Por Mano Ferreira

Em época de campanha eleitoral as pessoas costumam ficar mais atentas à atuação jornalística, numa espécie de aumento de demanda por informação de qualidade. Nesse sentido, foi bastante emblemática a reação geral das pessoas às posturas de William Bonner durante a série de entrevistas com candidatos à presidência da república no Jornal Nacional. Houve uma espécie de comoção em função da voz oficial da rede Globo ter sido incisiva na cobrança de respostas aos entrevistados. Isso é tão incomum que causou estranhamento do público.

A ausência de combatividade do jornalismo brasileiro é crônica – William Bonner, apesar de ter aberto uma exceção durante as entrevistas com presidenciáveis, é um dos grandes exemplares disso. No dia a dia, a incisividade jornalística parece restrita (com evidente deturpação) à verborragia performática de sensacionalismos policialescos. O apreço à liberdade de imprensa nunca foi uma grande característica nossa por simples falta de prática.

Fora dos grandes centros urbanos predomina até hoje uma lógica coronelista, onde os meios de comunicação tradicionais são propriedade de uma pequena elite corporativista que também detém o controle da política local – quadro que pode ser constatado através do excelente trabalho do site Donos da Mídia, que mapeia a condição política dos proprietários de veículos de mídia de todo país. Mesmo nas capitais, o mercado de comunicação é bem pouco diversificado – e, como em qualquer setor da economia, a falta de concorrência significativa favorece a ineficiência empresarial e a baixa qualidade do produto.

Alguns fatores ajudam a explicar o cenário. Em primeiro lugar, o analfabetismo ainda é um problema no Brasil. Se é verdade que houve uma diminuição significativa desse índice dos anos 1970 a 2008, como aponta o IBGE, de 33,6% da população com mais de 15 anos a 9,92%, também é verdade que o número ainda permanece alto. A comparação com países vizinhos deixa isso claro: Argentina (2,1%), Chile (1,1%) e Uruguai (2%) são bem mais avançados nesse quesito.

MP-analfabetismo no Brasil

Se levarmos em conta o analfabetismo funcional, o quadro fica mais dramático. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios realizada em 2009 também pelo IBGE, 20,3% da população brasileira com mais de 15 anos não é capaz de entender o que lê. Com essa informação não é difícil deduzir problemas. O desenvolvimento do mercado jornalístico prescinde de uma cultura de leitura e questionamento. E a primeira condição necessária para o desenvolvimento de uma cultura de leitura é a existência de leitores hábeis. Se 20% dos brasileiros não consegue entender o que lê, quantos serão os leitores hábeis, que entendem sem esforço, dialogam com a leitura e a tornam uma prática cotidiana?

Esta é uma das perguntas que tentam ser respondidas na pesquisa Retratos da leitura no Brasil, feita em 2011 pelo IBOPE sob encomenda do Instituto ProLivro. De acordo com o levantamento, apenas 43% dos brasileiros com mais de 5 anos de idade não vêem a leitura como uma atividade difícil e somente 28% afirmam gostar de ler. Se considerarmos como hábeis os leitores que gostam de leitura, isso significa um universo de 49 milhões de pessoas, o equivalente à população da Coreia do Sul – só que espalhados num território 84 vezes maior.

http://www.typographicalera.com/tag/world-culture-score-index/

http://www.mdig.com.br/index.php?itemid=30711

http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2012-06-24/habito-de-ler-esta-alem-dos-livros-diz-um-dos-maiores-especialistas-em-leitura-do-mundo

http://clovisakira.blogspot.com.br/2013/11/difundindo-o-habito-da-leitura-nos.html

http://www.prolivro.org.br/ipl/publier4.0/dados/anexos/2834.pdf

Alfabetização no Brasil não alfabetiza: http://oglobo.globo.com/sociedade/alfabetizacao-no-brasil-nao-alfabetiza-13321682

Só 1 em 1 mil adolescentes brasileiros lê no nivel mais alto de desempenho estabelecido pelo Pisa. Quase metade (49,2%) dos alunos brasileiros não alcança o nível 2 de desempenho na avaliação que tem o nível 6 como teto. Isso significa que eles não são capazes de deduzir informações do texto, de estabelecer relações entre diferentes partes do texto e não conseguem compreender nuances da linguagem.

 

questão da liberdade.

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