hong Kong, na Estônia e até mesmo no Brasil.
Mas o que é o mercado?
O mercado livre é um conjunto de pessoas realizando trocas voluntárias, seja uma troca monetária em que você paga pelo chocolate na loja de conveniência do cinema, seja uma troca não monetária quando alguém se voluntaria para te ajudar a trocar o pneu do carro ou carregar cestas básicas a serem distribuidas entre pessoas mais carentes. Trocas voluntárias são aquelas que acontecem na ausência de coerção — seja coerção física como no caso de alguém espancar outro para pegar sua carteira, seja coerção legal quando o Estado impõe custos adicionais às transações por qualquer motivo.
Essas trocas voluntárias são mutuamente benéficas: elas só acontecem quando as duas partes da troca acham que vão se dar melhor com o resultado do que estão com os seus bens no presente. Por exemplo, você só vai comprar o ingresso de cinema se achar que a experiência de assistir o filme vale mais do que o valor pago, da mesma forma que o cinema só venderá o acesso a sala de exibição se achar que o valor pago vale mais do que manter a sala vazia. Esse processo, de avaliação de valores é imediato e quase não pensamos no que está acontecendo, mas ele está sempre presente quando fazemos uma troca no mercado.
As bilhões ou trilhões de trocas livres que acontecem diariamente servem para gerar prosperidade para todos e tornar as nossas vidas melhores. Eu sou mais feliz com os bens e serviços que eu compro do que com o dinheiro que eu tenho — que em última instância é apenas uma reserva de valor para o meu trabalho –, assim como todas as pessoas com quem eu troco são mais felizes e prósperas com o dinheiro que receberam de mim do que com os bens e serviços que elas tinham. Além disso, essas imensidão de transações serve para passar sinais de escassez e alterar ritmos de produção de uma forma que planejador central nenhum conseguiria.
E como isso se relaciona com o mundo?
Essa liberdade de realizar trocas voluntárias nem sempre vai gerar resultados que consideramos ótimos, principalmente quando só focamos em analisar microcosmos do planeta como uma pessoa que gasta todo o seu dinheiro em bebida ou outra que escolhe passar a vida inteira apenas assistindo TV, sendo pouco produtiva. Várias dessas pessoas e membros das suas famílias vão sofrer as consequências dessas escolhas, mas isso é um trade-off presente quando falamos de liberdade. A liberdade nos permite fazer escolhas boas e ruins e temos que arcar com as suas consequências.
Assim como vamos resultados nem sempre ótimos em sistemas de trocas voluntárias, também os vemos em sistemas de trocas dirigidas como em mercados regulados ou mesmo naqueles em que as trocas são obrigatórias — como no caso da contratação de grande parte dos serviços prestados pelo governo. Além do mais, devido aos problemas do conhecimento e do cálculo econômico em sistemas socializados, as trocas regidas pelo governo tendem a apresentar mais e mais resultados subótimos com o passar do tempo e criar problemas de violação de direitos e liberdades para a população.
Então ficamos numa situação de escolha entre qual sistema queremos: um sistema que dá a liberdade das pessoas fazerem escolhas ruins e lhes transfere a responsabilidade de arcar com os resultados dessas escolhas; ou um sistema coercitivo que limita ao máximo a liberdade e que a longo prazo gera pobreza, dependência e possivelmente caos social. É uma escolha que fazemos quando exigimos que o governo passe a regular um determinado setor, passe a limitar um determinado comportamento, passe a subsidiar um determinado produto ou serviço, passe a cobrar impostos de quem não gostamos ou invejamos.
No fundo, o que acontece realmente é que enquanto a humanidade não for perfeita, pessoas vão cometer erros e escolher coisas que não são necessariamente as melhores. Esse é um trade-off da liberdade. Todavia, quando as escolhas são individuais e não impostas de cima para baixo por engenheiros sociais do governo, elas tendem a ter suas consequências danosas concentradas naqueles que tomaram as decisões equivocadas e isso diminui o peso para a sociedade como um todo. Mas, principalmente, quando as escolhas são voluntárias as trocas só ocorrem quando ambas partes se beneficiam e essa é a beleza do livre mercado, que nenhum sistema dirigido consegue replicar.
Liberdade é associada com a responsabilidade de arcar com os resultados das suas próprias ações e saber que isso pode prejudicar não só você, mas a sua família e aqueles de quem você gosta. Mas liberdade também é associada com prosperidade, com criatividade, com inventividade e com a possibilidade de melhorar as nossas vidas sem depender da autorização de outras pessoas. Ela traz desigualdade, mas ela é a única que consegue gerar riqueza e acabar com a mazela da falta de recursos.
Essa liberdade de arriscar e poder ter conquistas a comemorar ajuda principalmente os mais pobres. Ela permite que a criança que hoje passa fome possa no futuro ser uma empreendedora de sucesso no futuro e que ela possa ajudar a sua família a melhorar de condição de vida. Ela permite que o rico de hoje seja pobre amanhã caso ele deixe de fornecer bens e serviços que as pessoas queiram, mas também permite que essa mesma pessoa dê a volta por cima e conquiste de novo um lugar ao sol.
Mas acima de tudo, essa liberdade permite que todas as pessoas prosperem, que, como um todo, a sociedade seja melhor e que a vida da população ganhe em qualidade. Essa liberdade vem tirando bilhões de pessoas da pobreza desde o ínicio da revolução industrial e em especial nos últimos 30 anos. Por que a gente não lhe dá a chance de operar seus feitos diários também no Brasil?