Depois das bolsas de Xangai e Shenzhen caírem mais de 30% nos últimos dias, o mundo passou a olhar menos para a crise grega e mais para o que está acontecendo na China. Muitos analistas já falam em estouro de uma bolha imobiliária, enquanto outros dizem que a queda não passa apenas de uma correção temporária dos preços.
O governo chinês já tomou providências para evitar a continuidade da queda, aprovando em tempo recorde uma nova regulação que impede grandes investidores de venderem ações pelos próximos seis meses. Além disso, o Banco Popular da China, equivalente chinês ao nosso Banco Central, já injetou bilhões de dólares no mercado para apagar o incêndio.
Mas o que está acontecendo com a China e por que uma possível desaceleração da economia do país pode afetar o mundo?
Após a Crise de 2008, o Banco Popular da China reduziu a taxa de juros do país e o governo aumentou seus gastos, com o objetivo de fazer com que o PIB voltasse a crescer. A receita deu certo, fazendo com que a taxa de crescimento voltasse ao patamar de dois dígitos.
O problema é que, com taxas de juros baixas, investimentos de longo prazo se tornam mais atrativos e com cada vez mais chineses saindo do campo para viver nas cidades, o mercado imobiliário do país passou a crescer rapidamente. Entretanto, o crescimento da oferta de imóveis não acompanhou a demanda pelos mesmos, fazendo com que surgissem cidades fantasma.
Os chineses, assim como outros povos da Ásia, poupam boa parte da sua renda. Segundo dados do Banco Mundial, a poupança doméstica como proporção do PIB da China é maior que 50%. Muito disso se deve ao fato de que naquele país os programas assistencialistas são recentes, o que leva os chineses a pouparem mais que os brasileiros, por exemplo.
Isso ajuda a explicar o perfil dos investidores do mercado de capitais chinês. Há cerca de 90 milhões de pequenos investidores, o que faz com que eles componham 80% do total investido no país. Esse número cresceu após 2010, quando o governo flexibilizou as regras para que os indivíduos ingressassem no mercado financeiro nacional.
Portanto, por mais que o governo do país se utilize de medidas para estimular o consumo e o investimento, estas acabarão por esbarrar no hábito de poupar dos chineses, o que ajuda a explicar também a sua recente desaceleração econômica.
Dado que muitos chineses aplicaram boa parte de sua renda no mercado financeiro, uma forte queda nas bolsas do país pode fazer com que esse capital poupado perca valor. Dependendo do tamanho dessa desvalorização, o investimento e o consumo do país podem ser profundamente afetados.
Como a China é um grande importador de commodities, como soja, minério de ferro e petróleo, países que exportam tais produtos podem acabar sendo afetados pela queda da demanda interna daquele país. O Brasil poderá ser afetado por conta desse evento.
Segundo o Observatory of Economic Complexity, as exportações brasileiras são compostas de 13% de minério de ferro, 8,4% de petróleo bruto e 7% de soja e outros produtos. 17% de tudo que é exportado vai para a China, o que faz com que as exportações do país sejam sensíveis a variações das importações do país asiático.
Portanto, por mais que tal queda evidencie um estouro de uma bolha imobiliária, ou apenas uma correção no mercado acionário, a forte queda da taxa de juros no país após a Crise de 2008, bem como o aumento dos gastos do governo, contribuiu para a sobrevalorização dos ativos financeiros.
O mercado, por sua vez, está corrigindo esse erro através da venda desses ativos. Esse movimento pode se aprofundar e infectar outros setores da economia chinesa se o Banco Central subir a taxa de juros, fazendo com que o mercado observe que empreendimentos de longo prazo não são mais vantajosos, aprofundando a delicada situação que o país se encontra.