Por Felippe Brandão
O primeiro debate do segundo turno das eleições presidenciais da última terça (14/10) demonstrou, ao menos para o telespectador mais atento, que as ideias da candidata petista vão ao encontro das ideias do candidato tucano, e vice-versa. O jogo eleitoral só demonstra como ambos os partidos possuem filosofias e ambições muito próximas, e por fim, observa-se que não há diferenças gritantes de ideias e provavelmente não haverá medidas radicais ou inovadoras em nenhum dos lados. A política presidencial brasileira tende ao centro, como tende a busca por se manter no poder.
O modelo do debate apresentado é ruim, quero dizer, é péssimo: quando as perguntas são formuladas pelos próprios candidatos, excluem-se da discussão os interesses da população, reduzindo o debate democrático aos interesses dos dois partidos em questão. Não surpreende que ambos apresentaram perguntas pouco construtivas e elucidativas, como também não surpreende a fuga aos temas levantados por meio tanto de ataques, quanto de propaganda. Quanto ao conteúdo, fica clara a ausência de propostas concretas para a resolução dos três principais pontos levantados: a saúde, a educação e a segurança pública. Enquanto isso, sobram “elogios”, referências a outros governos, cinismo e ataques descontrolados de ambas as partes, fatores que não acrescentam ao eleitor que pretende estabelecer diferenciações entre os candidatos para escolher em quem votar.
No que tange à saúde, as propostas mantêm-se na defesa de “avanços” por meio de medidas estatais para a geração de empregos no setor, o que por si só, não soluciona nada. É importante lembrar que o Sistema Único de Saúde é um modelo de centralização de decisões e alocação de recursos que se demonstra falido há anos, e dificilmente poderá erguer-se, considerando a dificuldade de manter uma administração centralizada para necessidades urgentes e dinâmicas de melhorias em âmbito nacional. É inviável controlar um sistema tão grande, e improvável que os recursos investidos tenham o melhor retorno à população, considerando a extensa teia pela qual os investimentos são distribuídos. Propostas para a renovação do SUS, para a desregulamentação do sistema privado, ou para a criação de novos modelos mistos (como vouchers) não foram apresentadas. Enquanto isso, a população sofre à custa da ambição estatal pelo controle do setor.
No segundo ponto, o da educação, é impressionante a falta de soluções para o falido modelo propagado no Brasil. Possibilidades para a flexibilização do ensino, ou para a reestruturação do MEC nem sequer foram opções próximas do debate. A resolução do problema da educação, para os presidenciáveis, é conseguir levar o máximo de alunos à escola, e levar o máximo de escolas à população. Isso depende de gastos altíssimos e uma capacidade de administração que o Brasil infelizmente não tem (e dificilmente pode ter, dadas as suas proporções). Medidas modernizadoras que poderiam acrescentar ao esquema professor-aluno não aparecem em momento algum. Tem-se somente um festival de números e dados governamentais. Apresentação de medidas concretas? Hmm… não.
Então, chegamos aos argumentos quanto à segurança pública. Talvez este foi o ponto que mais me surpreendeu: em 4 tomadas de debate, ficou clara, pelo menos para mim, a imagem de que a construção de um sistema policial forte de alcance nacional é a resposta para a violência e insegurança. Os candidatos parecem não reconhecer que as bandeiras da legalização das drogas, da desmilitarização da PM, do enxugamento do Código Penal para possibilitar uma reforma do sistema carcerário (para que se possa efetivamente reeducar, ao invés de punir), dentre outras, são potencialmente mais interessantes para a resolução da violência do que a manutenção da coerção estatal sobre a população. Propostas essas que são defendidas por membros de ambos os partidos! Mas nem Dilma, nem Aécio parecem conhecê-las… “ideia de militante”, talvez pensem…
Além disso, alguns posicionamentos a respeito da economia parecem passar despercebidos pelos ouvidos de quem defende um candidato ou o outro: a presidenta levou à discussão o fato de que 75% das mil maiores empresas brasileiras recebem (e muito) dinheiro do BNDES, como se a redistribuição de renda da população para grandes empreiteiros fosse algo a se orgulhar. Ela inclusive reafirmou, mais tarde, a ideia de auxílio às grandes empresas de engenharia com a renda da população como um benefício para o país. Mas tão deprimente quanto, é o candidato dito “liberal” pela parte contrária, não ter apresentado, além de uma desengonçada defesa de “meritocracia” dentro do sistema público (vai entender, né), nenhuma proposta que estimule a concorrência, ou que ao menos garanta mais liberdade. Nada de redução da carga tributária, nem de abertura econômica, nem mesmo extinção de instituições causadoras de desigualdade, como o próprio BNDES (ou subsídios agrícolas para gigantes do ramo).
Por fim, fiquei triste ao perceber que tudo que os dois candidatos parecem entender de medidas sociais resume-se a um programa de redistribuição de renda. Direitos LGBT, garantias às liberdades individuais e à pluralidade de pensamento, a questão do aborto, como outras pautas importantíssimas não foram trazidas à tona. Concluí que, apesar de uma se vestir de vermelho, e o outro de azul, isso não os difere nas ideias e nas medidas a serem adotadas futuramente. Dilma e Aécio bem que poderiam ser do mesmo partido.