Por David Roberts, com tradução de Laura Lira

Para descobrir se uma política é boa ou ruim, primeiro você precisa descobrir qual o impacto dela na sociedade. Embora ideólogos gostem de tratar isso como algo óbvio, raramente o é.

Considere o salário mínimo. Há um intenso debate entre economistas sobre os efeitos concretos de salários mínimos mais altos na renda de trabalhadores pobres. Alguns economistas acreditam que um salário mínimo mais alto aumenta o desemprego entre as menores faixas de renda; outros acreditam o efeito do salário mínimo sobre o mercado de trabalho é insignificante.

Tudo depende dos detalhes. É plausível que salários mínimos nacionais não causem muito desemprego em áreas urbanas, mais ricas. Já nas regiões onde as remunerações são em média mais baixas, como o Nordeste brasileiro [1], salários mínimos podem causar muitos malefícios.

Alguns economistas acreditam que aumentos no salário mínimo podem prejudicar trabalhadores pobres

São canalhas todos os que se já se opuseram a algum aumento de salário mínimo? Besteira. Muitos foram contra por acreditar que a medida prejudicaria os trabalhadores que intenciona proteger.

Liberais acreditam que o ensino superior gratuito pode ser danoso na medida em que financia a educação dos filhos de famílias ricas com o dinheiro de miseráveis que não têm acesso à faculdade. Eles acham que o rombo na previdência – e a dívida pública, muitas vezes – são insustentáveis e que ajustar as contas do governo agora será menos doloroso – e mais justo com as futuras gerações – do que esperar até que os problemas se tornem uma crise.

É claro que se você é de esquerda provavelmente não irá achar esses argumentos convincentes. E você pode estar certo. Mas não é impossível que você esteja errado e os liberais corretos sobre o que dizem em economia. Não é impossível.

Caridade privada funciona e Bono Vox, famoso por ajudar causas humanitárias, concorda com isso. Ainda assim, de acordo com ele, existem duas armas muito mais importantes e eficientes no combate à pobreza: integração comercial e empreendedorismo.

O problema em tratar oponentes como canalhas

Com certeza, muitos liberais são canalhas, assim como muitos esquerdistas. Pessoas, em geral, também o são. Mas o problema em concluir que as convicções políticas do outro são um sinal de mau caráter é que isso aumenta a probabilidade de você não entender argumentos que sejam opostos ao seu próprio ponto de vista.

Todo mundo está inclinado a adotar uma falácia conhecida como “viés de confirmação”: quando entramos em determinado debate com opinião formada, ficamos mais propensos a aceitar evidências em favor do nosso ponto de vista e menos propensos a aceitar evidências contrárias. É esse o motivo pelo qual esquerdistas e liberais parecem viver em mundos com fatos diferentes. Os fatos que apoiam a visão de mundo de um esquerdista circulam mais amplamente nos círculos da esquerda do que nos dos liberais, e vice-versa.

Esquerdistas e liberais parecem viver em mundos separados

Se você é sensível com problemas sociais, concorda que as melhores políticas públicas são aquelas que farão do mundo um lugar melhor para as pessoas, e não a que lhe dá a sensação de que está melhorando o mundo. E isso significa que precisamos, constantemente, lutar contra os perigos do viés de confirmação – buscando as melhores evidências contraditórias a nossos conceitos ideológicos pré-concebidos.

E a melhor maneira de fazer isso é tratar os seus oponentes políticos como seres humanos que, muitas vezes, compartilham dos seus valores mas têm diferentes pontos de vista sobre como alcançá-los. Algumas vezes, os seus oponentes realmente são só idiotas e interpretar os argumentos deles com boa vontade se mostrará um desperdício de tempo. Contudo, outras vezes, você se surpreenderá em aprender coisas sobre o mundo que, de outra forma, você não teria descoberto.

 


[1] – No texto original, o autor faz referência à cidade de St. Louis, que recentemente aprovou aumentos no salário mínimo estadual. A referência ao Nordeste foi colocada em seu lugar para melhor compreensão do público brasileiro, não trazendo qualquer alteração semântica ao exemplo.

Traduzido e adaptado a partir do texto Sorry, liberals, liking free markets doesn’t make someone a jerk”, publicado na Vox.com.
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