O Produto Interno Bruto (PIB) é a soma do valor de mercado dos bens e serviços produzidos numa determinada região. Em geral, estamos muito preocupados com o crescimento o PIB, seja o do trimestre, ou o do ano. Faz sentido. Se um país aumenta sua produção de um ano para o outro, seus habitantes terão mais bens e serviços disponíveis, além de maior renda. No entanto existem problemas com essa medida.

A fórmula Y = C + I + G + (X – M) é uma das primeiras que o estudante de economia aprende. Y é a produção total, isto é, o PIB. Ele é a soma do consumo das famílias (C), de todo o investimento (I), dos gastos do governo (G), e do saldo da balança comercial, isto é, exportações (X) menos importações (I).

O PIB é uma medida incompleta, e isso não é nenhuma novidade: existem muitos outros índices que tentam trazer mais informações para a análise econômica.

Ainda na macroeconomia tradicional, inflação e desemprego são dois índices importantes. Mais recentemente, índices como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) tem sido utilizados. O IDH leva em conta indicadores de educação e saúde. O índice de Gini, que mede desigualdade, também é comum.

Todos esses indicadores trazem informações complementares, sobre objetivos distintos da sociedade. Infelizmente, o problema do PIB não é apenas ser um incompleto, mas ele pode passar uma ideia errada ou até mesmo oposta à realidade, como argumentava o economista austríaco F.A. Hayek.

Dois exemplos ilustram bem:

  1. Imagine que o Brasil gaste USD 100 bilhões investindo em obras num determinado ano. Nesse caso, os USD 100 bilhões entrariam como investimento (I) na equação, aumentando o produto final (Y). Não haverá diferença no resultado final do PIB se esse investimento for todo na melhoria da infraestrutura, produção e distribuição de energia, aumento da capacidade de portos e aeroportos, ou se for todo gasto construindo estádios de futebol faraônicos em todas as grandes cidades. O resultado para o PIB é o mesmo, para o bem estar, não.
  2. Imagine que um furacão, como o Harvey, passe por uma grande cidade, como Houston, no Texas. O prejuízo devido à destruição de casas, empresas, carros, estradas, etc, são enormes. Entretanto, como o PIB é uma medida de fluxo (como a sua renda anual) e não de estoque (como seu patrimônio total), a destruição causa um impacto imediato pequeno no PIB. O impacto realmente relevante se dá de maneira secundária, quando, após o estrago, recursos são empregados na reconstrução. É necessário gastar uma quantidade considerável de recursos apenas para investir (I) na recuperação do estoque de moradias, empresas e estradas existentes antes dos danos. Tal investimento (I) irá aumentar o PIB do Texas e pode até mesmo diminuir a taxa de desemprego, mas não há como argumentar que a melhora dos indicadores macroeconômicos significam uma melhoria na qualidade de vida dos texanos.

A ilusão que aumento de gastos que elevem o PIB é o mesmo que aumento de bem-estar já fez até economistas importantes, como o vencedor do prêmio Nobel de economia, Paul Krugman, cometer uma gafe. Em 2011, durante uma entrevista para a CNN, Krugman defendeu que uma invasão alienígena poderia salvar a economia americana. A lógica era simples, uma invasão alienígena obrigaria o governo a elevar consideravelmente seus gastos. Tal aumento de despesas funcionaria como um estímulo fiscal. O ponto é que uma invasão ao estilo Independence Day poderia fazer com que todos os desempregados fossem empregados no exército para combater a invasão e, após a guerra, na reconstrução da cidade. Como no caso do furacão no Texas, o PIB poderia aumentar, o desemprego poderia cair e Krugman poderia dizer que o estímulo fiscal “funcionou”, mas, no fundo, o povo estaria apenas trabalhando para reconstruir o que perdeu.

Para ser claro, a medida tem falhas, mas PIB crescendo, em geral, é algo positivo, assim como PIB caindo, em geral, é algo negativo. Contudo o Brasil dos últimos anos ilustra bem como olhar apenas para ele pode ser enganador. O crescimento, especialmente no final do governo Lula e no início do governo Dilma, se deveu, em boa medida, a estímulos para o aumento do consumo (C) e do investimento (I) de forma insustentável e improdutiva.

Portanto, não podemos simplesmente achar que crescimento do PIB é um fim em si mesmo. Muitos dos que hoje vêm a público defender aumento de gastos públicos como “medidas para o crescimento” são os mesmos que receberam muitos subsídios e privilégios nos últimos anos e estão apenas querendo que os gastos estimulem a sua própria economia particular. O Brasil não pode ceder à pressão. Crescimento imediato não é tudo. Crescimento sustentável vem, primeiramente, com responsabilidade fiscal e reformas que permitam às empresas terem aumentos de produtividade. Gastar só para aumentar o PIB do trimestre é a receita do fracasso.

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