“Uma negra, africana livre, da Costa da Mina”, é como Luiz Gama começa a descrever sua mãe Luiza Mahin na carta que escreveu ao seu amigo Lucio de Mendonça em 1880. Uma mulher mítica idealizada e reverenciada pela comunidade negra por sua trajetória, representada pela memória histórica de uma quituteira, ex-escrava de ganho[1], símbolo de resistência negra e herança cultural para população afrodescendente.
Luiza Mahin era quituteira nas ruas de Salvador, seu oficio também lhe permitiu atuar como um ponto de comunicação e articulação entre os escravos e não escravos revolucionários, que aparentemente compravam seus quitutes, e trocavam bilhetes com recados acerca da organização da Revolta dos Malês.
Utilizou suas habilidades com a leitura e escrita em conjunto com sua posição de quituteira, que lhe permitia o privilégio de circular pelas ruas livremente e se comunicar com várias pessoas, para servir a seu povo orquestrando o levante contra o regime escravista.
Nossa heroína foi uma líder, atuando como articuladora que tornou possível a comunicação entre os grupos de revolucionários negros, reunindo mais de seiscentos negros e negras revolucionários rebelados naquele dia. Em 1937 partiu da Bahia para o Rio de Janeiro e não foi mais encontrada. Segundo alguns historiadores, ela foi deportada para a África, como pena por sua participação na revolta.
Sua coragem e senso de justiça nos inspiraram a fazer este blog, que irá retratar questões relativas ao ideário de igualdade, principalmente racial, mas não somente, apontando e denunciando os casos desarmoniosos que queremos que sejam extintos de nossa sociedade.
Salve Luiza Mahin!
[1] O escravo de ganho foi uma figura marcante do Brasil Colonial, comum nas área urbanas nos anos de 1800. Esses escravos tinham o direito de vender produtos e prestar alguns serviços remunerados. Vendiam doces, flores, cuidavam de alguns comércios e faziam o transporte de pessoas, e serviços de pedreiros e carpinteiros, parte da remuneração ficava com o escravo e a outra parte (maior) com seu senhor, muitos escravos usavam o dinheiro ganho com estes trabalhos para comprar sua liberdade. Extraído de http://www.atlantos.com.br/artigos/escravos-de-ganho por Giancarlo Giacomelli (2016);