O desemprego foi uma das grandes bandeiras de Dilma na última campanha eleitoral. Frente à sensível piora dos indicadores econômicos, a taxa de desemprego – uma das menores da história recente – permanecia firme, interpretada como sinal da preocupação do governo com o bem-estar dos trabalhadores.
Recentemente, porém, a taxa de desemprego no Brasil alcançou 7,5%, um nível não visto desde a crise de 2009. E, infelizmente para o trabalhador, há várias evidências de que esse quadro vai piorar.
A associação íntima entre produção (medida pelo PIB) e desemprego é uma das relações mais bem estabelecidas em economia – conhecida como Lei de Okun. Mas ela não é imediata: a taxa de desemprego é o que os analistas chamam de “indicador defasado”. Ou seja, ele cai ou sobe depois do PIB subir ou cair. Isso significa que uma queda na produção hoje não significa queda do emprego agora, mas sim daqui a algum tempo.
Há vários motivos para isso acontecer. As empresas em geral têm custos para demitir. Não só custos trabalhistas, que são particularmente altos no Brasil, mas custos de perda de treinamento investido, perda de produtividade devido a diminuição do moral etc. Isso leva as empresas a só demitirem com relutância. Por isso, as empresas não reagem imediatamente a pioras na situação econômica.
Um mês ruim para a empresa não vai levar a corte de mão-de-obra: as empresas esperam para ver se a situação vai melhorar. Conforme os meses ruins se arrastam, as empresas tentam usar métodos alternativos de corte de custo para não ter que demitir. Férias coletivas e diminuição de horas são alguns dos métodos usados para manter a empresa funcionando, vendendo menos, sem demitir ninguém.
Os sindicatos também tem papel importante nesse fenômeno. Muitas vezes, esse tipo de decisão tem que ser negociada com eles, e pode levar a disputas judiciais com empresas, greves e outros tipos de sanções. Sindicatos também facilitam que a empresa adote medidas como diminuição de horas em vez de demitir. Isso aumenta o custo da demissão e torna a empresa ainda mais relutante em demitir. Uma situação econômica desfavorável por mais tempo torna os argumentos do empregador mais fortes.
A evidência histórica corrobora a defasagem do desemprego. A recessão atual, segundo o IBGE, começou no segundo trimestre de 2014. Apesar disso, o desemprego não mostrou sinais de aumento até janeiro de 2015. Outro exemplo histórico foi a desaceleração durante 2005. O desemprego só aumentou no ano seguinte, quando a economia já se recuperava.
Devido a isso, devemos esperar aumento do desemprego brasileiro nos próximos meses. Apesar das expectativas de mercado auferidas pelo BC indicarem que este trimestre será o ponto mais baixo da crise, o desemprego deve aumentar ainda mais até o final do ano.
E mais grave ainda, comparando essa recessão com as passadas, podemos chegar na conclusão de além de um desemprego ainda mais alto, ele vai durar muito mais tempo do que nas recessões mais recentes.
O Brasil passou por alguns problemas econômicos recentes: desacelerações do crescimento em 2011 e 2005, a crise de 2008-2009 e a recessão de 2003. Felizmente, por terem sido causados por problemas pontuais o desemprego se recuperou relativamente rápido em todos esses casos, levando mais ou menos um ano para voltar a cair e dois anos para voltar ao nível anterior na mais longa delas, em 2003.
Se voltarmos ainda mais ao passado, na década de 80 e 90 o Brasil passou por problemas econômicos mais graves e duradouros. O período de crise entre 1989 e 93, causado pelas politicas intervencionistas fracassadas do governo Sarney e Collor, levou a um período prolongado de desemprego alto. Outros problemas econômicos da década de 1990 fizeram com que o emprego acabasse não voltando aos níveis de 89 pelo menos até 2002.
Apesar de sem sombra de dúvidas a crise de 89–93 ser mais grave do que a que vivemos hoje, as estimativas do mercado indicam que a recessão esperada vai ter duração semelhante, apesar de quedas menores de PIB. As estimativas são que o país volte a crescer lentamente no final deste ano, e só atinja em 2018 o nível anterior ao começo da recessão. O segundo mandato de Dilma Rousseff vai, em muitos sentidos, ter condições econômicas mais próximas das décadas de 80 e 90 do que dos prósperos anos 2000.
Levando isso em consideração, além de um desemprego aumentando nos próximos meses, depois de atingir o pico ele deve cair muito lentamente. O emprego de antes da crise, devido à defasagem, só costuma ser recuperado depois de retomarmos o PIB anterior. Isso significa que, provavelmente até o fim de 2018, ainda teremos um desemprego substancialmente mais alto do que no início do segundo mandato da Dilma.
Uma parte da população que vai ser especialmente afetada pela taxa de desemprego alta e prolongada são os jovens. A diferença na taxa de desemprego de jovens entre 15 e 17 anos e entre 18 e 25 anos quando comparados com pessoas mais velhas é muito significativa, e tende a aumentar substancialmente nas recessões. Um dos fatores frequentemente desconsiderados quando se fala do fenômeno do “nem-nem”, jovens que nem estudam nem trabalham, é a alta taxa de desemprego entre eles, que muitas vezes são desmotivados pelos longos períodos de desemprego e desistem de procurar vagas de trabalho.
A crise atual deve levar a mais de 4 anos com desemprego altíssimo entre os jovens, gerando inúmeras perdas para o crescimento do Brasil no longo prazo. Essa geração vai ganhar bem menos experiência no mercado de trabalho. Vai ter dificuldades para sair de casa e formar família. Terá menos incentivo para adquirir mais educação e especialização.
As políticas desastradas do primeiro mandato Dilma levaram o país à mais longa recessão desde os anos 90. Essa situação terá consequências graves para a vida do trabalhador brasileiro, especialmente os mais jovens, e resultados igualmente graves para o nosso crescimento de longo prazo. Infelizmente para quem se elegeu como criadora de empregos, e ainda mais infelizmente para a população, o segundo governo Dilma será o governo do desemprego.