por Roberto Xicó
[dropcaps]T[/dropcaps]em muita gente por aqui que parece não entender o real significado de se querer casar. Tem muita gente que acha que dar os “mesmos” direitos a casais homoafetivos chamando de “união estável” é mais do que o suficiente. E o pior, tem gente que acha que “forçar” o casamento entre pessoas do mesmo sexo é uma pauta esquerdopata-marxista-gramsciniana-lulo-petista. A verdade é que não há outra opção para um liberal além da defesa de um casamento complemente livre.
Mas o que é o casamento? Casamento é um ritual. Rituais são definidos antropologicamente como eventos que mudam o seu status social perante o resto da sociedade. Há inúmeros rituais que nos ajudam a entender e nos posicionar na sociedade em que vivemos. Um exemplo são as formatura na universidade. Todos os rituais seguem um padrão que permite a sua identificação: primeiramente você é isolado do resto da sociedade. Há o evento e, logo após, você é reinserido com um novo status. Você torna-se graduado, casado, etc. Casamento, como todos os outros rituais, são, também, ideias. A forma como são organizados esses rituais e os seus significados são construções sociais e mudam com o passar do tempo.
Ideias nascem, mudam e morrem através da ação humana em sociedade. Elas são consequência direta da relação entre indivíduos através, principalmente, da fala e troca de informações. De fato, pode se dizer que as ideias operam como bens em um mercado em que decorrem de “trocas” entre indivíduos. Por exemplo, é através da criatividade humana e nossa capacidade social de fala e troca de informações que geram reformulações sobre práticas consideradas tradicionais, como o retalho de gravatas para fins de um retorno financeiro que ajude a bancar uma parte dos custos da festa. Ideias, como bens, passam por intensos e extensos processos de inovação.
O desejo de diversos homoafetivos em todo o mundo é realizar o ritual. Isso, obviamente, vai muito além de possuir alguns direitos contratuais/legais que todo casal possui. O desejo maior de gays e lésbicas em todo mundo é o desejo do reconhecimento social causado pela realização do casamento. Vai muto além do reconhecimento por parte do Estado. É a busca de que os laços que estão fazendo com outra pessoa, uma pessoa que amam, seja reconhecido como algo importante em suas vidas pelo meio social que os rodeia.
Mas qual é o papel de um liberal diante de tudo isso? Devemos fazer o que nós somos famosos em fazer: brigar pela liberalização do mercado. Defender que o mercado de ideias seja o mais livre possível. Perceber que, como bens, as ideias operam melhor em um seio de liberdade em que é pleno, em que há inventividade e diálogo entre indivíduos.
Reconhecer como legítima a existência de uma lei que define o que é casamento engessa a natural evolução espontânea das ideias. Isso é, portanto, tão danoso à liberdade quanto impostos que engessam a evolução inovativa no mercado de bens. Os dois impendem, de maneiras distintas, a melhoria do bem estar de cada pessoa e a natural mudança na sociedade. Uma ideia livre é uma ideia que é possível acomodar o máximo de interpretações antagônicas. Somente essa liberdade vai garantir que no futuro a ideia de casamento entre homoafetivos e a ideia de casamento religioso entre um homem e uma mulher sejam igualmente aceitos e coexistindo.
Por fim e para que não se tenha dúvidas de que esse é um texto apoiado pelo marxismo cultural, uma citação de Marx:
A política não faz estranhos andarem de mãos dadas – o casamento faz. (Groucho Marx)
Roberto Xicó é cientista político que era marxista e se tornou liberal na universidade. Ele não sabe como. Só sabe que foi assim. Seus interesses são política, história, MPB e tecnobrega. Ele não vai falar de economia porque acha isso um saco.