Traduzido pelo Instituto Mercado Popular por Fabio Motoki.
Atualmente, a esquerda latino-americana encontra-se em uma posição desfavorável, mas em breve poderá ganhar terreno novamente. Se isso ocorrer, possivelmente sua agenda política será mais moderada, a fim de evitar instabilidades e caos econômico e político.
No último ano, duas líderes esquerdistas deixaram o poder no continente – Cristina Kirchner na Argentina e Dilma Rousseff no Brasil. Tais fatos e suas implicações na orientação política da América Latina têm sido amplamente cobertas e debatidas pela grande mídia internacional, indo do Washington Post ao LA Times.
Se compararmos a situação vigente àquela de 1998 a 2009, quando a esquerda conquistou o poder em diversos países da região, o contraste forte se torna evidente. Na época, o sucesso de tais grupos foi chamado de “marea rosa” – o que denominamos de “guinada à esquerda” ou “onda vermelha” no Brasil – .
Porém, apesar da reviravolta no atual cenário político latino-americano, é pouco provável que a esquerda se mantenha longe do poder permanentemente. Na Argentina e no Brasil, por exemplo, os sucessores de ambas as ex-presidentes não possuem mandatos fortes, e provavelmente deixarão a presidência em breve.
Na Argentina, o homem de negócios – transformado em político -, Maurício Macri, está se esforçando ao máximo para implementar um ajuste fiscal. Entretanto, não está claro se isso trará um impacto duradouro. Além disso, apesar de ter chegado ao poder por meio do voto, suas medidas de austeridade estão prejudicando o argentino médio, levando a um apoio decrescente. Macri tem enfrentado bloqueios em todas as direções – protestos, sindicatos e até mesmo ordens judiciais proibindo cortes. Ele é um mártir de sua causa e sua reeleição em 2020 é pouco provável. Quando o presidente deixar o cargo, que destino tomarão suas reformas? Há uma forte possibilidade que sejam rejeitadas – presumindo que ele ainda consiga continuar seu programa de mudanças no tempo que lhe resta como presidente.
Já no Brasil, quem substituiu Dilma foi o já político Michel Temer. Apesar de ele também defender um ajuste fiscal, ele provavelmente só buscará reformas de longo prazo. Ele pertence ao PMDB, cujo objetivo central se resume à sobrevivência política. Temer não promoverá medidas de austeridade imediatas, já que possuem o risco de alimentar uma reação pública indesejada. Ao invés disso, ele está propondo um ajuste que iria estabilizar a dívida pública ao longo de 10 anos, e com efeitos que só seriam sentidos no médio prazo. Diferentemente de Macri, Temer não foi eleito diretamente para o cargo de presidente da república e ficará no poder apenas até 2018. Ou seja, mesmo que ele quisesse perseguir uma forte agenda pró-mercado, falta a ele um mandato popular.
A realidade é que tanto na Argentina quanto no Brasil há uma grande chance de a esquerda retomar o poder quando os seus respectivos presidentes terminarem os seus mandatos. No entanto, para o bem dessas nações, essa nova esquerda deve evitar repetir as políticas desastrosas do passado.
Dilma e Cristina quebraram as economias de seus países como consequência de gastos exacerbados e medidas protecionistas. No Brasil, Dilma escondeu um déficit crescente enquanto ampliava despesas fiscais. Na Argentina, – sua correligionária – Cristina Kirchner impôs controles cambiais, restrição ao comércio e implementou programas sociais insustentáveis, ao mesmo tempo em que esvaziava as reservas internacionais do país.
Essas políticas prejudicaram os bolsos e vidas das pessoas. Embora não tão severamente quanto na Venezuela – onde o esquerdismo desenfreado assolou completamente o país -, na Argentina e no Brasil os resultados também são preocupantes: inflação, desemprego e escassez de alguns produtos. É em função desse cenário que a “onda vermelha” está em retrocesso.
A nova geração da esquerda precisa de uma nova abordagem e tirar lições do movimento “New Labour” pode ser uma boa ideia. Depois da era Thatcher, o Partido Trabalhista britânico adotou a concepção de mercado e livre-comércio, mas com um toque de justiça social. Adaptar o mantra da esquerda irá beneficiar a própria carreira política deles – seria difícil obter sucesso eleitoral estando associado a tais catástrofes – e também irá ajudar seus países a serem mais prósperos e estáveis. Para que isso dê certo, é necessário dividir a estratégia em duas partes: gastos prudentes e laços abertos com a economia global.
Em relação à prudência nos gastos, a esquerda ainda pode advogar pela igualdade social, mas deve fazê-lo de forma mais pragmática – finanças instáveis e subsídios generalizados não são uma boa combinação. Em suma, quando programas de bem-estar social forem implementados, devem ser feitos e pensados para serem suportados pelas finanças do governo. Ao invés de subsidiar tarifas de energia para os ricos no Rio e em Buenos Aires, os políticos da esquerda devem focar nos pobres, evitando a expansão desenfreada de “incentivos” – que mais cedo ou mais tarde devem ser removidos, o que normalmente é uma tarefa árdua a fazer.
Uma maior abertura ao comércio internacional também é necessária. Independente da orientação política, nenhuma pessoa gosta de ficar privada dos bens que desejam – inclusive os comunistas. A nova esquerda deve encontrar uma saída para adotar o comércio sem comprometer sua paixão pela soberania nacional. Algumas limitações ao comércio devem persistir, claro – todos os países são protecionistas em algum nível -, mas tais medidas devem possuir uma interferência mínima.
Se a nova esquerda conseguir se redefinir nestes moldes quando voltar ao poder, então ela terá governos sustentáveis. O importante a frisar é que uma esquerda moderada trará inúmeros benefícios aos seus países, já que não haverá mais estouros de bolhas econômicas quando programas sociais insustentáveis fracassarem. Também, não haverá mais escassez de produtos em decorrência de barreiras comerciais desnecessárias.
Outro benefício que uma esquerda moderada trará será provocar menos extremismo na direita. Curiosamente, a América Latina tem um histórico de oscilar violentamente de uma ponta do espectro político para a outra, o que provoca incertezas e deprime a economia, agravando a desigualdade social, a violência e levando ao enfraquecimento do estado de direito. A Colômbia, por exemplo – que acabou de falhar na ratificação de seu acordo de paz com as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) após mais de meio século de conflito -, é um estudo de caso perfeito. A nova esquerda deve buscar percorrer um caminho mais moderado em seu próximo mandato.
É evidente que a esquerda latino-americana ainda não morreu e que há chances reais da sua retomada de poder nos países da região. Se isso acontecer, ela deve usar a oportunidade para beneficiar a si de um modo que também beneficie a seus países.