por Rachel Burger

Quando eu converso com meus amigos liberais, uma boa parte deles rejeita a ideia de abraçar o feminismo. Isso acontece porque, quando liberais pensam sobre feminismo, a primeira coisa que vem à cabeça deles é o estereótipo do feminismo intervencionista com um quê de socialista. Contudo, existe um tipo distinto de feminismo que os liberais precisam conhecer: o feminismo liberal.

A bem da verdade, feminismo é um termo que foi utilizado ao longo dos séculos para denominar movimentos sociais tão distintos quanto “eco-feminismo”, “nego-feminismo” e “feminismo pós-estrutural”. Os significados de “feminismo” parecem ser tão diversos que, sem uma definição de uma facção específica, “feminismo” pode significar praticamente qualquer coisa – ou seja, o termo acaba por não significar muita coisa. Nesse texto, você vai conhecer um pouco da história do feminismo e entender onde o feminismo liberal se encaixa nela.

Uma breve introdução ao Feminismo

O feminismo pode ser divido em três ondas.

O principal objetivo da primeira onda era a correção de desigualdades legais que existiam entre homens e mulheres – sendo a mais importante de suas lutas a legalização do voto feminino. Esse movimento se popularizou nos EUA e na Inglaterra entre o fim do século XIX e o início do século XX e depois se espalhou para outros países. Entre as militantes mais famosas da primeira onda do feminismo estão Elizabeth Cady Stanton e Virginia Woolf.

Posteriormente, a segunda onda do feminismo surgiu nos EUA no início dos anos 1960 e durou até os anos 1980. Até hoje muitos dos conceitos trazidos à tona por essa onda ainda permanecem em voga. A segunda onda do feminismo ainda domina a visão estereotipada das feministas. Enquanto a primeira onda se focou essencialmente na igualdade de direitos legais, a segunda onda se expandiu para temas como direitos reprodutivos, estupro e relações de gênero na família, no trabalho e na cultura de massa. As feministas da segunda onda em geral afirmam que o governo deve corrigir as injustiças sociais que levam à opressão feminina. Entre as feministas de segunda onda, são referência Margaret Atwood, Gloria Steinem e Angela Davis.

Houve muitas críticas à segunda onda do feminismo, porque sua corrente dominante trabalhava com um tipo ideal pré-determinado que normatizava o que significava ser uma mulher. De forma completamente distinta, a terceira onda do feminismo passou a adotar uma concepção de gênero que não se encaixa no binarismo masculino/feminino, compreendendo que esses binarismos existem também para reforçar as relações de poder existentes na sociedade. Na terceira onda, o termo “feminismo” já não significava uma receita prescritiva de como as mudanças sociais deveriam ocorrer. As feministas da terceira onda utilizam-se de uma miríade de estratégias de mudança social – e não somente as mudanças através do governo. Exatamente por essa razão, muitas vezes critica-se o feminismo de terceira onda afirmando-se que este não tem objetivos concretos. Isso, porque, comparado com suas antecessoras, as feministas de terceira onda – que incluem Sandra Oh, Amanda Palmer e Jean Kilbourne – se envolvem menos com política partidária.

Feminismo liberal

Em diversos aspectos, o feminismo liberal é bem similar à terceira onda do feminismo. Como as liberais enxergam as pessoas como indivíduos, as feministas liberais estão sujeitas às mesmas críticas que as da terceira onda: elas parecem carecer de um objetivo político explícito. Elas não advogam em favor de políticas públicas específicas. Elas não o fazem não somente porque elas entendem que o governo não é a solução para a desigualdade de gênero, mas também porque elas reconhecem que não podem saber o que cada mulher, individualmente, entende como é melhor para si.

Mas o feminismo liberal tem sim um objetivo – ainda que seja um objetivo mais excêntrico, em comparação às outras vertentes. Uma das premissas do feminismo liberal é que o governo tem uma longa história de opressão contra as mulheres e que a luta feminista deve se concentrar em limitar a intervenção do governo na vida das mulheres. O objetivo do feminismo liberal é incrementar a liberdade feminina ao reduzir ou eliminar o estado.

Feministas liberais argumentam que, quanto as questões de controle de natalidade, educação e definição do conceito de família, arranjos cooperativos e voluntaristas alcançam resultados melhores que a ação estatal. O mesmo também é válido para questões estruturais como slut-shaming e discriminação no mercado de trabalho.

Elas dizem que, ao focarmos em modelos não-coercitivos, provocaremos uma mudança social profunda e de mais amplo alcance. Isto, pois esses modelos conseguem se adaptar organicamente às necessidades cambiantes da sociedade, através de uma dinâmica de ordem espontânea. Como elas entendem que a violência político-estatal prejudica a mudança social necessária, muitas feministas liberais afirmam que o envolvimento do governo acaba por aumentar e reforçar as injustiças existentes.

Algumas das mais notórias liberais feministas são Sharon Presley, a presidente da Associação de Feministas Liberais, Joan Kennedy Taylor, que enfatiza a importância de identidades coletivas e associações voluntárias em sociedades livres, e Deborah Siegel, uma autora que afirma que “o feminismo já não deve se focar em soluções comunais para problemas comunais, mas sim em soluções individuais para problemas individuais”.

O feminismo liberal não é tão diferente do liberalismo em si. Ele promove e bem estar dos indivíduos e a luta pela limitação dos poderes coercitivos do estado. Os objetivos das feministas liberais são nobres. E é chegado o tempo dos liberais encamparem a luta feminista, abraçando as feministas liberais no seio de nosso movimento.

* Publicado originalmente no Thoughts on Liberty. Traduzido por Carlos Góes.

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