Por Rodrigo Viana
Recentemente o país viu um episódio um tanto desconcertante. O cenário era a cidade do Rio de Janeiro sendo dividida entre o poder público de um lado e os manifestantes do outro. O governo local planejava interditar um estacionamento alegando possuir um alvará irregular. Por outro lado, havia um grupo de pessoas contrário a tal ação política e reivindicando certos direitos que não estavam sendo respeitados.
O caso é que o grupo que protestava reivindicava a posse do local como sendo de propriedade dos guardadores de carro que ali trabalhavam e, segundo um dos guardadores, que alguns até moravam. Sendo que o direito dessa posse não estava sendo respeitado.
Conforme o clima foi esquentando, houve certos confrontos e o governo local tratou de utilizar a força estatal para garantir que tudo ocorresse sem grandes preocupações.
Porém o que se viu, registrado por câmeras de TV, foi um dos guardadores agredindo o secretário de Ordem Pública da cidade. O agressor foi preso em flagrante.
O agressor, solto momentos depois, fez um vídeo esclarecendo o motivo de tal atitude e dando o seu depoimento sobre o acontecido.
Segundo o guardador, o motivo da interdição seria uma ação conjunta entre o poder público e o poder corporativo para a construção de um shopping center. No final, o guardador faz um desabafo de como o poder estatal age, junto com seus aliados, contra os menos favorecidos.
Sem entrar em maiores detalhes, as denúncias feitas pelo guardador de carro faz-nos lembrar do quão perigoso é o poder concentrado. E não estou falando somente do poder estatal.
Não é de hoje que anarquistas, tanto socialistas quando individualistas, vem alertando em como o poder corporativo pode ser danoso para a saúde da sociedade. Em muitos casos, pode ser até pior que o poder estatal. Num ambiente como o nosso, onde quem dá as cartas são aqueles que fazem e que oficializam as leis, nada mais intuitivo que indivíduos ou grupos com poder se aproximem dos legisladores para criar e manter privilégios.
Historicamente, as corporações sempre foram grandes inimigas da liberdade. Desde o início da era moderna a população mais carente sofreu diante do poder econômico. E isso é visível quando se analisa os fatos históricos. Afinal, o que é o sistema vigente senão uma vasta estrutura de manutenção de privilégios para uma pequena elite? O capitalismo atual, vigente é nada mais que a versão modernizada do antigo mercantilismo/ feudalismo.
As grandes empresas sempre usufruíram das estruturas estatais para manter seus impérios sempre no topo às custas da maioria desprovida. Seja por políticas a favor da “propriedade” intelectual ou por subsídios para alimentar toda a infra-estrutura logística, empréstimos bancários, estímulos monetários e protecionismos diversos.
Diante de tais acontecimentos, parece claro o quão perigoso é defender certas instituições pelo simples fato delas não serem estatais. O corporativismo atual está tão entrelaçado entre o estado e o poder econômico, que uma mera distinção entre os dois lados soa impossível de se fazer. Até porque a maior parte das corporações não passam de um braço do estado fora dos âmbitos oficiais e burocráticos.
Aquela idéia de que grandes empresas são como “minorias perseguidas” não passa de fantasia dos romances de Ayn Rand. O mundo real é muito mais profundo e obscuro que isso.
Não basta defender a liberdade econômica dando mais combustível para aqueles que nunca deram valor à ela. Quando não, lutaram contra. A luta pela liberdade deve partir para a defesa daqueles que sempre estiveram à margem desse círculo vicioso: o povo.
Rodrigo Viana é programador de software e blogueiro. Em seus interesses incluem disciplinas como história, sociologia, economia e filosofia política. Já colaborou escrevendo para outros blogs políticos e atualmente colabora no Portal Libertarianismo, além de manter os blogs A Esquerda Libertária e Libversiva!. Quando não está falando sobre política, provavelmente está falando de música ou algum assunto relacionado a cultura pop. Seu twitter é @VDigo.