Desde a mudança no Exame Nacional do Ensino médio (ENEM) ocorrida em 2009, com a subsequente implementação do Sistema de Seleção Unificada (SISU), o processo de seleção de novos universitários para instituições de ensino superior públicas passou a constituir um sistema centralizado, com a autonomia de avaliação do ingressante passando da universidade para o governo.
Desse modo, passou a ser realizada uma prova de aplicação nacional para todos os alunos que, posteriormente, de posse de suas notas, podem aplicar para todas as universidades participantes, não importando sua origem. Assim, foi intensificada a situação em que um estudante migra de um estado para outro ou para outro lugar do seu estado para cursos o ensino superior. Longe de casa, surge também o questionamento sobre a possibilidade do aluno se manter financeiramente, ou seja, se há impactos em termos de evasão.
Um estudo realizado na Universidade de São Paulo pela pesquisadora Denise Li, buscou, utilizando dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), para ingressantes entre 2006 e 2014, medir os impactos da implementação do Novo ENEM e do SISU sobre a migrações interestadual (de um estado para outro) e intraestadual (dentro do mesmo estado) de estudantes, bem como sobre a evasão desses estudantes.
Como conclusão, foi identificado que o ingresso de um aluno em uma universidade que faz oferta vagas via SISU eleva sua probabilidade de ser um migrante interestadual em até 5,3% e reduz a sua probabilidade de ser um migrante intraestadual em até 3,95%. O efeito em sentidos opostos, para a autora, pode indicar que, após a implementação das políticas, alunos que antes buscavam o ingresso em instituições de outros municípios passaram a ter acesso mais facilmente a instituições de melhor qualidade em outros estados, optando por estas últimas, o que era esperado e se confirmou.
Já quando a evasão é avaliada, a adesão ao curso via SISU eleva a probabilidade de abandono do curso ainda no primeiro ano em 4,5%. O ingresso via SISU também mostrou estar correlacionado com uma probabilidade maior de mudança de instituição antes de finalizar o curso escolhido inicialmente. Assim, o sistema de auxílios financeiros mostram-se relevantes para manter o aluno em uma mesma instituição, mas não mesmo curso.
Outros recortes e análises foram feitas: mulheres possuem menor propensão a migração, evasão e mudança de instituição do que homens. Outra questão é que ter estudado a maior parte do ensino médio em escola pública reduz a probabilidade de migração interestadual e aumenta a migração intraestadual. Uma terceira conclusão do estudo foi que alunos negros e estudantes que recebem apoio financeiro possuem menor probabilidade de evasão no primeiro ano.
Com a implementação do novo ENEM e do SISU em 2009 e 2010, o sistema de seleção para novos ingressantes em instituições públicas de ensino superior foi centralizado e novos efeitos em migração e evasão estudantil foram observados. A nova institucionalidade elevou a probabilidade de migração estudantil entre estados e reduziu a probabilidade intraestadual. Além disso, verificado o aumento na evasão ainda no primeiro ano, as políticas de auxílio mostram-se relevantes na mitigação desse efeito.