Por Arthur Niculitcheff

Quanto pior melhor — Lênin, apócrifo

Bryan Caplan, já há alguns anos apresentou uma teoria interessante sobre os determinantes do crescimento econômico de um país, a armadilha das ideias. De acordo com Caplan:

“Então, os lugares mais desagradáveis no mundo para se viver geralmente tem três características em comum: Primeiro, baixo crescimento econômico; segundo, políticas que desencorajam o crescimento; e terceiro, resistência a ideia de que outras políticas seriam melhores. Eu tenho uma teoria para explicar essa combinação curiosa³. Imagine que as três variáveis que eu acabei de citar — crescimento, política e idéias — capturam a essência da situação político-econômica de um pais. Então suponha que três “leis da dinâmica” governam esse sistema. As primeiras duas são praticamente verdade por definição:

1.Boas ideias causam boas políticas.

2.Boas políticas causam bom crescimento.

A terceira lei é muito menos intuitiva

3.Bom crescimento causa boas ideias.”

A armadilha das idéias tem várias implicações importantes, algumas exploradas por Caplan. Mas meu foco vai ser nas implicações para a macroeconomia. Se a armadilha das ideias estiver certa, é essencial para a liberdade econômica e crescimento de longo prazo de um país que a política macroeconômica minimize as possibilidades de recessão.

Internacionalmente temos vários exemplos disso. A Grande Depressão levou a inúmeras políticas danosas nos EUA. Apesar das pessoas se focarem principalmente nos avanços no estado de bem-estar social na época, as politicas não se restringiram a isso. O NIRA (National Industry Recovery Act) é consensualmente considerado uma falha, por incentivar a cartelização das indústrias, diminuir as horas trabalhadas e aumentar os salários artificialmente. Isso ocorreu devido a crença errônea de que a Depressão era causada pela deflação e excesso de produção, e aumentos artificiais de preços e restrições na oferta ajudariam a recuperação. O resultado foi o fim da recuperação até o fim do ato, declarado ilegal pela Suprema Corte americana:

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Durante a Depressão também foi implementado o AAA (Agriculture Adjustment Act) que pretendia, baseado também na visão errada de que a deflação e superprodução eram o problema, aumentar os preços agrícolas e restringir a oferta. Isso foi feito através da queima de produção, abate de animais para reduzir a oferta e pagamento a agricultores e pecuaristas para não produzir, políticas literalmente destrutivas.

Outros exemplos dos efeitos deletérios das recessões no sistema político podem ser vistos hoje na Europa. Partidos de extrema direita ganharam recentemente um recorde de cadeiras no parlamento Europeu, com uma plataforma anti União Européia e anti imigrantes, principalmente na França e Reino Unido. A diminuição da integração européia e limitação da imigração com certeza ameaçam a causa da liberdade, e se implementados diminuirão o crescimento de longo prazo europeu.

Nós voltando para o Brasil recente, podemos ver um fenômeno parecido. A recessão de 2009, e posteriormente a desaceleração do crescimento em 2011 parecem ter sido catalisadores para o aumento da intervenção governamental na economia. Aumento dos gastos, cortes relativamente arbitrários de impostos para política industrial setorial, aumento das contas do BNDES, contabilidade criativa, a já fracassada Nova Matriz Econômica.

Apesar do governo Dilma ter uma natureza mais intervencionista que o governo Lula, é bom lembrar-se que essas medidas começam com ele em 2009, e que provavelmente a pressão intervencionista seria aliviada se o crescimento tivesse sido maior.

O que me leva a meu ponto principal, para defender a liberdade e o crescimento econômico é essencial evitar depressões e desacelerações evitáveis. Se fosse possível diminuir a recessão de 2009 ou a desaceleração que começa em 2011, as políticas econômicas no Brasil desde então teriam sido bem melhores.

O consenso dos economistas é que más políticas monetárias são a principal fonte de depressões evitáveis. No próximo post me voltarei a elas.

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Arthur Niculitcheff é graduando em Ciências Econômicas na PUC-SP. Seus principais interesses, além de economia, são história, filosofia da ciência, e transhumanismo. Costuma passar o tempo livre lendo, estudando ou vagando pelas ruas do centro de São Paulo. Como todas as crianças criadas na blogosfera, é um monetarista de mercado e membro da conspiração bayesiana.

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