N. do Editor: Paul Krugman é economista, ganhador do prêmio Nobel, e muito conhecido por ser de esquerda nos Estados Unidos. Essa esquerda tem como principal mote a expansão da redistribuição de renda com objetivo de diminuir a desigualdade de renda, e uma política macroeconômica ativista (keynesiana), que usa a política monetária (Banco Central) e fiscal (Tesouro Nacional/Fazenda) para suavizar o ciclo econômico, prevenindo recessões e diminuindo o desemprego (cujo combate Krugman considera prioritário ao da inflação).
Isso não o impede de defender, em seu livro “Introdução à Economia”, em coautoria com Robin Wells, que o banco central precisa ser independente de pressões políticas para que seja evitado o ciclo econômico da política, portanto, ressalta as vantagens do banco central independente. Seguem abaixo dois trechos do livro onde Krugman claramente defende o banco central independente, mesmo sendo de uma esquerda favorável ao intervencionismo do Estado na economia.
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O ciclo econômico da política
Por Paul Krugman
O último desafio à análise econômica keynesiana tem o foco não na validade de sua análise econômica, mas em suas consequências políticas. Numerosos economistas e cientistas políticos chamaram atenção para o fato de que a política macroeconômica ativista está sujeita à manipulação política.
Existe evidência estatística de que os resultados das eleições tendem a ser determinados pelo estado da economia nos meses logo antes da eleição. Nos Estados Unidos, quando a economia está crescendo rapidamente e a taxa de desemprego está caindo nos seis meses mais ou menos antes da eleição, o partido no poder tende a ser reeleito, mesmo se a economia teve desempenho pobre nos três anos precedentes.
Isso cria uma tentação óbvia de abusar da política macroeconômica ativista: jogue moeda e gasto público em uma economia em um ano eleitoral e pague o preço de maior inflação e mais desemprego mais tarde. O resultado pode ser uma instabilidade desnecessária na economia, um ciclo econômico da política causado pelo uso da política macroeconômica para servir a fins políticos.
Um exemplo bastante citado é a combinação de política fiscal e monetária expansionista que levou ao rápido crescimento da economia americana logo antes da eleição de 1972 e a uma rápida aceleração da inflação depois das eleições. Kenneth Rogoff, um respeitado macroeconomista que serviu como economista-chefe do Fundo Monetário Internacional , proclamou Richard Nixon, presidente dos Estados Unidos da época, “o maior herói de todos os tempos dos ciclos econômicos políticos”.
Como vimos no Capítulo 30, uma maneira de evitar o ciclo econômico político é colocar a política monetária nas mãos de um banco central independente, protegido da pressão política. O ciclo econômico político é também uma razão para excluir o uso de política fiscal discricionária, exceto em circunstâncias extremas.
A política monetária deve ser usada de forma discricionária?
Por Paul Krugman
A macroeconomia clássica não achava que a política monetária deveria ser usada para combater recessões; os economistas keynesianos não se opuseram a uma política monetária discricionária, mas eram céticos quanto à sua eficácia. Os monetaristas argumentaram que a política econômica discricionária causava mais prejuízo do que benefício. E onde nos encontramos hoje? Essa permanece uma área em disputa.
Hoje existe amplo consenso entre os macroeconomistas sobre os seguintes pontos:
Existe, contudo, debate sobre como o banco central deve estabelecer sua política. O banco central deve ter uma meta simples e claramente definida para suas políticas ou deve ter liberdade para administrar a economia como julgar adequado? Se o banco central deve ter uma meta, qual deverá ser? O banco central deve considerar a administração do preço dos ativos, como os preços das ações, parte de suas responsabilidades? E que medidas deve tomar o banco central quando as taxas de juro atingiram a fronteira zero e a política monetária convencional atingiu seu limite?
Referência: KRUGMAN, Paul; WELLS, Robin. Introdução à Economia. Tradução: Helga Hoffmann. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. P. 776 (primeiro excerto) e 781-782 (segundo excerto).