Existem alguns temas em ciência cujo consenso é claro e cujos argumentos contrários normalmente se baseiam em pseudofatos e narrativas. Dois deles são a segurança das vacinas e dos transgênicos.
Apesar de todo clamor dos movimentos antivacina nos EUA e na Europa, não há nenhuma base científica para se duvidar que vacinas são seguras, eficientes e uma das maiores conquistas da humanidade ao longo do século XX. Sem elas, provavelmente, as expectativas de vida ao nascer ao redor do globo ainda estariam na casa dos 40 a 50 anos — e talvez fossem ainda mais baixas por conta da facilidade de transmissão de doenças infecto-contagiosas em ambientes urbanos quando comparados a zonas rurais.
Nessa mesma linha, temos as discussões sobre a segurança dos transgênicos — ou organismos modificados geneticamente. Por milênios a natureza sozinha e aleatoriamente fez o processo de modificação genética de materiais em que apenas o mais apto permanece — a teoria da evolução se baseia nesse princípio. Isso se dá com a adaptação de espécies animais e vegetais a ambientes inóspitos, resultando na sobrevivência de apenas algumas espécies. Posteriormente, o ser humano começou a desenvolver esse processo e assim surgiram as várias raças de cães e gatos, o gado, os porcos, as galinhas e outros tantos animais domésticos e de convívio com o ser humano que vemos hoje. A grande diferença é que a partir do século XX, com o avanço da ciência, o ser humano aprendeu a controlar parte desse processo de alteração genética e promover modificações a fim de obter alimentos mais nutritivos, mais fáceis de se cultivar, e mais baratos de se produzir.
Os transgênicos, juntamente a alguns fertilizantes e técnicas de irrigação, são responsáveis por alimentar bilhões de pessoas e animais todo dia, assim como permitir que as áreas de cultivo vegetal sejam reduzidas — minimizando significativamente o impacto humano sobre o meio ambiente — num processo chamado revolução verde. Essa revolução foi co-responsável, juntamente com a liberalização de mercados ao redor do mundo, por retirar bilhões de pessoas da pobreza e da desnutrição desde 1950. Só isso já seria algo significativo para dar bases ao discurso favorável aos transgênicos, mas os benefícios vão além. Graças a vegetais mais resistentes a pragas, foi possível diminuir significantemente o uso de agrotóxicos que serviam para matar as pragas afetando a lavoura — ou substitui-los por químicos menos tóxicos e de mais rápida decomposição — , consequentemente reduzindo a contaminação de alimentos, lençóis freáticos e vegetação nativa.
Além disso, devido a sua maior eficiência produtiva, os transgênicos tornam sistemas como agricultura familiar sustentáveis, permitindo que várias pessoas — se quiserem — consigam subsistir no campo sem depender de transferências de renda forçadas pelo governo. Isso já conseguiria melhorar significativamente a condição de vida de diversos micro e pequenos produtores rurais no Brasil, na África e no subcontinente indiano — sendo totalmente contrário ao que grupos como o MST e a Via Campesina “pregam”.
Entretanto, alguns ativistas dizem que é necessário seguir o princípio da prudência e manter os rótulos com indicativos de modificações genéticas. Todavia, eles desconsideram toda a gama de evidências favoráveis aos transgênicos. Não há algo em tecnologia biológica mais profundamente estudado e avaliado do que o uso de modificações genéticas para melhoria da agricultura e pecuária. O que os grupos que advogam por pseudociência buscam como resultado é que companhias que usem modificações genéticas em seus alimentos percam consumidores devido ao medo a ser gerado com publicidade negativa .
Ressalto, não há nenhuma evidência científica contrária a alimentos geneticamente modificados. Mas há sim evidências científicas de que falta de nutrientes e excesso de pesticidas fazem muito mal, e os transgênicos ajudam a resolver esses dois problemas.
Ao tornar alimentos mais baratos devido a aumento de produtividade e redução de custos por hectare cultivado, os transgênicos permitem que pessoas mais pobres tenham acesso a alimentação mais nutritiva e mais natural, pois não precisam depender apenas de comida industrializada. Os transgênicos possibilitam que alimentos sejam cultivados em lugares remotos, permitindo que populações isoladas tenham acesso a novas e mais variadas formas de alimentação. Eles permitem que menos água seja usada na agricultura e pecuária, disponibilizando água potável para uso doméstico e mesmo para fins ambientais. Além disso, ao reduzir a área cultivada para plantio e o uso de pesticidas, eles reduzem significativamente o impacto ambiental da atividade agrícola. Então, se você é favorável a melhor alimentação para todos, preços mais baratos especialmente para os mais pobres e menos impacto ambiental da atividade agrícola, você deve ser favorável aos transgênicos.
Se você prefere alimentos orgânicos por achá-los mais gostosos, por acreditar que vale a pena incentivar os produtores locais ou por qualquer outro motivo, sem problemas. Mas se vamos fazer políticas públicas, que façamos com evidência científica. Nesse sentido, transgênicos e vacinas fazem muito bem. Ir contra eles é advogar por manutenção das condições sofridas dos mais pobres e por mais dificuldades para se construir uma vida mais digna e um mundo mais próspero. O que faz mal e mantém a fome nessa história toda não são os transgênicos, mas sim o governo e suas regulamentações.